
PAPO MUSICAL
A música na vida de Pedro Leopoldina: o gosto pela música do casal imperial
Gyovana Carneiro*

Casamento de Pedro e Leopoldina (alegoria)
Coleção do Museu Histórico Nacional
Em continuidade aos assuntos da música no império, abordaremos o gosto musical do casal Pedro I e da Princesa Leopoldina.
Aos vinte anos a princesa Leopoldina (1797 – 1826) casou-se por procuração com Pedro de Alcântara (1798-1834), futuro D. Pedro I do Brasil e Pedro IV de Portugal.
Naquela época, o casamento entre nobres significava um tratado de relações exteriores, visando interesses políticos e econômicos entre os países envolvidos. Foi pensando em uma boa aliança com a Áustria que D. João VI decidiu casar seu filho com uma arquiduquesa de uma das famílias imperiais mais tradicionais, ricas e poderosas da Europa.
Embora a vida musical de Dom Pedro I não seja muito divulgada, sua ligação com as artes era bem acentuada. Seu professor de música em Lisboa, Marcos Portugal (1762 – 1830), chega ao Rio de Janeiro três anos após a chegada da família real, sendo músico de grande prestígio na corte de Dom João VI.

Marcos Portugal
(Lisboa, 24 de Março de 1762 – Rio de Janeiro, 17 de Fevereiro de 1830)
Já o responsável pela formação musical de Leopoldina, na Áustria, foi o pianista, professor e compositor nascido na Boêmia (atual República Tcheca), Leopold Koželuh (1747-1818), um dos mais destacados compositores tchecos da Viena do século XVIII.

Nicholas Boylston” (1767), óleo sobre tela, 125 x 99,5 cm, do pintor John Singleton Copley, contemporâneo de Kozeluch (Harvard University, Cambridge)
O gosto pela música tanto da princesa como do jovem Pedro foi o primeiro elo de interesse do casal. Os jovens acompanhavam regularmente peças, óperas e concertos, sendo incansáveis na promoção de apresentações musicais na corte.

Hino da Independência (1922)
Augusto Bracet
Óleo sobre tela 2500x 1900 cm
Rio de Janeiro, Museu Histórico Nacional
Na habitação real havia uma sala de música com três pianos, ambiente muito utilizado para o convívio do príncipe e da princesa.
A princesa Leopoldina relatou em carta escrita à tia Maria Amélia em 24 de janeiro de 1818:
“durante o dia, estou sempre ocupada a escrever, ler e tocar música; como meu esposo toca muito bem quase todos os instrumentos, costumo acompanhá-lo no piano e, desta maneira, tenho a satisfação de estar sempre perto da pessoa querida”.
(KANN, 2006, p. 237).
Leopoldina, ao se casar com o Príncipe dom Pedro I não sabia muito bem o que a esperava no Novo Mundo, a princesa trouxe então para o Brasil além de grande comitiva composta de pintores, cientistas e botânicos europeus, um grande acervo de partituras, hoje pertencentes a “Coleção Thereza Christina Maria” da qual falamos no ultimo post.
Muito amada pelos brasileiros, Leopoldina viveu, no Rio de Janeiro, em uma corte pobre e repleta de problemas. Culta, preparada e caridosa, a princesa austríaca foi retratada, até pouco tempo, como uma mulher melancólica e humilhada com os escândalos e relações extraconjugais do príncipe.

A historiografia mais recente tem reivindicado à biografia de Maria Leopoldina uma imagem menos passiva na história nacional. Muito além de uma princesa acanhada e melancólica, Leopoldina teve grande destaque na cultura e na política brasileira.

Incansável na promoção de apresentações musicais na corte, particularmente das obras dos compositores de sua terra natal, a Áustria, a Imperatriz Leopoldina não só era patrona da música, mas também tinha muito interesse em praticá-la. Ao trazer para o Brasil seu acervo de partituras, e praticar estas obras em terras brasileiras, a Princesa Leopoldina contribuiu fortemente para a mudança da forma de compor de compositores que viveram e ou nasceram no Brasil deste tempo histórico.
Outro importante compositor que também fez parte dessa história, é o austríaco Sigismund Neukomm (1778-1858), ministrou aulas para o casal de príncipes produzindo na corte de Dom João VI, no Rio de Janeiro, inúmeras obras musicas.
Ouviremos do compositor S. Neukomm – as “Variações Kozeluch” para Violoncelo e piano interpretado pelo violoncelista Fábio Presgrave e o pianista/pesquisador Max Uriarte.

Observe que essa obra retrata a relação entre os dois dos professores da Princesa Leopoldina. Kozeluch, seu professor na Áustria, e, Neukomm professor no Rio de Janeiro.
Segundo o pianista/pesquisador brasileiro Max Uriarte:
“Neukomm escreveu as variações sobre um tema de Kozeluch no Rio de Janeiro em 1817 a pedido da princesa Maria Leopoldina, futura imperatriz do Brasil. (…) A parte de violoncelo é intencionalmente de secundária importância (tem um único solo, na segunda variação), estando à música mais concentrada na parte de piano. É possível também que Leopoldina tenha executado a obra com seu marido D. Pedro I, futuro imperador do Brasil, ao violoncelo”.
*Gyovana Carneiro é professora da Escola de Música e Artes Cênicas da Universidade Federal de Goiás
Fonte: Secom-UFG
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