
Evento discute mal-estar do pesquisador na pandemia
Adoecimento e ataque à Ciência e às universidades foram analisados pela professora Renata Wirthmann
Cinthia Emidio*
Palestra organizada na última segunda-feira (27) pelo Instituto de Química (IQ) debateu sobre o mal-estar do pesquisador no cenário da pandemia e as disputas ideológicas envolvidas em relação ao ataque à Ciência. O evento teve como palestrante a professora do curso de Psicologia da Universidade Federal de Goiás (UFG), Renata Wirthmann. O encontro foi transmitido pelo canal do WebCiência no YouTube.
A professora Renata Wirthmann relembrou que sua pesquisa sobre o assunto teve início em um evento ocorrido em 2020 que discutiu se a pós-graduação também passaria para o ensino remoto. Nesse sentido, as discussões também se concentraram nas consequências da covid-19. A docente ressaltou que mesmo as pessoas que não foram contaminadas pela covid-19 estão sofrendo as consequências da pandemia. A conjuntura colocou limitações em relação ao trabalho dos pesquisadores que tiveram que se adaptar.
Segundo a professora, o distanciamento social e o isolamento são diferentes do ponto de vista emocional. “O distanciamento social acabou se tornando uma espécie de isolamento que por sua vez levou muitas pessoas a quadros de adoecimento”. Com a pandemia, segundo Renata Wirthmann, não houve um aumento significativo do índice de suicídio, entretanto, esse aumento ocorreu em relação ao nível de pessoas com ansiedade e depressão. Renata relembrou Freud ao afirmar que o sofrimento tende a fazer com que os indivíduos se organizem coletivamente, porém essa organização coletiva também parece trazer sofrimento ao indivíduo, avalia.
Para Renata Wirthmann, as constantes ameaças que atacam os indivíduos causam desamparo. As principais ameaças seriam, de acordo com a professora, ameaças da natureza, como a pandemia, que é o resultado de uma alteração da própria natureza; a fragilidade do nosso corpo, que sofre constantes ataques e ameaças; e a mais potente seria a que se refere aos relacionamentos interpessoais, como as afetações resultantes das medidas adotadas durante a pandemia.
No entanto, a professora afirmou que a ciência, a arte e a religião são coletivos que situam o indivíduo. Segundo ela, não é necessário que o indivíduo precise de todos os coletivos supracitados. Para Renata, o maior obstáculo da humanidade é o impulso à agressão. As multidões se inclinam para o abandono da violência por duas razões: amor e morte. Um exemplo de violência, citado pela docente, é a recusa de algumas pessoas em se vacinar, o que coloca outros indivíduos em risco. Nesse sentido, a vacinação é uma decisão coletiva, mas muitas pessoas tomam como uma escolha pessoal.
A professora avaliou a importância da autoridade externa para o sujeito, que se esforça para satisfazê-la. Assim, em algumas situações, para pertencer a determinado grupo, os indivíduos atacam outros, a que Freud deu o nome de "narcisismo das pequenas diferenças”. Renata explicou que é isso que ocorre no ataque contra os pesquisadores e à universidade pública.
A docente afirmou que o ataque em si não é contra os pesquisadores, mas como forma de demonstrar fidelidade a outro grupo. Segundo ela, nessa situação, não existe preocupação com as pessoas fora desse grupo, por isso a recusa de integrantes em se vacinar. Dessa maneira, informações transmitidas por esse grupo são tomadas como verdade absoluta por seus integrantes, enquanto informações externas, como as vinculadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS), são desconsideradas. De acordo com Renata, com a perda da autoridade, essa verdade absoluta deixará de existir e muitos indivíduos que antes acreditavam nela devem se arrepender. Por fim, Renata acredita que ao final dessa crise a Ciência se fortalecerá. De acordo com a professora, historicamente, grupos atacados durante crises tendem a sair fortalecidos.
*Cinthia Emidio é estagiária de Jornalismo sob supervisão de Carolina Melo e orientação de Silvana Coleta
Fonte: Secom-UFG
Categorias: Humanidades