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Universidade Federal de Goiás
tríplice viral

Pesquisa aponta desinformação e fake news em grupos virtuais 

Em 19/05/21 17:27. Atualizada em 20/05/21 10:35.

Por meio de mineração de dados, estudo apontou relação de grupos virtuais antivacinas e pesquisas falsas sobre segurança da vacina tríplice viral

Kharen Stecca

Em 2019 o Brasil apresentou o pior nível de imunização vacinal do calendário infantil em relação aos 5 anos anteriores, segundo dados do Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde. Um dos fatores que vem sendo relacionado a essa não adesão às vacinas é a crença pré-concebida sobre a segurança das mesmas. Uma das formas de perpetuação do problema são grupos antivacina nas redes sociais que, ao defender teses sem comprovação científica sobre a eficácia das vacinas, acabam gerando prejuízos sérios à saúde pública, dificultando o pacto coletivo de imunização. Ciente disso, a pesquisadora Larissa Machado Vieira investigou em sua dissertação de mestrado na Faculdade de Informação e Comunicação da Universidade Federal de Goiás por meio de mineração de dados um dos maiores grupos antivacina do Facebook. 

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A pesquisa coletou dados de 5.433 postagens feitas no grupo do Facebook escolhido para a pesquisa, entre 2015 e 2019. A análise que mapeou os principais assuntos comentados no grupo ano a ano, descobriu tendências e repetições: “Destaca-se a recorrência dos termos ‘sarampo’ e ‘autismo’ sempre muito ligados um ao outro, numa clara alusão à possível relação entre a vacina que previne o sarampo (tríplice viral) e o desenvolvimento de autismo em crianças, o que já foi refutado por diversas evidências científicas”, explica Larissa Machado.

Falsificação Elaborada -  Assim o British Medical Journal classificou um estudo publicado na The Lancet em 1998, um dos mais consagrados periódicos da área da saúde que estabelecia uma relação entre autismo e a vacina tríplice viral. Ainda que em 2010 a maioria dos autores envolvidos nesta pesquisa tenham assinado uma retratação no mesmo periódico, o artigo ainda hoje é usado por grupos antivacinação como um estudo que, supostamente, comprova a relação entre a referida vacina e o autismo, não obstante a pesquisa em questão conter dados fraudados e uma metodologia ruim e que outras tantas pesquisas tenham refutado essa tese. O principal autor do artigo citado, que era um médico, não assinou a retratação, e ainda hoje defende os resultados encontrados em 1998. “Inclusive, a administradora do grupo do Facebook já fez postagens com referência a essa pesquisa, incluindo elogios ao referido médico”, ressalta a autora.

Ainda não é possível estabelecer uma relação completa entre a defesa antivacina e a queda nos números de imunizados, pois para isso seriam necessários mais estudos envolvendo outras variáveis temporais e temáticas. No entanto, “os discursos defendidos e divulgados pelos movimentos antivacina são um dos fatores que podem influenciar na tomada de decisão das famílias de não se submeterem aos processos de imunização”, ressalta a pesquisadora. 

Internet - Larissa relata o papel da internet na propagação dessas informações: “O advento e a popularização da internet, assim como facilitou o acesso a inúmeras boas informações e conteúdos, também favoreceu a propagação de desinformação e fake news, e, naturalmente, pessoas que acreditam nos malefícios das vacinas tendem a se agrupar com outras que partilham as mesmas crenças, fortalecendo o viés de confirmação de suas opiniões e segregando-as em bolhas algorítmicas”.  Mas elas não são responsáveis únicas por essa disseminação, até porque a circulação de desinformação precede a existência dessas redes. “Existem diversos fatores históricos, sociais, políticos e psicológicos complexos envolvidos”, explica.

A autora também não acredita que apenas promover informação de qualidade será o suficiente para resolver o problema da desinformação, mas é um caminho: “Não existe uma medida suficiente em si mesma para anular as consequências da desinformação e das fake news da área da saúde. Os mecanismos imbricados na crença numa desinformação são profundos e as ações de combate devem ser múltiplas. No entanto, é evidente que a ação governamental em prol da difusão das informações verdadeiras sobre vacinas é uma das frentes importantíssimas no combate à desinformação, porém, não é suficiente”.

Divulgação científica - Uma outra frente importante no combate à desinformação destacada pela autora é a divulgação científica: “Acredito que uma das ações para ajudar a combatê-las é a divulgação das pesquisas realizadas nas universidades, transpondo a barreira de seus muros e laboratórios. Devemos adaptar nossa fala e nossa escrita para que os diversos públicos compreendam o que é a pesquisa científica e de que forma isso pode impactar em suas vidas”. Ela afirma que a popularização da pesquisa é um desafio com o qual todo pesquisador deveria se preocupar. 

Mineração de dados - Minerar dados permite encontrar tendências, padrões e descobrir correlações em grandes conjuntos de dados. “A mineração de dados pode ser aplicada em diversos tipos de estudo das mais diferentes áreas do conhecimento, mas na área de humanas, que é onde essa pesquisa foi desenvolvida, ela facilitou notavelmente os processos de detecção dos temas mais falados no grupo, evidenciou a relação entre eles, o que propiciou com que realizássemos, com mais precisão e acurácia, as análises dos resultados encontrados a partir das dinâmicas comunicacionais e informativas presentes no grupo do Facebook”, explica a pesquisadora que utilizou uma metodologia conhecida como KDD. 


Confira o estudo completo aqui: https://repositorio.bc.ufg.br/tede/handle/tede/11112

Para mais informações: Vacinação: entre a ciência e as fake news

 

Fonte: Secom UFG

Categorias: Humanidades destaque Fic