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Universidade Federal de Goiás
mães

Mulheres mães na UFG contam trajetórias durante a pandemia

Em 06/05/21 14:32. Atualizada em 07/05/21 16:55.

Relatos mostram dificuldades de conciliar jornadas e maternidade e a esperança de dias melhores

Beatriz Carvalho e Kharen Stecca

Vivemos no Brasil esta semana mais um Dia das Mães em pandemia. Por mais um ano todos os sonhos e planos foram adiados. E seguimos nos readaptando a uma vida com menos convívio social, mais telas e mais sobrecarga de trabalho e jornadas acumuladas. Na Universidade Federal de Goiás, em que aulas e trabalho seguem em grande parte remoto, as mulheres que são mães se adaptaram às rotinas de estudo e trabalho em home office, conciliando agendas pessoais e dos filhos e convivendo diariamente com o medo da doença e a sobrecarga mental de criar filhos em um cenário tão desolador. Conheça um pouco da rotina de algumas mães estudantes, técnicas e professoras na UFG que, não por acaso, só gostariam de um presente, um pouco real e um pouco distante para esse dia: a vacina para todos. Ouvindo a história dessas mulheres é possível reconhecer que as dificuldades são de todas e que todas as mães precisam de apoio para continuarem nessa caminhada. Confira alguns depoimentos de mulheres mães na UFG:

Andressa Palhares Barreto, estudante de Agronomia, mãe da Maria Flor, de 3 anos

Andressa

Rotina

“Inicialmente, foi muito difícil eu, mãe, lidar com eles para que eu pudesse orientar a minha filha a lidar com os sentimentos dela. Foi uma mudança radical nas nossas vidas. Foram 6 meses até eu conseguir entender essa nova rotina, a começar entender todos os sentimentos que estavam me atordoando, com o auxílio da minha terapeuta. Logo em seguida, começaram as aulas à distância e tudo que eu tinha lutado para conseguir lidar melhor com a situação, caiu por terra. Eu me encontrei em um cansaço emocional absurdo e, com as demandas da faculdade unidas com as demandas da Maria Flor, eu fiquei completamente exausta. Assistir uma aula era um desafio enorme, pra conseguir estudar de fato, era só de madrugada quando ela dormia, por consequência, eu não dormia. Meu curso é integral, assisto aula o dia todo praticamente e à noite é o horário que tenho para conseguir absorver o conteúdo mais calmamente. E essa tem sido a nossa rotina.”

Momentos difíceis
“Aconteceram vários. Eu me vi completamente descontrolada e brigando com a minha filha praticamente todos os dias, gritava com ela, me escondia atrás de casa para conseguir respirar só um pouquinho pra aliviar o coração daquele turbilhão de coisas em cima de mim, eu estava completamente sobrecarregada. Foi quando vi que estava com um pé dentro da depressão e, a partir disso, eu abri o jogo com a minha família, disse que eu precisava de uma rede de apoio porque estava muito difícil. Eles me ajudam a assistir às aulas, ficando com ela, me ajudam levando a Maria Flor para dar uma volta de carro pelas redondezas enquanto faço alguma coisinha que gosto, como um banho demorado, e assim as coisas estão mais estáveis.”


História que marcou o período
“Nós muitas vezes estamos fazendo as coisas no automático e nem conseguimos enxergar como os nossos filhos estão se encaixando nessa nova realidade. Eu vivo na frente do computador, falando para ela esperar um pouquinho porque a minha aula já está no fim, que logo eu atendo ela, e num dia desses ela sentou na minha mesa com o caderno e a caneta dela, disse para eu esperar só um pouquinho porque a aula dela estava acabando, que a professora dela estava falando uma coisa importante e precisava prestar atenção rapidinho, e terminou com “ta bom, mamãe?!”. Ela se adaptou muito mais facilmente a essa rotina cansativa do que eu, e no fim, foi o exemplo dela que me guiou.”

Um presente de Dia das Mães
Eu gostaria de dormir 12 horas seguidas, poder passar um dia inteiro sem me preocupar com os afazeres de casa, poder fazer os cursos online sem estar tão cansada, poder levar a Maria Flor para brincar tranquila sem ficar neurótica em onde ela está encostando. Mas o melhor presente do dia das mães seria a vacina para todos, sem dúvidas.


Lutiana Casaroli, professora da FIC, mãe da Luana, de 11 anos

Lutiana

Desafios
“Minha rotina como mãe na pandemia tem sido um desafio. Moro sozinha com minha filha e nossa família toda é do Rio Grande do Sul. Tenho um irmão que mora em Goiânia (também é professor da UFG), mas ele e sua esposa tiveram um filho logo no início da pandemia e, por isso, estão mais isolados do que a gente! Desde que a UFG suspendeu as aulas presenciais e a quarentena foi decretada, estou em isolamento literal com minha filha. Sem escola, sem visitas, sem academia, sem parque, nem ao mercado vamos de forma presencial. Diante dessa situação, estamos em casa cuidando de tudo: desde a limpeza, até as refeições, passando pelas tarefas de escola, cuidados com a Nina (cachorrinha) e trabalho. Confesso que tem sido bem desafiador e a sobrecarga de trabalho tem me consumido, mas também tem o lado bom: estou mais perto da Luana e podendo acompanhar cada avanço dela e todo centímetro de crescimento! Isso é bastante gratificante!”

Adoecer na pandemia
“Ah, momentos difíceis acontecem todos os dias, especialmente na vida de uma mãe! Mas sem dúvidas, por aqui, só de pensar em adoecer já me apavora. Em meados do ano passado eu tive uma pielonefrite (infecção no rim). Já fui internada em outro momento por conta disso e fiquei bastante preocupada por não ter onde deixar minha filha. Precisei ir ao hospital e levá-la comigo. Em função do agravamento da pandemia, não quis “incomodar” ninguém pedindo que a acolhesse em casa. Ainda bem que não precisei ficar internada e pude fazer o tratamento em casa. Mas, mesmo em casa, não foi fácil, pois precisava cuidar de tudo, precisando ficar em repouso. Percalços da vida, agravados pela pandemia.”

Um susto
“A situação mais “engraçada” que aconteceu foi em um dia que eu estava em sala de aula e minha filha apareceu de modo repentino, gritando, me tirou da frente do computador porque a Nina havia comido uma cartela de remédios dela. Foi um baita susto! Saímos de casa do jeito que estávamos (Luana de pijama), esqueci inclusive de desligar o Google Meet! Avisei a turma do ocorrido e saí para o pronto atendimento do hospital veterinário da UFG. Graças a Deus ficou tudo bem com ela!”

Ser mãe e estar presente

“Acho que o maior presente que posso receber é ter a minha filha ao meu lado, saudável e feliz. Pode parecer clichê, mas não há nada pior para uma mãe do que ver a tristeza no olhar do filho, a doença ou a distância. Me sinto muito privilegiada por tê-la comigo nessa jornada. Nossas vidas sempre foram nossos grandes presentes, mas, sem dúvidas, nesse momento da pandemia, essa certeza ficou muito clara. Meu grande presente hoje é viver a vida, no momento presente, no aqui e no agora, ao lado dela. Como diz Ildegardo Rosa: ‘Agora viverei a vida que está presente e que a cada instante acontece e desacontece, não importando seu destino e a sua razão de ser’.”

Geandra Karla de Avelar Cortês, Técnica Administrativa da Regional Goiás, mãe da Cecília, de 7 anos

Geandra

Desgastes
“A minha rotina de mãe tem sido de acúmulo de funções. Já é uma carga excessiva para a maioria das mães que não tem uma rede de apoio grande, mas na pandemia isso se torna mais pesado ainda porque a rotina inclui acompanhar as aulas online com a criança, participar do processo de alfabetização. E como a criança não tem nada externo à casa, a gente tem que tentar equilibrar o trabalho remoto com as aulas online, com as nossas aulas e as aulas das crianças. Então, é uma rotina que se tornou ainda mais desgastante.”

Enfrentando a doença
Eu acho que existem vários momentos difíceis nesses quase 15 meses de isolamento. Eu moro em Goiás com a minha filha e a minha família mora em Goiânia. Então, nós nunca mais fomos à Goiânia e apenas a minha mãe veio me visitar duas vezes. Acabou que na segunda vez que ela veio, ela se contaminou e acabou me contaminando também. Um dos momentos mais difíceis foi atravessar a COVID-19. A minha filha não pegou, mas eu e a minha mãe pegamos e é muito complicado a criança não poder ter convívio com outras crianças e com os familiares. A criança sente falta das coisas simples: de festas infantis, de brincar na praça com os amigos, no parque. Então, com certeza, esses são momentos bem difíceis que a gente vem atravessando.”

Mãe, mãe, mãe!!!
“Perrengue não falta na vida de quem tem criança em casa! Não só na pandemia, mas fora dela. A questão é que agora as aulas invadiram a nossa casa, o trabalho também invadiu a nossa casa. Então, a gente tem tentado adequar a nossa casa para essa rotina, pra essa vida na tela do computador. Acontecem vários perrengues pequenos, como a criança ter que assistir aula no computador enquanto almoça, porque naquele dia a gente não conseguiu conciliar o horário. De, durante a aula, a criança querer apresentar os gatos, o cachorro e colocá-los pra assistir aula junto. Tem tudo isso, né!? E tem os perrengues da vida adulta também. A gente tá lá assistindo aula e a criança entra e grita que quer ir ao banheiro, quer comer... De repente, você está numa reunião com o microfone aberto e a criança entra gritando “mãe, tô com fome”, porque na hora que aperta é a mãe, né?!
Mãe, mãe, mãe... São esses perrengues que acontecem e de um dia a gente não conseguir conciliar as duas coisas. Pedir desculpas e desligar a câmera porque está fazendo alguma coisa com o filho. Mas, são coisas que estamos meio que nos habituando nesta pandemia.”

Queremos vacina!
“Nesse momento, eu gostaria que nós tivéssemos acesso a vacina. O que eu quero de presente, não só pra mim, mas para todas as mães e para todo mundo, é a vacinação. Eu acho que esse é o presente mais importante que nós merecemos ganhar!”


Shirley Ribeiro Cardoso Rodrigues, Enfermeira da Maternidade do HC, mãe de Laura (11 anos) e Alice (7 anos)

Shirley

Professora dos filhos

“Certamente a rotina tem sido mais pesada que a de costume. Além do trabalho e das outras muitas funções que nós mulheres já acumulávamos, a pandemia e o isolamento social nos trouxe a carga da incerteza, do medo, da angústia. Também tivemos que acumular outra função: professora. Minha filha mais nova passou pela alfabetização em casa. Os dias que eu estava de folga eu a acompanhava em tempo integral durante as aulas e tarefas de casa. Os dias que eu estava trabalhando, tinha que tirar as dúvidas e acompanhar nas tarefas depois que chegava do plantão. Sem falar que tivemos que nos desdobrar para a rotina em casa ficar menos estressante. Minhas filhas não usavam muito eletrônicos e internet. Brincavam muito na rua (moramos num condomínio com muitas crianças) e estávamos acostumados a outro ritmo de vida, com muitas atividades fora e, de repente, tudo muda. Conseguir manter nossa mente e a das crianças sãs não foi e nem está sendo algo fácil.”

Volta às aulas online
“Por eu ser do grupo de risco e pelo medo de sermos contaminados, eu e minha família seguimos todos os protocolos de prevenção à COVID-19. Assim, saímos de casa apenas para trabalhar ou em casos de necessidade mesmo. Este ano, quando foi autorizado o retorno às aulas presenciais, minhas filhas ficaram super empolgadas imaginando a volta à escola depois de um ano todo com aulas online, sem o convívio com os colegas de sala. Depois de conversarmos bastante e analisarmos o cenário, meu marido e eu resolvemos que não era hora de retornarem à escola. Conversamos com as meninas e foi como jogar um balde de água fria. Dias depois, a mais nova estava pensativa e soltou: “_ Mamãe, quando você vacinar eu vou poder voltar para a escola?” Foi um daqueles momentos que seu coração dói por se sentir um pouco responsável pela frustração da sua filha e por nem saber como explicar que a vacina não tinha que chegar só para mim para isso tudo acabar e ela poder voltar para a escola, para as brincadeiras com os amigos na rua, para as festinhas de aniversário. Se para nós adultos é difícil entender tanta coisa nova, tanta limitação, imagina para os pequenos.”

Comemorações
“Gostaria que pudéssemos ter a esperança de que dias melhores estão perto de chegar. Que neste Dia das Mães pudéssemos ter de volta os tradicionais almoços de comemoração, famílias completas, sorrisos, abraços e beijos. Gostaria de ver minhas filhas e as outras crianças vivendo o que é próprio dessa fase da vida, se socializando, brincando, explorando o ambiente, enfim, evoluindo conforme sua faixa de idade permite, sem máscaras, sem obstáculos, sem medo, sem COVID.”

 

Fonte: Secom UFG

Categorias: Institucional Fic EA Goiás HC