Emiliano Lobo de Godoi*

Apesar da conhecida importância do bioma cerrado, infelizmente, ao longo da história de nosso estado, não existem muitos fatos na área ambiental que possam nos trazer orgulho. Somos reconhecidos internacionalmente como o “berço das águas” do país, com uma enorme biodiversidade que só existe por aqui e com paisagens deslumbrantes, que, muitos olhos veem e poucas pessoas enxergam.

A importância do Cerrado é conhecida por muitos e defendida por poucos. Não faltam datas festivas de comemoração, mas faltam medidas efetivas de conservação. Não faltam medalhas de condecoração, mas falta apoio para a ação. Poucas vozes se levantaram efetivamente para dar visibilidade ao nosso tão desgastado Cerrado. Dentre estes poucos, destaca-se a magnitude do jornalista Washington Novaes, falecido no dia 24 de agosto de 2020.

Washington Novaes tem um reconhecimento internacional pelo seu trabalho na área ambiental. É um nome respeitado por todo e qualquer profissional da área. Suas propostas jogaram luzes a temas ainda não vistos até hoje por muitos gestores. Sua atuação possibilitou o estabelecimento de várias políticas ambientais e sua simples presença garantia a seriedade a qualquer tema que se colocava a mesa.

Escreveu diversos livros e recebeu vários prêmios, nacionais e internacionais, dentre eles, a Ordem do Mérito Cultural do Ministério da Cultura, Doutor Honoris Causa pela UFG, o Prêmio da Câmara Americana de Comércio, Medalha de prata no Festival de Cinema e TV de Nova York e o Prêmio Unesco de Meio Ambiente.

Após sua morte, no dia 29 de dezembro de 20210, o ex-prefeito Iris Rezende fez uma justa e bonita homenagem ao jornalista, dando seu nome a um parque localizado na região Oeste de Goiânia. Washington Novaes, podendo escolher qualquer lugar do planeta para viver, escolheu Goiânia para estabelecer sua família. Podendo escolher qualquer causa para lutar, escolheu o cerrado para defender.

Porém, demonstrando o tamanho de nossa insensatez e o desconhecimento de nossa história, apenas 4 meses após a inauguração, surge uma proposta de mudança de nome deste parque. Tão poucos meses parecem ter sido suficientes para homenagear uma vida toda dedicada a defesa da causa ambiental. Tão pouca memória parece ser uma marca de nossos tempos.

A simples proposta de retirar o nome de Washington Novaes de um parque já demonstra o quanto ainda precisamos avançar para reconhecer as pessoas que, de fato, deram suas vidas para defender as nossas vidas. Washington Novaes é mais que um nome, é mais que um parque. Washington Novaes é história, e história não se apaga. Não se pode atingir um personagem com tamanha dimensão, com ato administrativo com tamanha insensatez. Não podemos perder, mais uma vez, o pouco da história ambiental de nosso estado. Só nos resta torcer para que um pouco de lucidez possa iluminar a cabeça de nossos governantes e preservar o nome deste parque.

* Emiliano Lobo de Godoi é professor da Escola de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade Federal de Goiás (UFG).

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