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Universidade Federal de Goiás
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Pesquisa usa algoritmos para entender desempenho de estudantes no Enem

Em 29/06/21 14:10. Atualizada em 30/06/21 14:02.

Estudo relaciona questões socioeconômicas com desempenho dos estudantes 

Kharen Stecca

Estudantes com maior renda familiar, que cursaram o ensino fundamental e médio em instituições privadas, com pais que possuem maior escolaridade e que optaram pelo Inglês como língua estrangeira na prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) têm maior probabilidade de ter notas acima de 600 pontos no exame. Essa é a constatação de um estudo realizado no Mestrado em Ciências da Computação do Instituto de Informática da Universidade Federal de Goiás (UFG) pelo professor do Instituto Federal do Mato Grosso (IFMT), Jacinto José Franco. 

O estudo analisou informações da base de dados do questionário socioeconômico do Enem de 1998 a 2019, cruzando-as com as notas obtidas pelos estudantes. A pesquisa foi realizada por meio de técnicas de mineração de dados e algoritmos. A ideia é subsidiar informações sobre o perfil dos estudantes que tendem a ter melhores resultados na prova do Enem. Os dados podem ser utilizados na promoção de políticas públicas para a educação.

Nos quesitos renda familiar, tipo de escola em que estudou (pública ou privada), escolaridade dos pais e opção de língua estrangeira, a assertividade do algoritmo foi em alguns casos maior que 80% (no ano de 2012, por exemplo, a taxa de acerto foi de 89%), principalmente em anos onde o questionário mostrou-se mais consistente. A análise, que usou um banco de dados de mais de 20 anos de exames, mostra que os estudantes que possuem melhores condições de renda tendem a se sair melhor no exame. 

Dados como estes, ressalta o pesquisador, mostram que é preciso investir na educação básica para que todos os estudantes tenham mais chances de conseguir bons resultados não só no exame, mas na universidade e no mercado de trabalho. Jacinto Franco afirma que o estudo mede um padrão ou a tendência, o que não quer dizer que pessoas com características diferentes não conseguem ter boas notas no exame: “Mas o que nós percebemos é que esses alunos são o que chamamos de outliers, ou seja, o ponto fora da curva, fora do padrão médio, superando as estatísticas.” Estudantes com mais condições econômicas e que estudam em escolas privadas têm vantagens bastante desiguais no processo em comparação aos estudantes de escolas públicas.

renda e desempenho
Análise dos dados de 2019: quanto maior a renda, maior a probabilidade de o estudante obter bons resultados no Enem. (Imagens: arquivos do pesquisador)

 

O questionário socioeconômico do Enem é realizado todos os anos e os dados são disponibilizados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (Inep). Segundo Jacinto Franco, é uma das bases de dados mais consistentes do mundo. No entanto, o questionário mudou ao longo dos anos e perdeu algumas informações. Ele explica que em alguns anos os questionários tiveram até 300 fatores e hoje oscila em torno de 100. Uma das informações mais importantes, segundo o professor, mas que não aparece em todos os anos analisados é onde o estudante cursou o ensino fundamental - se em escola pública ou privada. Mesmo não tendo sido coletado em todos os anos, o professor considera esse um dado dos mais relevantes no estudo e, por isso mesmo, utilizou outras bases de dados para confirmar a informação.

Segundo o professor, o ensino fundamental representa 3/4 de todo o período de estudo antes da entrada na universidade e acaba determinando o quanto se aproveita no ensino médio. O professor afirma que “inevitavelmente a qualidade do ensino fundamental irá impactar os resultados dos estudantes no Enem e também no ensino superior”. Isso aparece claramente, por exemplo, analisando os dados de 2012 quando a informação sobre o ensino fundamental apareceu no questionário. Estudantes que cursaram todo ou a maior parte do ensino fundamental nas escolas privadas tiveram melhor desempenho médio.

"Ademais, nota-se que há uma grande disparidade em termos de oportunidades educacionais providas pelo ensino público e privado de nível fundamental. Proporcionalmente, a probabilidade de um estudante ter um rendimento igual ou superior a 600 pontos é 5,96 vezes maior entre os  que cursaram o ensino fundamental exclusivamente em escolas privadas do que os que estudaram em escolas públicas", ressalta Jacinto.

ensino fundamental
Dados de 2012 relacionando desempenho dos estudantes e instituições em que cursaram o ensino fundamental. O dado não aparece todos os anos do questionário.

 

O estudo também analisou outros dados, inclusive raça, mas o que os algoritmos mostram é que todos os outros fatores acabam se voltando à questão de renda dos estudantes. Isso porque a renda define por exemplo acesso dos pais aos estudos, a computadores, a cursos de inglês, melhores moradias, entre outros. 

critérios e importância
O grau de "importância" é o quanto esse critério se relaciona com a probabilidade de o estudante ter bom desempenho no Enem de acordo com suas respostas

 

Escolas federais - O professor ressalta que os números mostraram que estudantes que frequentaram escolas federais no Ensino Médio também têm uma tendência maior a ter melhores notas no Enem.  Ele destaca como alguns diferenciais dessas escolas a formação dos professores e a estrutura de ensino, como por exemplo, maior carga horária de aulas. “Isso mostra que a qualidade do ensino é determinante para o sucesso no exame, seja na escola pública ou privada”, afirma. Por outro lado, como os estudantes que ingressam nessas escolas passam por processos seletivos, há também a seleção dos candidatos mais bem preparados, o que novamente favorece os que se diferenciam da média dos estudantes. 

Confira o estudo completo aqui

Fonte: Secom UFG

Categorias: inf Enem Humanidades