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Vacinação infantil para Covid-19: o que é preciso saber

Em 08/02/22 11:43. Atualizada em 08/02/22 12:44.

O Jornal UFG conversou com especialistas do Hospital das Clínicas da UFG para tirar dúvidas sobre as vacinas nessa faixa etária

Kharen Stecca

Apesar da ampla espera, a procura pelas vacinas infantis para a Covid-19 nos postos de saúde ainda tem sido baixa em muitas cidades. Um dos motivos é a desinformação que ganha corpo nas redes sociais e que precisa ser combatida com base em evidências científicas de qualidade. As vacinas são seguras e podem fazer a diferença não só para evitar a hospitalização de crianças, principalmente aquelas com comorbidades, como no aumento da cobertura vacinal de toda a população. 

A pedido do Jornal UFG as médicas Lusmaia Damaceno Camargo Costa (Pneumopediatra, Chefe da Unidade da Saúde da Criança e Adolescente do HC-UFG/Ebserh e Docente da FM-UFG) e Maly de Albuquerque (Infectopediatra, Médica do Ambulatório de Infectologia Pediátrica do HC-UFG/Ebserh), responderam as principais dúvidas sobre a vacinação infantil que teve início em Goiânia e em todo o país no mês de janeiro de 2021.  Confira!

Por que é importante vacinar o público infantil?

A importância da vacinação se dá pelo aumento do número de casos na população infantil e pelo risco de casos de Covid-19 graves, ocasionando a internação e aumento de óbitos. Nos EUA, o número de casos em crianças e adolescentes passou de 2% no início da pandemia para 26% dos casos notificados no final do ano de 2021. Em 2021, a taxa de internação entre adolescentes não vacinados foi onze vezes maior do que entre os vacinados. Também nos EUA a letalidade de Covid-19 fora de 0,5%.  No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde até outubro de 2021, ocorreram 2.602 óbitos (mortalidade 0,4%) por Covid-19 em crianças e adolescentes de 0 a 19 anos (dentro do total de 23 milhões de casos e 620 mil mortes por Covid-19). Dentre os 34 mil casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) por Covid-19 entre 0 e 19 anos, 2.602 (letalidade de 7,2%) evoluíram para óbito. Crianças entre 5 e 11 anos, representaram 20% das hospitalizações e 14% dos óbitos nesse grupo. O fato da doença ser mais grave em adultos não significa que ela seja negligenciável do ponto de vista de estratégia de prevenção para a população pediátrica.

Qual o papel da vacinação neste momento?

É importante destacar que o uso das vacinas contra Covid-19 tem como objetivo principal reduzir o impacto de mortes e hospitalizações. A vacina não tem a capacidade de impedir a transmissão do vírus e as formas leves da doença, o que reforça a necessidade de continuar seguindo com as recomendações não farmacológicas: distanciamento social, higienização das mãos e uso de máscaras.

Algumas pessoas têm dúvidas quanto à vacina da Pfizer por ela utilizar uma técnica mais recente. Como ela funciona? Porque a dosagem infantil é menor?

A vacina da Pfizer-BioNTech (COMIRNATY) tem como plataforma tecnológica o uso de RNA mensageiro (mRNA) sintético. O mRNA é a parte genética do vírus que codifica ou estimula o sistema imune da pessoa vacinada para a produção de anticorpos contra a proteína spike, um componente importante do vírus SARS-CoV-2. As vacinas de RNA usam fragmentos de material genético produzidos em laboratório, que codificam uma parte do vírus, como a proteína Spike, por exemplo. Depois que a vacina é injetada, o hospedeiro usa instruções do RNA para fazer cópias dessa parte do vírus e toda a resposta imunológica passa a ser desencadeada. O conceito de vacinas de nanopartículas, como as de RNA mensageiro, é relativamente novo, mas surpreendentemente simples e possibilita que o organismo vacinado produza, por si próprio, os anticorpos. Essa vacina  não tem nenhum componente vivo replicante e não é incorporado ao genoma humano. Depois que o corpo produz uma resposta imunológica, descarta todos os ingredientes da vacina, como descartaria qualquer substância que as células não precisam mais, como uma mecanismo de defesa do corpo humano. A dose estudada em crianças entre 5 anos e 11 anos é de 10 mcg, menor do que a dose de adolescentes e adultos, porque foi considerada segura e eficaz, de acordo com os estudos clínicos. 

E a CoronaVac? Como ela funciona?

Essa é uma vacina que contém o vírus inteiro inativado, morto, portanto não é capaz de causar a doença, da mesma forma que a vacina da gripe. Ao entrar no organismo, esse vírus inativado da vacina é identificado como estranho e desencadeia uma resposta do sistema imunológico. As células captam o vírus, desintegrando-o em seu interior e levando sua proteína Spike (S) para a superfície da célula. A partir de então, os linfócitos detectam a proteína e desencadeiam uma resposta que culmina com a produção de anticorpos. Esses anticorpos entrarão em ação após novo contato com o vírus, enquanto durar a imunidade.

Qual a eficácia da vacina Pfizer e CoronaVac pelos estudos já apresentados?

A Vacina BNT162b2 Pfizer mRNA tem eficácia de 90,7% em crianças de 5 -11 anos, na prevenção de Covid-19 sintomática.  E em adolescentes, a vacina BNT162b (Pfizer) teve efetividade de 94% contra internação por Covid-19, efetividade de 98% contra internação em UTI e todos os óbitos ocorreram em pacientes não vacinados. A vacina Pfizer também tem efetividade estimada de 91% contra a Síndrome Inflamatória (MIS-C). 

A vacina CoronaVac, em estudo realizado no Chile, em crianças e adolescentes, teve eficácia de 74,12% contra Covid-19 sintomática e 90,24% contra hospitalização. A vacina da CoronaVac não apresentou estudos de eficácia em imunodeprimidos.

Qual o esquema de aplicação de ambas as vacinas que deve ser observado pelos pais? 

O Ministério da Saúde recomenda, para a vacina Pfizer, duas doses com intervalo de 8 semanas. O intervalo entre as doses previsto em bula é de 21 dias. Esse intervalo entre as doses pode mudar a depender do município (portanto deve ser consultado junto à secretaria de saúde). Já existe recomendação de dose de reforço para adolescentes acima de 12 anos e para pacientes com comorbidades após 5 meses da 2ª dose. Para a CoronaVac o intervalo é de 4 semanas entre a 1ª e a 2ª dose.

Quais as reações adversas mais comuns? E em que período ocorre após a vacinação?

As reações mais comuns são: fadiga; dor de cabeça; mialgia (dor muscular); náuseas, dor no local da aplicação, eritema e edema em aproximadamente 50%. Esses eventos adversos ocorrem dias ou semanas após a vacina. Esses efeitos são muito semelhantes a muitas vacinas do calendário vacinal da criança. Enquanto que o risco desconhecido da doença de Covid-19 a longo prazo é considerado muito maior que os eventos adversos.

E se a criança estiver com Covid-19 e não souber? Pode ter algum problema?

Se for Covid-19 sintomático, recomenda-se adiar a vacina após 30 dias da melhora dos sintomas. No caso de assintomático ou contactante de Covid-19, com resultado negativo na pesquisa PCR nasal ou nasofaringe, a vacina pode ser realizada. Caso tenha recebido a vacina estando com Covid-19,poderá ocorrer redução da eficácia da vacina, não havendo risco de maiores complicações.

Sobre a preocupação com efeitos colaterais: há algum cuidado específico que deve ser tomado, como por exemplo alergias, doenças pré-existentes?

Não há recomendações prévias específicas para a vacina da Covid-19. Mas a Agência Americana para controle e prevenção de doenças (CDC) recomenda que se houver reação grave na 1ª dose de vacina Pfizer não se deve tomar as doses seguintes (Reação grave seria choque anafilático com dificuldade respiratória e necessidade de uso de adrenalina).

Um dos receios que surgiram devido à informações falsas é o risco de miocardite da vacina. O que é essa doença e como ela foi associada à vacina em alguns casos? Qual o risco de desenvolver essa doença quando uma criança tem Covid-19 comparado à criança que toma a vacina?

Miocardite é um processo inflamatório do músculo cardíaco, que pode ser infeccioso ou não infeccioso. O risco de ocorrer a miocardite pós vacina da Covid-19, está relacionado à 2ª dose da vacina Pfizer, no sexo masculino e adolescente no final da puberdade, após 16 anos, segundo os estudos apresentados pelo fabricante; o risco de miocardite pós vacinal foi cinco vezes maior quando o intervalo vacinal entre primeira e segunda dose foi de 3 semanas em comparação com 8 semanas da 2ª dose vacinal (esquema adotado no Brasil). Também foi verificado risco cinco vezes menor de miocardite na 3ª dose que na 2ª dose da vacina, no estudo de Israel, comparando intervalo de 8 semanas e 3 semanas. Nos dados de vigilância americano, ocorreram 12 casos de miocardite em 8 milhões de doses vacinais Pfizer, em crianças de 5-11 anos; essas crianças tiveram alta hospitalar e com resolução da miocardite. É preciso, no entanto, avaliar a análise de risco/benefício no mundo real, pois a miocardite pode também ocorrer na Covid-19, independente de vacinados ou não. E a ocorrência de hospitalização por miocardite pós vacinal foi menor do que em pacientes com Covid-19 não vacinados.

Os movimentos anti-vacinação não surgiram com a vacina da Covid-19, mas ganharam força com ela. Outras coberturas vacinais no Brasil também estão em risco? 

Houve queda na cobertura para todas as vacinas nos últimos anos. Vários fatores estão envolvidos, porém notícias falsas disseminadas em redes sociais contribuem muito. Segundo pesquisa do IBGE, 13% da população acima de 16 anos deixaram de se vacinar devido a alguma informação falsa, o que é um enorme pesar. Já vimos retorno do aumento de casos de algumas doenças e até ressurgimento de doenças já erradicadas por conta da queda na cobertura vacinal. A Organização Mundial de Saúde listou a hesitação vacinal entre as dez ameaças globais à saúde. O Brasil sempre foi um exemplo na cobertura de doenças imunopreveníveis. E devemos batalhar para melhorar esse cenário.

Porque crianças com comorbidade (ex. Cardiopatas, crianças com síndrome de down) se beneficiam ainda mais da vacina?

O risco de doença grave pela Covid-19 e a letalidade pode ser maior quando a criança apresenta duas ou mais comorbidades. Mas mesmo em crianças sem comorbidades o risco também é elevado.

Quem teve a Covid-19 deve esperar quanto tempo para se vacinar? 

Aguardar 30 dias após melhora dos sintomas.

E se a criança teve uma gripe? Quanto tempo esperar? 

Se o paciente teve quadro gripal leve, não Covid-19, pode se vacinar após melhora dos sintomas (pelo menos 48h sem febre).

Crianças de 11 anos e que completem o esquema vacinal com 12 receberão qual dose? O que os estudos específicos dizem sobre esse caso?

A dose aplicada será aquela indicada para a idade que a criança tiver no momento da vacina. Se ela começou com dose de 11 anos e na segunda ela tiver 12, receberá a dose de 12 anos na segunda. 

Há alguma previsão para vacinar faixas etárias menores do que 5 anos?

Sim, já foi apresentada a solicitação da vacina Pfizer acima de 6 meses no FDA (EUA), e o Chile recomenda a vacina CoronaVac a partir de 3 anos. Em São Paulo, já existe um estudo do Instituto Butantã para vacinar com a CoronaVac a partir de 3 anos.

 

 

Fonte: Secom UFG

Categorias: destaque FM HC Ebserh