Kharen Stecca

Alguns estereótipos tradicionalmente circundam a identidade do goianiense como a união do rural e urbano, descrita por exemplo na figura do “caubói do asfalto”, da pamonha e do pequi, mas não se resumem a isso. Para tentar entender se existiria uma identidade goianiense única e como ela se constrói entre os próprios goianienses, o pesquisador e publicitário Diogo Teles fez em sua dissertação no Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal de Goiás uma análise de um perfil de humor do Instagram, o Goiânia Mil Grau. Por meio de entrevistas e análises, ele pesquisou sobre a formação dessa identidade goianiense e como ela gera engajamento na página.

Partindo de uma curiosidade pessoal, Diogo já observava a produção humorística da internet voltada ao regionalismo. “O Goiânia Mil Grau se destacava justamente por esse lado muito regional”, ressalta o pesquisador que se interessou por entender porque no meio de tantos sites de humor muito mais abrangentes, o regionalismo ganha tanto engajamento. A conclusão do trabalho é que não existe uma identidade única do goianiense: “Uma boa parte dos seguidores se identifica com esses estereótipos, mas outras pessoas veem aquilo como algo não condizente com o que ela é”, explica. Essa diferença de opiniões entre os seguidores também é uma forma de gerar polêmicas que acabam gerando engajamento.

Segundo Diogo, um dos diferenciais do Goiânia Mil Grau está justamente na proposta de ir além do simples estereótipo do contraste entre urbano e rural, embora muitas vezes também se utilizem dessa representação identitária já estabelecida. Entre as mensagens analisadas, destacam-se por exemplo postagens que fazem humor satirizando moradores de diversos bairros e torcedores de times de futebol.

Para sua investigação o pesquisador observou três aspectos: a produção de mensagens por meio de entrevistas com produtores do perfil, análise das mensagens postadas em um determinado período e também entrevistas com os seguidores do perfil, tentando incorporar pessoas de diversos bairros da cidade para perceber se havia diferença na percepção deles.
Para Diogo, a identidade goianiense claramente se confunde com a identidade do goiano. “Isso é bastante perceptível no uso publicitário dessa identidade, mas também no movimento sertanejo universitário e em trabalhos de humoristas como a dupla Nilton Pinto e Tom Carvalho”, ressalta. Embora exista identificação dos seguidores com diversos elementos culturais como as comidas típicas (pamonha, pequi) e costumes (ir a eventos de música sertaneja como festas pecuárias), postagens que unem humor global com nuances regionais como os memes, dublagens de séries e filmes famosos, também são bastante apreciadas pelos seguidores.
das pelos seguidores. 

Outra constatação do trabalho é que os goianienses costumam aceitar as brincadeiras criadas pelos próprios goianos, mas deixam claro que não aceitam essas mesmas mensagens advindas de outras culturas, como por exemplo um paulista criticando um goiano. A dissertação “Esteriótipos e a construção identitária da população goianiense:  Os sentidos produzidos por interagentes do Instagram a partir do humor do Goiânia Mil Grau” foi realizada no Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal de Goiás com orientação do professor Ricardo Pavan. Acesse a pesquisa aqui.