
PAPO MUSICAL
Sonata de Outono: Ingmar Bergman
Gyovana Carneiro*
Música entre mãe e filha

Isolados devido à Pandemia que ainda perdura, por mais um ano teremos um “Dia das Mães” com comemorações contidas. Consolemo-nos com a arte, nossa grande aliada.
Para celebrar o “Dia das Mães” abordaremos o filme Sonata de Outono (1978). Um obra cinematográfica que fala sobre a delicada relação de uma mãe e uma filha.
O filme de Ingmar Bergman (1918 – 2007) gira em torno do relacionamento entre uma mãe pianista bem sucedida – Charlotte (Ingrid Bergman)e sua filha emocionalmente fragilizada – Eva (Liv Ullmann).

Uma das mais icónicas cenas de Sonata de Outono se estruturada no Prelúdio nº 2, de Chopin (1810 -1849). Ambas as personagens (mãe e filha) interpretam a obra do compositor polonês. Eva toca primeiro, enquanto Charlotte a escuta, depois as posições se invertem e a mãe toca o mesmo Prelúdio de Chopin: um diálogo mudo entre uma mãe aparentemente indiferente e uma filha amedrontada. Charlotte olha para Eva com um misto de decepção e pena diante da falta de talento da filha e, então, ensina-a como se deve tocar.

F. Chopin (1810 -1849)
– Há dor mas sem parecer. Depois um breve alívio. Mas ele some de repente, e a dor continua a mesma.
Enquanto a mãe toca o mesmo Prelúdio com toda a sua maestria, a filha a observa com amargura, constatando sua aparente derrota em mais uma batalha emocional, e diz:
– Será que a infelicidade da filha é o triunfo da mãe? Mãe, será que a minha tristeza é a sua satisfação secreta?
Charlotte responde:
– (…) Eu queria que você soubesse que sou tão indefesa quanto você”.
Sonata de Outono, como o próprio nome sugere, possui uma relação direta com a música, no qual, sua construção correspondente a uma composição musical. Bergman, mais do que narrar uma história, escreve uma música. A Sonata possui um primeiro movimento – Allegro, mostrando as cenas da chegada de Charlotte, o encontro da mãe com sua outra filha Helena (Lena Nyman), e os preparativos para o jantar. O segundo movimento, como uma sonata clássica, de tempo mais lento, revela mãe e filha ao piano, interpretando o Prelúdio nº 2 de Chopin; e, por fim, o terceiro movimento, mais rápido e intenso, marcado pela discussão de mãe e filha durante a madrugada, quando todas as mágoas guardadas por anos vêm à tona.

Na semana que comemoramos o dia das mães vai à sugestão de uma bela obra musical – O Prelúdio n. 2 de Chopin e de um filme imperdível. Um clássico para ver e rever. Fotografia incrível, direção magnífica, atuações primorosas e diálogos excepcionais.
Em Sonata de Outono, Ingmar Bergman prova mais uma vez o porquê de ser conhecido como o maior desbravador da alma humana.

Sonata de Outono foi lançado em outubro de 1978 nos Estado Unidos com Direção e roteiro de Ingmar Bergman; Músicas compostas por: Frédéric Chopin, Johann Sebastian Bach, Georg Friedrich Handel.
O filme tem no elenco Ingrid Bergman: Charlotte Andergast; Liv Ullmann: Eva; Lena Nyman: Helena; Halvar Björk: Viktor; Marianne Aminoff: secretária de Charlotte; Arne Bang-Hansen: tio Otto; Gunnar Björnstrand: Paul; Erland Josephson: Josef; Georg Lokkeberg: Leonardo; Mimi Pollak: professora de piano e Linn Ullmann: Eva quando criança. Sonata de Outono recebeu o Globo de Ouro como o Melhor Filme Estrangeiro (1978).
Ouviremos, o Prelúdio Op. 28 – No. 2 em lá menor do polonês Frédéric Chopin (1810-1849) interpretado pela pianista argentina Martha Argerich (1941).

Observe como essa obra de Chopin é carregada de emoção tal qual o filme de Bergman.
* Gyovana Carneiro é professora da Escola de Música e Artes Cênicas (EMAC) da UFG
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Fonte: Secom-UFG
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