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Universidade Federal de Goiás
Papo Musical

PAPO MUSICAL

Em 05/03/21 10:39. Atualizada em 05/04/21 15:20.

Martha Argerich: pianista toca com profundidade, emoção e risco, e encanta plateias no mundo

 
Gyovana Carneiro*
Martha Argerich (1941)

Uma lenda viva, a pianista de sorriso fácil é reclusa, temperamental e imprevisível. Toca um piano como poucos no planeta, é mesmo um gênio que não consegue deixar de falar em música e de viver intensamente as obras que executa.

Martha Argerich tem uma vida bem fora dos padrões ortodoxos. Propensa a cancelar apresentações, há tempos deixou de assinar contratos, tendo os organizadores de assumir o risco de um cancelamento de ultima hora.

Martha Argerich

Muitos músicos vivem uma vida de uma ordem monástica, se concentrando na disciplina da música. Diferentemente da maioria, Argerich, acorda por volta de duas da tarde e estuda pela madrugada a fora. A história da pianista argentina é também sobre alguém com dons fora do padrão tentando encontrar um jeito de viver uma vida casual.

Martha Argerich

A filha mais nova de Martha, Stéphanie Argerich (1975), no documentário “Meu Sangue” (2012), retrata a intimidade da mãe. Segundo Stéphanie, ser filha de Martha Argerich é “como ser filha de uma deusa (…) ela é metade humana, metade deusa”. A filha do meio, Annie Dudoit, conta às câmeras que frequentar a escola era, em seu lar, uma espécie de rebelião.  Stéphanie termina o documentário de forma surpreendente. Ela pergunta à mãe se tocar o mesmo concerto várias vezes desgasta a obra, a pianista responde que não, pois a música sempre se renovava de algum modo, “um pouco como o amor”.

Martha Argerich e a três filhas

Uma das características de Martha é a lealdade com os amigos. Entre eles, dois dos pais de suas três filhas, o regente Charles Dutoit (1936) e o pianista e maestro Stephen Kovacevich (1940), foram sempre, além de companheiros, amigos muito presentes. 


Martha e Charles Dutoit
Martha e Stephen Kovacevich

São também muito próximos a ela, o pianista brasileiro Nelson Freire (1944), e seus parceiros de música de câmara, o violoncelista Mischa Maisky  (1948) e o violinista Gidon Kremer (1947). 

Nelson Freire e Martha Argerich

O pianista e regente Daniel Barenboim (1942) que a conhece desde que eram crianças prodígios na Argentina, há mais setenta anos, em depoimento sobre ela, diz:

Martha Argerich e Daniel Barenboim

“Não há ninguém hoje que eu conheça há tanto tempo quanto Martha, nosso relacionamento é baseado na música, é claro, mas também há um amor muito humano que nos conecta. (…) apenas os maiores artistas são capazes de manter o frescor da descoberta com a profundidade a reflexão, Martha Argerich é um deles. (…) Desde o começo, ela não era uma virtuosa mecânica, apenas preocupada com destreza e velocidade. Ela as dominou também, é claro, mas sua criatividade a permitiu criar uma quantidade e uma qualidade de sons no piano muito singulares.”

Seu fenomenal talento foi percebido desde a infância em Buenos Aires, onde estudou com o professor de origem italiana Vincenzo Scaramuzza (1885-1968) que disse sobre a aluna: “Argerich pode ter seis anos, mas sua alma tem 40”.

Martha ainda criança na Argentina

Sua carreira ganhou notoriedade aos 16 anos ao vencer os dois mais importantes concursos de piano europeus, o Busoni, na Itália, e a Competição Internacional de Genebra, consecutivamente, no intervalo de poucas semanas. A isso se seguiu uma série regular de concertos e louvores da crítica em uma vida itinerante para a qual Martha , revela que era jovem, tímida e despreparada para tamanho sucesso.

Martha Argerich

Aos 24 anos vence o Concurso Chopin de Varsóvia, passo decisivo para a sua carreira e reconhecimento internacional. Famosa pelas interpretações do grande repertório pianístico (Bach, Beethoven, Chopin, Schumann, Liszt, Debussy, Ravel, Bartók, Prokofiev), tendo trabalhado como solista com os mais famosos maestros e orquestras, Martha Argerich é considerada uma das maiores pianistas da atualidade.

Ouviremos o Concerto n. 3 em Do Maior, op. 26 de Sergei Prokofiev (1891 – 1953) com a pianista Martha Argerich sob a regência de André Previn (1929 – 2019) com a Orquestra Sinfônica de Londres.

Observe a intepretação dessa mulher inspiradora: “Martha toca piano brilhantemente, ferozmente e, talvez, melhor do que todo mundo na terra”.

 

* Gyovana Carneiro é professora da Escola de Música e Artes Cênicas (EMAC) da UFG

O Jornal UFG não endossa as opiniões dos artigos e colunas, de inteira responsabilidade de seus autores.

Fonte: Secom-UFG

Categorias: colunistas Emac Papo Musical