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Universidade Federal de Goiás
PORQUE O ESTADO IMPORTA

PORQUE O ESTADO IMPORTA

Em 02/06/21 09:42. Atualizada em 02/06/21 09:46.

Quem tem medo do Censo?

* Tadeu Alencar Arrais

* Diego Pinheiro Alencar

O Recenseamento de 1872, que antecedeu os tradicionais censos demográficos, forneceu uma síntese dos desafios que seriam, mais tarde, enfrentados pela República. Aquele estudo centrou as energias na coleta de informações sobre sexo, estado civil, raça, religião, nacionalidade e instrução da população. Naquele ano, 17,9% da população, equivalente a 1.510.506 pessoas, foi descrita como escrava. Não havia imagem mais didática dos desafios que República estaria por enfrentar.

Ruy Barbosa, ainda em 1919, escreveu: Feito não há nada, tudo por fazer, perspectiva oposta ao delírio apologista de Afonso Celso, autor de Por que me ufano de meu país. Os discursos políticos sobre o destino da República foram alimentados por fontes de dados nem sempre confiáveis. Mas o conhecimento do território, herdado de séculos de exploração, nunca esteve fora do radar das elites nacionais e dos interesses internacionais. O Estado Nacional, por seu turno, ao perseguir o projeto de industrialização e de modernização, reconheceu que era imprescindível dispor de um sistema de informações sobre o território. Não havia como, ao juízo do Estado, civilizar o Sertão, domar o Oeste e ocupar a fronteira sem o mínimo de informações territoriais. Assim nasceu, em 1937, como herdeiro do Instituto Nacional de Estatística, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 

Como guardião de nossa memória territorial, o IBGE converteu-se, rapidamente, em uma instituição indispensável para a compreensão das desigualdades nacionais. Não há professor, pesquisador ou um agente público que não utilize informações do IBGE. Se precisamos de construir uma política de geração de emprego, então o ponto de partida são os dados gerados pelo IBGE. A mensuração da produção agrícola e pecuária, imprescindível para o planejamento econômico, são elaboradas, periodicamente, pelo IBGE. Por intermédio de pesquisas domiciliares, o IBGE tem produzidos informações essenciais para subsidiar a luta contra a covid-19.

Mas porque, então, a Lei Orçamentária de 2021 não destinou recursos para o Censo Demográfico?

A população brasileira aprendeu a confiar seus segredos ao IBGE. O encontro com mais de 60 milhões de lares estava marcado. O trabalho logístico, digno de um esforço de guerra, seria executado a partir de dezenas de milhares de postos de coleta e mais de 220 mil pessoas contratadas. O que resultaria desse encontro seria, imagino, um retrato atualizado, detalhado, mapeado, da negligencia política – isso daí não pode!

Mas não se trata, apenas, do peso da responsabilidade do presente que recairia sobre o dorso do Governo Federal. É imprescindível bloquear o futuro, evitando que o IBGE, por intermédio do Censo Demográfico, conjugue o verbo contar no presente do indicativo. O Censo Demográfico colocaria cada comunidade rural, cada povoado, cada vila, cada cidade, cada pessoa, em conexão com tantas outras pessoas em um país que contabiliza, diariamente, seus mortos. Essa informação poderia gerar, ao mesmo tempo, solidariedade e revolta, insumos que poderiam alimentar o cobiçado desejo de mudança. É apenas por isso que o Planalto teme o IBGE.

Sorte e vacina para todos.

Acesse informações  de qualidade sobre o Estado Social:

Plataformas de Dados do Observatório do Estado Social Brasileiro

http://obsestadosocial.com.br/

https://observatorio.spatialize.com.br/#/

 Canal Porque o Estado Importa

https://www.youtube.com/channel/UCuZDu3jkiPMfxYTmfzVzKWw

 

* Tadeu Alencar Arrais é professor da UFG e coordenador do Observatório do Estado Social Brasileiro. E-mail: tadeuarraisufg@gmail.com

* Diego Pinheiro Alencar, do Instituto Federal Goiano, Campus Iporá. E-mail: diego.alencar@ifgoiano.edu.br

 

 

Fonte: Secom-UFG

Categorias: colunistas Porque o Estado Importa IESA