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A vida pela Arte de Glacy Antunes de Oliveira: ontem, hoje, amanhã
Fernanda Cunha*
O vídeo intitulado A vida pela Arte de Glacy Antunes de Oliveira: ontem, hoje, amanhã se trata daquela oportunidade singular de conversa que não poderia deixar de ser momento de reflexões (re)significativas sobretudo no tempo do agora com vistas aos passos vindouros para as artes e seu ensino. A experiência conta.
A emblemática Professora Doutora Glacy Antunes de Oliveira é personagem ilustre no cenário da música, atua no Brasil e no exterior como pianista solista e camerista, eu diria ícone na militância da música em, por Goiás. Eleva Goiás para o mundo da Música, da aprendizagem em/pela música.
Para sentir o sabor desta conversa, descolo alguns fragmentos da voz de Glacy Antunes do vídeo que já faço convite para assisti-lo na íntegra, ao tecer tramas da arte e seu ensino indispensáveis à vida, sobretudo em tempos de pandemia, quando nos aponta que “a arte tem vários poderes para transitar. A arte tem muitos recursos de trânsito, haja visto que agora na pandemia a arte tem sido um sustentáculo.”
Acolhedoramente, revela coro íntimo, sua intimidade com a música pelas janelas de sua infância. Em minhas palavras: um lar musical, expressando o poder que a música tem sobre a vida, veja nas Palavras de Glacy Antunes:
- “A música tem esse poder de transformar, a música tem esse poder de elevar, esse poder de desafiar, e foi nesse mundo que desde cedo logo me inseri.”
Se entende como uma pessoa movida pela música.
Em conversa densa, intensa, com esta Mestra Glacy Antunes, que você poderá degustar na íntegra neste vídeo, Glacy Antunes revela por entre reflexões tramas da vida, cartografias pungentes à música, à arte, que sistematizam a vida no tempo interconectado entre o ontem, o hoje e o amanhã. Visão de Águia.
Confesso, que são poucos os momentos que o pensar sobre as artes me [e]leva à voos de águia, com condução de coragem necessária para luta de intrínseca labuta entre arte, cultura e educação. A Professora Glacy adverte:
“Nós devemos ter mais coragem, as vezes eu acho que nós temos menos coragem do que deveríamos, e que sem querer, sem querer, a gente colabora para esse pensamento de que a arte é menor.”
Neste contexto expressa sua preocupação latente com o isolamento da arte, vez que explica que a arte é um sistema, a fisionomia cultural de um povo.
Ao asseverar sua notória percepção crítica pela interconexão das diferentes linguagens artísticas, que traz em discussão as fronteiras tênues oriundas da interterritorialidade, cujas fronteiras perfazem ambientes frutíferos de produções culturais, Glacy Antunes explica quando a arte, a cultura e educação de forma sistêmica perde ao se estabelecer verticalidade pela disputa de poder:
“Cada vez que vejo a área de artes querendo sofrer, assumindo que é diferente, e deixando que as outras áreas pensem que nós não somos importantes, a gente perde em importância...”
E completa:
“Agora o nosso valor – eu não quero que seja maior do que os outros, mas ao mesmo tempo, nós trabalhamos com criatividade, inovação, com inventividade, com beleza também, e também não só com beleza, mas provocando as pessoas através da escultura, do uso dos diversos materiais, do uso das mais diversas intenções musicais e estilos musicais, porque nós não temos só a música clássica, com a qual eu combino mais, mas nós temos tantas músicas, nós temos jazz, temos ópera, temos rap, temos tudo isso aí no mundo... Essa união de diferenças faz um processo cultural.”
Assim, ao segregar qualquer um destes pilares que compõe a tríade entre arte, cultura e educação, advém augúrio mais frágil que se pode abater a promoção autóctone de uma nação autonomamente em todas as conjunturas da sociedade, ao se levar em conta sua formação plena, que vai na contramão da formação tecnicista.
A Professora Glacy nos chama atenção para o “ler, ouvir, saber ler, saber interpretar, essas são as características, as qualidades que deveria se desenvolver nas crianças na escola, o que daria a ela a oportunidade de transitar por diversos caminhos na vida.”
Por isto, importante enaltecer que no Brasil, para analisarmos a info-exclusão, por exemplo, e assuntos adjacentes, em tempo de sociedade mais potencialmente imersa em rede em razão da pandemia, faz-se necessário levarmos em conta problemas de base que antecedem a informática e sua imersão na contemporaneidade, concernentes aos aspectos históricos do Brasil que têm como herança cultural a exploração. A informacional é parte da exclusão arraigada em nosso país desde nossa colonização, acentuada por velhos problemas sociais, como o analfabetismo ou a educação tecnicista, acrítica.
Neste âmbito, a educação digital realizada sob estes preceitos conceituais – que colocam as tecnologias da informação e comunicação no âmbito da educação tecnicista, com ênfase no instrumental – engessa a formação ao aspecto essencialmente técnico, excluindo a utilização destes instrumentos como intermediadores do processo de ensino/aprendizagem e por assim dizer, engessam a capacidade crítica da elaboração/produção da expressão digital crítica no tocante a interterritorialidade comunicacional tão caras à arte, cultura e educação.
Deste modo, incorremos as questões de formarmos mão de obra à serviço de outras nações geradoras de tecnologia, vez que a inovação está no cerne da criação, sendo a criação no cerne do contexto de um determinado problema conduzido pela investigação indócil, curiosa, crítica no bojo da educação ciberlibertária e por isto plena.
Nas artes e seu ensino, em seus aspectos epistemológicos enquanto área de conhecimento no contexto do desenvolvimento da alteridade cultural, a resiliência pelo prisma do fazer e padecer propício da arte como experiência como enaltece John Dewey, poder-se-á promover aspectos estéticos profundos tangíveis à filosofia existencialista para os processos do [re]inventar a vida que, como afirma Glacy Antunes: “nós temos que procurar novas formas de manifestação. A COVID vai estereotipar mudanças fundamentais nos hábitos sociais”.
Neste âmbito, Professora Glacy Antunes exclama:
“Essa questão cultural deveria estar nas escolas.
A arte não é só de um grupo.
Eu não gosto muito quando vejo a arte se auto separar.
Arte para todos e usando linguagens que todos possam entender.
A arte deveria ser propriedade de todos.
O nosso país hoje ter apagado um ministério da cultura é de uma tristeza infinita, porque ele deveria ser o ministério mais atuante de todos, porque ele é o que permeia todas as áreas.”
Assistir a Convers@berta com Glacy Antunes é fator determinante a quem deseja experienciar voo de Águia sob a generosa condução da Mestra Glacy Antunes.
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*Fernanda Cunha é professora da Escola de Música e Artes Cênicas (Emac) da UFG.
Fonte: Secom UFG
Categorias: colunistas Emac