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Universidade Federal de Goiás
Painel Econômico

PAINEL ECONÔMICO

Em 29/04/21 12:55. Atualizada em 29/04/21 12:55.

Preços dos bens e serviços continuam se elevando no país e com maior intensidade em Goiânia

Boletim de Conjuntura Econômica de Goiás – Nº 132, abril de 2021


Os novos dados do IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15), apurados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontam que os preços dos bens e serviços continuam se elevando no país e com maior intensidade em Goiânia, que apresentou a 2ª maior variação (atrás apenas de Fortaleza/CE) no acumulado dos últimos 12 meses, dentre as 16 localidades nas quais o IBGE realiza a pesquisa. Neste período, o indicador atingiu 6,17% em nível nacional (situando-se bem acima da meta de inflação para este ano, de 3,75%) e 7,15% em Goiânia, dando continuidade a um movimento de alta iniciado, sobretudo, após o início da pandemia da Covid-19.
Se, em 2020, a principal causa da inflação doméstica foi o comportamento dos preços dos alimentos, neste ano, o aumento do IPCA-15 deve-se fundamentalmente à escalada dos preços dos combustíveis. Para se ter uma ideia, em Goiânia, o preço do etanol registra alta de 42,27% nos últimos 12 meses, o da gasolina de 32,56% e o do óleo diesel de 24,45%. Este processo está intimamente relacionado ao setor externo. Além do aumento da taxa de câmbio, as cotações do barril de petróleo continuam pressionadas, em razão das restrições da oferta impostas pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados (Opep+) e das expectativas de crescimento da economia dos EUA, de cerca de 6,0% neste ano, a qual é responsável por aproximadamente um quarto do Produto Interno Bruto (PIB) mundial. E, como se sabe, os preços dos combustíveis domésticos acompanham pari passu os preços internacionais desses produtos.

Analisando os dados do Índice de Preços ao Produtor – IPP, também calculado pelo IBGE, pode-se inferir que a inflação só não está mais alta ainda no Brasil por conta da fraca demanda doméstica. Esse índice apura a variação dos preços na porteira das fazendas e nas portas das fábricas, ou seja, acompanha os preços no atacado. Seus resultados dos últimos 12 meses mostram que os preços no atacado aumentaram quase cinco vezes mais do que os preços do varejo apurados pelo IPCA-15 – sendo 28,58% do primeiro contra 6,17% do segundo.

Ocorre que o crescimento da inflação no país se dá em contexto de baixo crescimento econômico, elevada taxa de desemprego e, por conseguinte, redução da renda do trabalho. Ademais, muito embora tenha ocorrido a retomada do pagamento do auxílio emergencial neste mês, o número de pessoas atendidas caiu de 67 milhões para 45 milhões, que agora receberão, em média, R$ 250,00, ao invés dos R$ 600,00 recebidos no ano anterior, com o montante gasto com o programa limitado a R$ 44 bilhões, ante R$ 294 bilhões dispendidos em 2020.

É neste cenário que se insere o aumento da pobreza no país, com estimativas apontando que o percentual de pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza se aproxima de 30,0% e o de pessoas enquadradas na extrema pobreza atingindo mais de 9,0% dos brasileiros. A despeito de a inflação neste ano estar sendo puxada pelo aumento dos preços dos combustíveis, vale a pena lembrar dos movimentos de outros preços registrados pelo IBGE em Goiânia nos últimos 12 meses: aumento de 83,6% do preço do óleo de soja; de 63,0% do arroz; de 33,8% das carnes e de 22,7% do gás de cozinha. Registre-se que estes são produtos essenciais para a população.

Não por acaso, assiste-se no país a volta da fome com bastante intensidade, sem que se vislumbre a reversão desse processo no curto prazo. Informações recentes de uma pesquisa realizada pela Universidade Livre de Berlim, em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG e com a Universidade de Brasília – UnB, estimam que quase 60% dos domicílios brasileiros apresentam algum tipo de insegurança alimentar, reduzindo, por exemplo, o consumo de carnes e de frutas, com impactos mais significativos nos domicílios onde há crianças, que acabam não ingerindo cotidianamente a quantidade ou a qualidade ideal de alimentos.

A combinação brasileira é, portanto, bastante perversa: elevação da inflação e aumento da pobreza e da fome. Novamente se chama a atenção para que, de imediato, seja viabilizado um aumento do valor do auxílio emergencial pago para as pessoas que se encontram nessa situação, ao menos até que se tenha uma aceleração do processo de vacinação e, com isso, a retomada das condições para que novos e melhores empregos sejam criados no país.

Boletim de Conjuntura Econômica de Goiás – N. 132/abril de 2021. 

Equipe Responsável: Prof. Dr. Edson Roberto Vieira e Prof. Dr. Antônio Marcos de Queiroz. 

Fonte: Secom UFG

Categorias: colunistas FACE