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Universidade Federal de Goiás
Exercício físico

Exercícios intervalados de alta intensidade são efetivos no tratamento do diabetes tipo 2

Em 24/08/21 08:49. Atualizada em 24/08/21 09:43.

Avaliados por pesquisa da UFG, treinos eram realizados por no máximo 24 minutos, duas vezes na semana

Carolina Melo

A prática de exercícios físicos está entre as principais prescrições do tratamento do diabetes mellitus tipo 2 (DM2). E uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de Goiás (UFG) chegou a conclusão de que o treinamento físico intervalado de alta intensidade é mais efetivo do que os programas de treinamento contínuo de moderada intensidade na redução dos danos causados pelo quadro de hiperglicemia. O estudo ressalta, no entanto, a importância da prescrição realizada por equipe profissional qualificada, que deve levar em conta as possibilidades e limitações do paciente.

Conduzido pelo pesquisador Lucas Raphael Bento e Silva, sob a orientação da professora da Faculdade de Medicina (FM) e coordenadora do Núcleo de Pesquisa em Reabilitação Cardíaca (Nuprec) da UFG, Ana Cristina Silva Rebelo, o estudo acompanhou um total 59 adultos, com média de idade de 57 anos, diagnosticados com diabetes mellitus tipo 2 durante oito semanas de treinamento. Eles foram divididos em três grupos, de acordo com a prescrição do treinamento. No primeiro foi realizado um planejamento de treino moderado, com dois minutos de aquecimento e 14 minutos de exercício contínuo na esteira a 70% da velocidade máxima que os voluntários atingiam. 

Pacientes diabéticos voluntários
Pacientes avaliados durante os treinos realizados em 2019

O segundo e o terceiro grupo tiveram treinos de alta intensidade (HIIT). Nesse caso, a corrida é realizada na velocidade máxima que os voluntários conseguem atingir. Um dos grupos realizou aquecimento de dois minutos e, na sequência, cinco corridas na esteira com duração de dois minutos, intercaladas por descansos, também de dois minutos. E o outro grupo, após o aquecimento de dois minutos, realizava 20 corridas de 30 segundos, intercaladas por descansos de também 30 segundos. Os três protocolos de treinamento foram realizados duas vezes na semana e em cada sessão o tempo total de exercícios não ultrapassou 24 minutos.

De acordo com o resultado do estudo, os grupos submetidos aos protocolos de alta intensidade apresentaram melhores adaptações após o fim do programa de reabilitação cardíaca. “Em especial, o treinamento de 20 corridas de 30 segundos se mostrou efetivo quando comparado ao programa com treinamento de moderada intensidade”, afirma o pesquisador Lucas Silva. "Surpreendemos com as respostas positivas do treinamento intervalado de alta intensidade, que, com menos de 50 minutos de treino por semana, conseguiu alcançar resultados no sentido a minimizar os efeitos deletérios do quadro crônico de hiperglicemia”.

Monitoramento

Assim como explicou o pesquisador, o estudo acompanhou o controle autonômico dos voluntários sobre o coração, ou, dito de outra forma, o controle autonômico cardíaco dos pacientes. Ou seja, o funcionamento básico do coração. E, antes de iniciar os treinamentos, o estudo identificou que os voluntários com diabetes tipo 2 apresentavam comprometimento no controle autonômico do coração em comparação com pacientes saudáveis. Em pessoas saudáveis, quando em situações normais, os índices da modulação parassimpática do coração, “que é responsável pelas nossas ações de repouso e digestão, e por nos fazer voltar à calma após situação estressora”, e os índices da modulação simpática, “responsável por nos deixar em alerta em situações que exigem luta ou fuga”, são equilibrados. 

De acordo com a pesquisa, após a avaliação inicial dos voluntários, os portadores de diabetes tipo 2 apresentaram desequilíbrio nesses índices mesmo em situações normais. “Eles apresentaram maiores valores dos índices que correspondem a modulação simpática e menores valores dos índices que indicam a modulação parassimpática quando comparado aos saudáveis”, afirmou Lucas Silva. “Isso, a longo prazo, pode ser perigoso, pois tem o risco de desfechos mais graves ao paciente, como um infarto agudo do miocárdio”

Segundo Lucas Silva, muitos estudos da literatura médica associam a glicemia a esse comprometimento, o que foi confirmado pelo estudo. “Ao realizarmos a análise estatística encontramos que a glicemia de jejum elevada foi capaz de 'prever' o comprometimento autonômico cardíaco”. Nesse sentido, os treinos foram encaminhados tendo em vista “minimizar” esses efeitos da glicemia sobre o controle do coração. “Alguns estudos têm mostrado que a glicemia alta degenera fibras nervosas, fazendo com que o sistema nervoso fique sempre em ‘alerta’, trabalhando mais”, disse.

“E o resultado da nossa pesquisa serviu para confirmar, mais uma vez, a possibilidade de utilização de exercícios de alta intensidade nesses programas com grupos de pessoas com patologias, no nosso caso o diabetes tipo 2”, destaca o pesquisador. Segundo ele, talvez seja possível inferir que na fase inicial da reabilitação cardiometabólica os protocolos de moderada intensidade ainda sejam os indicados. “No entanto, a partir da fase II (e nas fases III e IV) o treinamento intervalado de alta intensidade seja uma ferramenta possível e eficaz em diferentes patologias”.



Fonte: Secom-UFG

Categorias: Saúde destaque FM