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Universidade Federal de Goiás
Mariana Queiroz

Qual o lugar das mulheres nas Ciências Exatas?

Em 05/04/21 13:46. Atualizada em 05/04/21 14:13.

Pesquisadoras da UFG mostram que não existem áreas em que elas não possam estar

Talita Prudente (PRPG)

A participação feminina cresceu ao longo dos anos nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM, do inglês Science, Technology, Engineering e Mathematics). Porém, dados do projeto Open Box da Ciência, do Instituto Serrapilheira, apontam que no Brasil os homens ainda são maioria nas Engenharias (74%) e nas Ciências Exatas e da Terra (69,9%). No entanto, as diferenças quantitativas não anulam o fato de que lugar de mulher é onde ela quiser, tanto que, na UFG, diversas pesquisadoras se destacam quando o assunto é cálculo e inovação.

Os projetos da engenheira de controle e automação Brunna Carolinne Silva, por exemplo, transformam em realidade ideias que até então eram sonhos futuristas. No mestrado realizado na UFG, a cientista desenvolveu uma luva que interpreta e traduz caracteres e palavras da língua de sinais para a linguagem escrita. A pesquisa foi parte de projeto financiado pelo Ministério da Educação (MEC).

 

Bruna Carolline
Brunna Carolinne Silva é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica e da Computação

 

Atualmente, Bruna é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica e da Computação, na área de Neurociência Computacional, e continua trabalhando com tecnologias assistivas. Ela estuda um método capaz de analisar a influência do estresse nos processos de formação de memória, através de modelagem matemática e computacional de padrões elétricos e funções do cérebro.

“Precisamos ensinar ao mundo das exatas e das engenharias que ele pode ser das mulheres e mostrar para as mulheres que esse mundo pode ser delas”, ressalta Bruna, que também é professora no IFG. Para ela, a tímida presença feminina em STEM é consequência de fatos históricos, que só deixarão de existir com tempo, em um espaço educacional no qual meninos e meninas possam se desenvolver com equidade. “Sinto que professores, pais e comunidade em geral devem dialogar sempre sobre o respeito mútuo e valorização entre as diferenças pessoais”, pontua a pesquisadora.


Topo da pirâmide

Mesmo quando estereótipos sociais são superados e jovens pesquisadoras se interessam por cursos de exatas, elas convivem com uma desigualdade de gênero crescente à medida que avançam para posições acadêmicas de maior destaque. Como ilustração, a porcentagem de ocupação feminina na Academia Brasileira de Ciência é de 14% e apenas 20% das Bolsas de Produtividade de Pesquisa do CNPq, na área de exatas, vão para pesquisadoras, segundo estudo publicado na revista científica PeerJ.

As físicas Andréia Luísa da Rosa e Cássia Alessandra Marquezin são cientistas que consolidaram suas carreiras acadêmicas.

Andreia Luisa
Andréia Luísa da Rosa é física e docente do Programa de Pós-Graduação em Física da UFG

Elas são as duas mulheres que compõem o corpo docente do Programa de Pós-Graduação em Física da UFG. Ambas se interessaram por ciência ainda cedo e expressam o fascínio que sentem pela área em que trabalham. “Nunca fui estimulada ou desestimulada especificamente a gostar de exatas. Simplesmente gostava e era natural. No ensino médio fui a única a procurar pela Física”, considera Cássia.

 

Pesquisadora em Biofísica Molecular Experimental, Marquezin estuda as propriedades de moléculas de interesse biológico, como aquelas que podem ser utilizadas na produção de fármacos. A professora revela que, enquanto aluna universitária, conheceu várias professoras mulheres e líderes de grandes grupos de pesquisa. Na época, ela não observava diferenças de gênero na academia.

Cássia Marquezin
Cássia Marquezin é Pesquisadora em Biofísica Molecular Experimental

Assim como Cássia, Andréia Luísa da Rosa interagiu com grandes pesquisadoras durante sua formação. Ela foi orientada por mulheres tanto na Iniciação Científica, quanto no mestrado. Após trabalhar e estudar alguns anos na Europa, ela retornou ao Brasil em 2013 através de um programa do CNPq para atrair jovens cientistas que estavam no exterior.

Na UFG, Andréia trabalha com simulação computacional de materiais. “Em nanoescala os materiais podem exibir características diferentes das observadas em escala macroscópica . Eles podem se tornar mais leves, mais resistentes, apresentar novas propriedades magnéticas ou óticas. Essas propriedades podem levar a novas aplicações tecnológicas. No IF, investigamos materiais avançados para aplicações em dispositivos optoeletrônicos”, explica.

Segundo ela, a maioria dos seus alunos de graduação e pós graduação sempre foram homens, assim como seus colegas. “Obviamente, em conferências da nossa área é comum ver uma predominância masculina entre os participantes e palestrantes convidados. Aumentar o número de mulheres na Física é fundamental para diminuir essa desigualdade”.

A ausência de mulheres na área de exatas também pode ser explicada pela evasão durante os cursos de graduação e pós-graduação. Fazer pesquisa demanda tempo e energia e muitas não conseguem conciliar a vida acadêmica com a sobrecarga da rotina familiar. “Uma possibilidade seria criar programas de fomento específicos para mulheres, em todos os níveis, desde bolsas para alunas de graduação até editais de fomento para pesquisadoras. Além disso, ter um lugar onde deixar os filhos enquanto estudam ou trabalham é fundamental”, sugere Andréia.


“Quero ser matemática”

Nascida em Dourados, no interior do Mato Grosso do Sul, Mariana Queiroz Velter estava determinada a ingressar no mundo da matemática. O desejo de estudar em São Paulo foi negado pelos pais, que sugeriram ser uma aventura muito perigosa principalmente por “ela ser mulher”. Por fim, ela se matriculou no curso de Matemática-Licenciatura da UFGD. A graduação era voltada para a formação de professores para o ensino básico, mas não era essa a carreira que a Mariana gostaria de seguir. “Não me identificava. Queria fazer pós-graduação e atingir outros públicos”.

Mariana Queiroz
Mariana Queiroz é pós-graduanda em Matemática pela UFG

 

Ela montou um grupo de estudos com três amigos para trilhar um caminho diferente do que seria mais viável para o restante da turma. Em 2014, Mariana passou para o mestrado na UFG e hoje é aluna de doutorado no programa de Pós-Graduação em Matemática, com experiência sanduíche na Universitat Autònoma de Barcelona, na Espanha.

A pesquisadora trabalha com Sistemas Dinâmicos e estuda equações que asseguram a estabilidade de determinados circuitos elétricos. “É possível descrever o comportamento das correntes elétricas por meio de equações. Quando ligamos o computador a energia tem que circular e são várias equações que garantem que o aparelho não exploda”, exemplifica.

Mariana conta que era a única aluna na maioria das disciplinas que cursou no IME, mas que isso não a incomodava. “A valorização de um pesquisador ou pesquisadora deve ser consequência de seu trabalho, não do gênero. Mas é fundamental oferecer melhores condições de trabalho para as mulheres para que elas colham esse reconhecimento. Como atingir o mesmo desempenho que um homem quando carregamos muito mais imposições sociais? A sociedade em geral é machista, desigual, e isso tem que mudar. É um papel da academia impulsionar essa evolução”.

 

Fonte: Secom UFG

Categorias: Institucional PRPG