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Universidade Federal de Goiás
Mães e academia

É preciso escolher entre a maternidade e a ciência?

Em 23/03/21 09:42. Atualizada em 23/03/21 09:42.

Maternidades plurais e mulheres cientistas dentro da academia foi tema de debate em live realizada no youtube da UFG oficial

Rafaela Ferreira

“Sou neta de Marias e filha de Vanda, mulheres distantes dos bancos universitários e próximas dos cabos da enxada. Sou exceção de uma quase regra de histórias marcadas pelo esquecimento e invisibilidade”, disse a pesquisadora da UFG Vanessa Clemente Cardoso, durante a palestra que discutiu as possibilidades da acolhimento às mães no espaço universitário, na sexta-feira (19). A palestra virtual abordou o tema “Maternidades na Academia: iniciativas, ações e desafios universitários". Com a proposta de apresentar o Grupo de Trabalho Mulheres Cientistas e Maternidades Plurais ( GTMCMP) e discutir a padronização de informações, o evento foi realizado através do youtube oficial da UFG.

debate mães academia

Com a presença da vice-reitora da UFG, Sandramara Matias Chaves, da coordenadora da CAAF/UFG, Marlini Dorneles, e das professoras doutoras Ana Carolina Coelho e Vanessa Cardoso, a palestra teve como questão central: “É preciso escolher entre a maternidade e a ciência?". Trazendo o atual contexto de pandemia da Covid-19, o encontro foi marcado para debater a inferiorização do trabalho da mulher, já que, socialmente, é um trabalho ligado apenas ao doméstico. Além de abordar como essa marginalização se dá no trabalho acadêmico, intensificado nesse contexto de isolamento social.

A fim de apresentar a ponte entre reitoria da UFG, a Coordenadoria de Ações Afirmativas (CAAF) e o GT, a vice-reitora, Sandramara Matias, abriu a palestra apontando a necessidade de promover mais ações para contribuir com as mães universitárias. Diante disso, a proposta desta relação é o acolhimento emocional e institucional que a UFG, via CAAF, pode gerar para as mães universitárias: “Buscar elementos que nos ajudem a pensar sobre alternativas ou possibilidades, ações que a universidade possa desenvolver para tratar dessa questão, para acolher de modo mais efetivo as mulheres que se encontram nessa situação”, relatou a vice-reitora.

Com a característica principal de acolhimento ao estudante, a CAAF/UFG, coordenada pela professora Marilini Dorneles, se aproxima do GTMCMP para propor ações e ser espaço de escuta. “Estamos aqui anunciando uma parceria, um apoio mesmo, tanto da gestão superior quanto da CAAF, mas principalmente para reconhecer a trajetória dessas mulheres, desse trabalho, de tudo que elas já fizeram e de tudo que a gente pode fazer juntas”, contou Marlini. Em sua fala, a professora do curso de Dança (FEFD) também ressaltou a importância de dar nome a essa invisibilidade para que ela não seja normalizada socialmente e que a Coordenadoria de Ações Afirmativas pretende auxiliar nessa trajetória.

Maternidade oceânica 

Ana Carolina Coelho, professora da Faculdade de História (FH) e coordenadora do GT, conta que o grupo teve como primeiro sinalizador uma pesquisa realizada no ano passado. Com o tema “Condições sociais e heranças culturais de vida em tempo de covid”, a professora contou que o questionário da pesquisa, preparado para toda comunidade acadêmica, foi respondido, principalmente, por mulheres mães relatando uma sobrecarga. “Os relatos de exaustão apareceram já em março e abril do ano passado, em que a gente estava, inclusive, sem aulas. São relatos de excesso de cuidado e do trabalho”, relatou ela.

Um outro sinalizador para a professora da FH, percebida quando o grupo de pesquisa foi produzir um livro sobre relatos de mães cientistas na pandemia, foi observado que muitas dessas pesquisadoras não se enxergam como produtoras de ciências. “Será que você, mãe mulher, se enxerga como cientista? É muito comum a gente não se ver cientista e sim como menor, inferior. Somos julgadas por sermos mães, como se não tivéssemos a capacidade intelectual para produzir igualmente a quem não é mãe”, relatou a professora Vanessa Cardoso.

Diante desses fatores, na live, foi apontada a necessidade da criação de redes de apoio entre as mães acadêmicas. “A gente é rio, a gente se encontra, a gente acha caminhos. Não tem pedra que vá impedir, porque nós somos muitas”, disse Ana Carolina Coelho. Em um ambiente que pode ser excludente com mulheres mães, Vanessa ressalta a necessidade desses grupos de apoio: “Isso é muito importante, porque é muito comum a ideia de que mulheres são rivais e essa é uma ideia que temos que desconstruir. [...] Essas redes são necessárias para traçar estratégias de lutas e para que as conquistas venham efetivamente na lei”.

Acolhimento

Também durante a palestra virtual, foi ressaltada a importância de uma regulamentação única e estruturada dos direitos das discentes, docentes e técnicas no que tange as paternidades e maternidades. “Novamente caímos na mesma armadilha: mães que não sabem que tem o direito, que chegam nas secretarias e nos programas e elas não têm as informações concretas, fica tudo muito vago. Uma coisa que precisamos é a unificação dessas informações, isso é muito importante para facilitar um processo que já é tão longo e solitário”, ressaltou Vanessa Cardoso.

A relação entre os órgãos regentes da UFG e o GT é, também, pela luta institucionalizada dessa questão regulamentadora e de outras questões de acessibilidade. Diversas situações foram citadas durante a live, como o pouco tempo flexível para mães estudantes ao entregar trabalhos, falta de fraldários acessíveis, eventos acadêmicos com nenhum espaço kids. Criação de editais acadêmicos que pensem nas mães, apoio às mulheres cientistas que têm que fazer viagens e não conseguem, e muitos outros. Marlini fala, também, não somente de implementações de ações, mas dá importância às informações: “Quando falamos em acessibilidade e permanência, elas passam esse desconhecimento, porque, às vezes, a gente tem o direito e não consegue acessá-lo”.

Por fim, uma questão também muito levantada foi a necessidade da paternidade está inserida nessa luta. Com um tempo de licença paternidade de apenas 5 dias, a maternidade se torna algo compulsório, ou seja, fica a cargo apenas da mulher a responsabilidade de criação. “O GT está com o nome de maternidade plurais, porque é expressivo, estatisticamente, como a economia do cuidado fica para as mães. Mas ele não é excludente, ele é para ser um lugar de acolhimento das maternidades e paternidades. É para pessoas que maternam crianças e o maternar diz respeito aos cuidados, não é uma qualidade biológica inerente a um único ser”, explicou a professora Ana Carolina Coelho.

Como as maternidades diversas, a luta também deve ser plural, ressaltou a vice-reitora da UFG. “A luta é que não só as mulheres tenham um olhar para a questão das mulheres na sociedade, não só no que diz respeito ao exercício da sua profissão, aos lugares que elas desejam ocupar, as atividades que ela desenvolve, mas também no que diz respeito ao combate a violência de gênero, a qualquer tipo de preconceito e descriminação” disse Sandramara Matias.

Todo o encontro está salvo no Youtube da UFG Oficial. Além disso, o GTMCMP possui uma serie de lives que propõe compreender os impactos da maternidade na produção científica e na permanência de mulheres mães docentes e discentes da graduação e pós-graduação nas universidades brasileiras e pode ser acessada através do site do grupo de trabalho, AQUI.

Fonte: Secom-UFG

Categorias: Debate Humanidades