PAPO MUSICAL
Sexta-feira da paixão e o canto da Verônica
Gyovana Carneiro*
Canto da Verônica consiste na história de uma jovem que transporta um véu no qual está impressa uma representação da face de Jesus Cristorasileiro do século XX
Por mais um ano, a Covid-19, pandemia pela qual o mundo está atravessando, faz com que as celebrações religiosas sejam virtuais. Lembramos então, de um tempo, em que a Semana Santa era celebrada presencialmente em várias partes do planeta.
A Quaresma começa na quarta-feira de cinzas e termina no Domingo de Ramos, que antecede ao domingo de Páscoa. Durante os quarenta dias que precedem a Semana Santa e a Páscoa, a tradição cristã recomenda a reflexão, a conversão espiritual, rememorando os 40 dias passados por Jesus no deserto e os sofrimentos que ele suportou na cruz.
Um canto tradicional deste período, especialmente da Semana Santa, é o Canto da Verônica. O nome Verônica vem do latim e grego: vero ícone, que significa verdadeira imagem. Embora não haja nenhum registro Bíblico quanto à figura de uma personagem denominada Verônica, a Igreja Católica e seus fiéis, tradicionalmente representam nas Igrejas, em latim ou em português, o canto pungente de uma mulher, ritual ao qual se deu o nome de Canto da Verônica.
Retirado de um trecho do Livro das Lamentações de Jeremias, versículo 12, capítulo I, o Canto da Verônica consiste na história de uma jovem que transporta um véu no qual está impressa uma representação da face de Jesus Cristo. A personagem entoa um canto litúrgico e ao mesmo tempo, desenrola e exibe a estampa da face de Jesus Cristo.
A tradição narra que essa jovem teria se aproximado de Jesus enquanto ele carregava a cruz, e ao limpar a sua face cheia de sangue e suor com seu véu, a figura do rosto de Cristo ficou estampada no pano, que passou a ser chamado de Santo Sudário. O canto, ou o grito de lamentação, tinha o intuito de anunciar que o homem que seria crucificado era o verdadeiro Cristo.
Mais do que comprovar a existência de Verônica, podemos nos atentar à importância da tradição que este rito representa. Vale ressaltar que este canto/lamento é entoado em forma de responsório, uma forma de canto litúrgico na qual uma solista entoa versos, respondidos pela congregação ou coro.
Ouviremos um exemplo vindo da Basílica Nossa Senhora do Carmo da cidade de Campinas (SP), apresentada em março de 2016.
Esse Canto da Verônica é de autoria de José Pedro de Sant’Anna Gomes (1834 – 1908), irmão do afamado Carlos Gomes (1836 – 1896) . A obra foi composta para a Paróquia Nossa Senhora a Conceição de Campinas.
A Verônica é interpretada por Adriana Kayama. As três “béus” (mulheres chorosas), por Jussara Maria Oliveira; Elaine Virginia Dias Marchi e Beatriz Suzzara que cantam as três vozes o “Heu Domino” de um compositor anônimo de Minas Gerais do século XVII.
Observe o grito de lamentação da Verônica e o canto das “Béus” também conhecidas como as “carpideiras” que acompanham e respondem o canto da Verônica.
* Gyovana Carneiro é professora da Escola de Música e Artes Cênicas (EMAC) da UFG
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Fonte: Secom-UFG
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