Pesquisador da UFG utiliza bicarbonato de sódio para avaliar desempenho de jogadores de futebol
Resultado da pesquisa contradiz estudos anteriores que dizem que o composto químico contribui para o aumento do desempenho
Anna Júlia Steckelberg*
É natural que os atletas se sintam fatigados ao praticarem alguma atividade extenuante, seja no âmbito do esporte de alto rendimento, seja no esporte amador ou no exercício físico. Pensando nisso, o educador físico e pesquisador da UFG, Rodrigo dos Santos Guimarães, avaliou o uso de bicarbonato de sódio para atenuar a sensação de fadiga muscular em jovens jogadores de futebol. A pesquisa da UFG chegou a resultados contrários aos estudos anteriores, que afirmam que o composto químico contribui para o aumento do desempenho em atividades de alta intensidade. O estudo constatou que não houve mudanças significativas entre quem utilizou o bicarbonato de sódio e quem não o utilizou. O resultado surpreendeu até mesmo o pesquisador.
De um ponto de vista mais simples, o bicarbonato de sódio funciona como um tamponante, ou seja, aumenta a concentração extracelular de íons bicarbonato, elevando o pH sanguíneo. Mas como isso poderia ajudar atletas? Rodrigo explica que a substância reduz a acidez do músculo, que é produzida durante a prática das atividades e que, consequentemente, gera a sensação de fadiga muscular. Logo, a substância é sugerida como forma de atenuar a fadiga e aumentar o desempenho dos atletas.
Em sua pesquisa, orientada pelo professor da Faculdade de Medicina (FM) do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, João Felipe Mota, o pesquisador quis inovar e realizar os testes em atletas que ainda não haviam sido avaliados: jogadores de futebol adolescentes, da categoria sub-15, de um clube de futebol da cidade de Goiânia. “A ideia inicial de trabalhar com bicarbonato surgiu de uma reunião científica, que eu participava, com o professor da Faculdade de Educação Física e Dança (FEFD) da UFG, Paulo Gentil”, lembra.
Etapas
De acordo com o pesquisador, assim que os atletas chegavam ao clube, faziam o exame de sangue (gasometria arterial), para identificar o nível de pH, e saltavam em um tapete de contato, para avaliar a altura do salto. Segundo o pesquisador, a altura do salto é um marcador de fadiga neuromuscular, que permite identificar possíveis alterações no desempenho físico. Logo em seguida, eles ingeriam o suplemento ou o placebo do bicarbonato (0.3g/kg por peso corporal), que possuíam o mesmo sabor, sendo impossível os jovens perceberem a diferença de um para outro. Depois, esperava-se uma hora e novamente faziam a coleta de sangue, para observar como estavam os níveis de lactato e pH sanguíneos.
Após a segunda coleta de sangue, os atletas realizavam o Rast Test (sprints repetidos). Isto é, um teste de desempenho físico realizado por esportistas, que avalia a potência anaeróbica máxima, a potência média e o índice de fadiga. Eles realizavam seis sprints de 35 metros com intervalo de dez segundos entre eles. Isso feito, reinicia-se a avaliação do pesquisador que aferia as diferenças na altura do salto e no desempenho dos atletas. Rodrigo pretendia observar se o bicarbonato iria produzir aumento do pH no sangue e se o desempenho do atleta seria melhor. Além disso, atentou-se para possíveis reduções da percepção de fadiga, tanto que ao final do teste os atletas respondiam um questionário sobre a percepção subjetiva de esforço (PSE) baseada em escala de 0-10.
“As pesquisas anteriores diziam que o bicarbonato retarda a fadiga muscular, mas em nossa pesquisa não encontramos mudanças significativas no desempenho dos jogadores de futebol investigados. Tivemos apenas dois atletas que tiveram melhora no desempenho, o que nos leva a pensar que eles podem ter uma condição genética diferente dos demais”, explicou Rodrigo sobre os resultados encontrados. Todo pesquisador chega cheio de dúvidas e esperanças para obter os resultados em suas pesquisas, entretanto, muitas vezes, as respostas não vêm como o esperado e, segundo Rodrigo, para a ciência isso é muito interessante. “Esperávamos outra resposta”.
Ele ainda citou que algumas pesquisas têm apontado que, para determinados públicos e modalidades esportivas com predominância aeróbia, não se observa uma resposta positiva em relação ao uso do bicarbonato de sódio. “Entretanto, para atividades com predominância anaeróbia: lutas, crossfit, velocidade, sprints repetidos esse suplemento se mostra promissor”, afirma Rodrigo. Segundo ele, a literatura vem mostrando que há vários caminhos para o uso do bicarbonato, mas não só isso, como também a importância de individualizar a dosagem da suplementação e, assim, evitar possíveis efeitos colaterais como náuseas, desconforto gástrico e vômitos.
A pesquisa é um ponto de partida para outros investigadores, acredita Rodrigo Guimarães. A resposta encontrada em dois atletas abriu um leque de possibilidades, e poderá vir da ciência, a partir de agora, outras linhas de raciocínio, como se há algum polimorfismo genético que determina se os atletas vão responder ou não ao bicarbonato, avalia o pesquisador.
*Anna Júlia Steckelberg é estagiária de Jornalismo sob supervisão de Carolina Melo e orientação de Silvana Coleta
Fonte: Secom-UFG