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Universidade Federal de Goiás
bioensaio de carrapatos: a primeira fileira o grupo controle (carrapatos sadios), e as demais carrapatos tratados com conídios do fungo entomopatogênico Beauveria bassiana (coloração branca).

Pesquisa propõe alternativa de controle de carrapatos e moscas varejeiras

Em 25/10/21 14:00. Atualizada em 26/10/21 15:29.

Estudo recebeu Menção Honrosa do Prêmio Capes de Tese em 2021 na área de Medicina Veterinária

Kharen Stecca

O carrapato dos bovinos, Rhipicephalus microplus, juntamente com as moscas varejeiras causam grandes prejuízos para a pecuária brasileira, estimados em mais de U$ 3,5 bilhões por ano. Os carrapatos além de transmitirem agentes causadores de doenças, como a tristeza parasitária bovina que pode levar o animal a morte, também causam espoliações no couro favorecendo o surgimento de miíases, conhecidas como bicheiras. No Brasil, um dos desafios da agropecuária é controlar esses dois ectoparasitos de forma eficaz. Atualmente, o método de controle mais usualmente empregado se dá por meio do uso de produtos químicos que, quando aplicados de forma incorreta e indiscriminada, favorecem a seleção de indivíduos resistentes e, com isso, diminuem a eficácia destes químicos. Por isso, um estudo da Universidade Federal de Goiás realizado no Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal que recebeu o Prêmio Capes de Tese em 2021 na área de Medicina Veterinária, explorou uma forma de controle alternativa a esses produtos químicos: o biocontrole por meio de fungos entomopatogênicos. O estudo foi realizado pela pesquisadora Elen Regozino Muniz e orientado pelo professor Éverton Kort. 

Fungos entomopatogênicos infectam invertebrados naturalmente; conídios (esporos assexuais produzidos pelos fungos) aderem à superfície do hospedeiro (insetos e outros artrópodes), germinam e proliferam no organismo do artrópode-alvo. O estudo contribuiu com conhecimento que fortalece uma proposta de controle mais sustentável, específica e segura para os animais quando comparado ao uso exclusivo de produtos químicos. 

cadáver de uma mosca tratada com a formulação cera de carnaúba + conídios
Cadáver de uma mosca tratada com a formulação cera de carnaúba + conídios do fungo(Imagens: Arquivo da pesquisadora)

 

A formulação de conídios em cera de carnaúba foi testada para o controle de adultos da mosca varejeira Lucilia sericata. A adição da cera de carnaúba potencializou a eficácia do fungo. Acredita-se que a cera, por possuir característica eletrostática, tenha facilitado a adesão de conídios na superfície da mosca. Uma proposta do estudo é a utilização de armadilhas contendo cera de carnaúba e conídios; neste caso, a mosca adulta infectaria-se ao caminhar na superfície contendo esta formulação. Por ação eletrostática da cera, os conídios aderem à cutícula da mosca e podem ser transferidos para outros indivíduos durante a cópula ou outras interações sociais, contaminando-os mesmo sem entrarem em contato direto com a formulação. Apesar dos resultados favoráveis, não foram feitos ainda testes a campo para o controle de moscas varejeiras. Ainda são necessários mais estudos relacionados à estabilidade do produto, ao efeito de adjuvantes, tempo de prateleira e outros, antes de que a técnica seja disponibilizada à população.

bioensaio de carrapatos: a primeira fileira o grupo controle (carrapatos sadios), e as demais carrapatos tratados com conídios do fungo entomopatogênico Beauveria bassiana (coloração branca).
Bioensaio de carrapatos: a primeira fileira o grupo controle (carrapatos sadios), e as demais carrapatos tratados com conídios do fungo entomopatogênico Beauveria bassiana (coloração branca)

 

Fungos entomopatogênicos também vêm sendo estudados como potenciais agentes para o biocontrole de carrapatos. Durante anos de estudos, diferentes estratégias de aplicação e formulações fúngicas já foram descritas, contudo aplicações à campo ainda não conseguiram atingir a mesma eficácia quando comparada aos testes em laboratório. Portanto, a pesquisa desenvolvida na tese focou no entendimento do mecanismo de infecção destes fungos contra o carrapato-dos-bovinos. Neste caso, foram estudados alguns mecanismos genéticos fúngicos que possuem relação com a virulência destes contra carrapatos. Compreendendo bem o mecanismo de ação conseguiremos estabelecer estratégias de controle mais eficientes.

Inovação

O controle de carrapatos e moscas com fungos entomopatogênicos ainda possui barreiras entre a pesquisa e a aplicação a campo pelo produtor. Entre outros motivos, destaca-se a ação relativamente lenta dos fungos contra carrapatos e a necessidade de grande quantidade de propágulos (estruturas fúngicas que causam infecção e morte do carrapato ou da mosca) para garantir um percentual de controle satisfatório. Estudos relacionados ao mecanismo de ação de um patógeno em seu hospedeiro são importantes para o entendimento do processo de infecção e, neste caso, abre caminhos para novas estratégias que possam potencializar esse processo de infecção; a tese defendida traz contribuições neste sentido.

microscopia eletrônica de varredura da superfície da mosca tratada com conídios do fungo entomopatogênico Beauveria bassiana, detalhe do conídio germinado
Microscopia eletrônica de varredura da superfície da mosca tratada com conídios do fungo entomopatogênico Beauveria bassiana, detalhe do conídio germinado

 

Os testes com a mosca L. sericata foram resultados de um intercâmbio na Universidade de Pisa, Itália, entre os meses de janeiro a julho de 2019, financiado pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg). Durante o intercâmbio foi possível avaliar a patogenicidade de três diferentes espécies de fungos entomopatogênicos que ainda não tem relatos na literatura para o controle de L. sericata. Além disso, foi proposto uma formulação seca a base de conídios e cera de carnaúba que aumentaram a eficácia desses fungos. A característica dessa formulação seca torna-a mais aplicável em condições de campo do que suspensões aquosas convencionalmente estudadas.

A tese foi conduzida também com recursos do CNPq e bolsa da CAPES, e os resultados foram apresentados e premiados no 52nd Annual Meeting of the Society for Invertebrate Pathology realizado em 2019, em Valência, Espanha. Como frutos da tese, além do Prêmio Capes de Teses 2021, podemos destacar ainda a publicação de dois artigos científicos em periódicos de renome internacional. 

Confira artigos publicados sobre a pesquisa:

The Msn2 Transcription Factor Regulates Acaricidal Virulence in the Fungal Pathogen Beauveria bassiana

Carnauba wax enhances the insecticidal activity of entomopathogenic fungi against the blowfly Lucilia sericata (Diptera: Calliphoridae)

Fonte: Secom UFG

Categorias: Ciências Naturais IPTSP EVZ