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Universidade Federal de Goiás
Papo Musical

PAPO MUSICAL

Em 11/02/22 15:27. Atualizada em 11/02/22 16:56.

A música na semana de arte moderna

Gyovana Carneiro
 
A Música na Semana de Arte Moderna
Semana de Arte Moderna 1922

Pautada em “redescobrir” o Brasil, enaltecendo o nacionalismo com uma proposta de atualizar a intelectualidade brasileira e muni-la de uma consciência nacional, um grupo de jovens artistas, propôs a rejeição ao conservadorismo vigente na produção literária, musical e visual.

Há 100 anos, a Semana de Arte Moderna, inserida nas festividades em comemoração ao Centenário da Independência do Brasil em 1922 – ocorreu entre os dias 13 e 17 de fevereiro, tendo como cenário, o Theatro Municipal de São Paulo.

Theatro Municipal de São Paulo

A efervescência cultural pregada pelos intelectuais paulistanos, daquela época, encontra respaldo e consistência, nas reuniões que aconteciam na casa do mecenas  Paulo Prado (1869-1943)  e daí se origina a ideia de realizar a Semana de Arte Moderna, tendo como modelo a “Semaine de Fêtes de Deauville”,  França.

EMILIANO DI CAVALCANTI – RETRATO DE PAULO DA SILVA PRADO (1869-1943). DÉCADA DE 20 OST ASSINADO CANTO INFERIOR DIREITO. 64 X 52 CM

Apesar de enaltecer a brasilidade, foram as vanguardas europeias que influenciaram diretamente os artistas envolvidos na Semana de 22 e que trouxeram para a arte brasileira um forte desejo de renovação.

 O projeto torna-se realidade através do prestigio de Paulo Prado na sociedade paulistana, conseguindo o patrocínio de barões do café para o aluguel do teatro e a realização do evento.

Outro nome importante trazido para o movimento através de Paulo Prado foi Graça Aranha (1868 – 1931).   Recém-chegado da Europa, como romancista aclamado, deu peso e seriedade às reivindicações dos jovens pertencentes ao grupo modernista.

Graça Aranha (1868 – 1931)

“Polêmica, confusa, barulhenta”, tida como “demasiado festiva” e “pouco moderna”, não se pode negar que a Semana de Arte Moderna de 1922 foi um marco, um divisor de águas no panorama artístico brasileiro.

A Semana fez o papel divulgador da arte moderna, não só em 1922, mas também, abriu as portas para um discurso modernista que conseguiu, depois de 22, cultivar terreno para a consolidação de uma revolução artística e literária que influenciou a estética nos anos seguintes.

Um século depois, o mito da Semana de 1922, por muitos anos enaltecidos por setores da intelectualidade brasileira, é objeto de novas abordagens, que revisitam o movimento e a sua produção artística com suas contribuições e contradições.

Sem um programa estético definido, a Semana, que na realidade foram três dias de espetáculo. Tiveram em seus principais articuladores ideológicos, Mário e Oswald de Andrade, o clamar pela liberdade de expressão e pelo fim de regras na arte.

Mario de Andrade (1893-1945) retratado por Lasar Segall e Oswald de Andrade (1890-1954)  retratado por Tarsila do Amaral

No tocante a música, a Semana não a priorizou. O compositor Villa-Lobos (1887 – 1959) apresentou obras relevantes, mas, que já haviam sido compostas antes das manifestações de 22. 

Heitor Villa-Lobos (1887 – 1959)

O compositor, pianista e maestro Ermani Braga (1888 – 1948) fez uma crítica a Chopin (1810 – 1849) ‘A Emoção Estética na Arte Moderna’ – o que levaria a pianista Guiomar Novaes (1894 – 1979) a protestar publicamente contra os organizadores da semana, mesmo tendo participado do evento como a grande pianista que já era.

Ermani Braga (1888 – 1948)

Estudos mais recentes questionam o silenciar de grandes compositores brasileiros que não se utilizaram da “brasilidade” e tiveram suas obras ligadas a tradição europeia pela Semana de Arte Moderna.

Em entrevista recente para a revista IHU On-Line, comenta o Professor/Historiador Frederico Oliveira Coelho:

“A grande contribuição ‘moderna’ para nossa música veio de outro universo não incorporado pelos escritores e artistas plásticos modernistas de São Paulo. Veio da música popular urbana, que tornou-se até hoje um legado para os músicos de todas as gerações”.

 O momento é de celebrar os 100 anos da Semana de Arte Moderna. Um marco na história da arte brasileira com suas contradições, erros e acertos. É hora de refletir e valorizar a arte e o artista brasileiro. Sempre!

Veja abaixo a programação completa da Semana de Arte Moderna de 1922 e ouça a grande pianista Guiomar Novaes interpretando “O ginete do Pierrozinho” do compositor brasileiro Heitor Villa-Lobos. Essa obra foi composta (1920), dois anos antes da semana de 22, e, apresentada por Guiomar no dia 15 de fevereiro, dentro da programação da Semana de Arte Moderna.

13 de fevereiro (Segunda-feira)

ROTEIRO
1ª PARTE Conferência de Graça Aranha: “A emoção estética na arte moderna”, ilustrada com música executada por Ernani Braga e poesia de Guilherme de Almeida e Ronald de Carvalho.   Música de câmara: Villa-Lobos, Sonata II para violoncelo e piano (1916), com Alfredo Gomes e Lucília Villa-Lobos; Trio Segundo para violino, violoncelo e piano (1916), com Paulina d’Ambrósio, Alfredo Gomes e Fructuoso de Lima Vianna.
2ª PARTE Conferência de Ronald de Carvalho: “A pintura e a escultura moderna no Brasil”.
Solos de piano por Ernani Braga: “Valsa Mística” (1917, da Simples Coletânea); “Rodante” (da Simples Coletânea); A fiandeira. Octeto (Três danças africanas): “Farrapos” (1914, “Danças dos moços”); “Kankukus” (1915, “Danças dos velhos”); “Kankikis” (1916, “Danças dos meninos”). Violinos: Paulina d’Ambrosio, George Marinuzzi. Alto: Orlando Frederico. Violoncelos: Alfredo Gomes; baixo: Alfredo Corazza. Flauta: Pedro Vieira. Clarinete: Antão Soares. Piano: Fructuoso de Lima Vianna.
Programação da Semana de Arte Moderna de 1922 (13/02)

15 de fevereiro (Quarta-feira)

ROTEIRO
1ª PARTE Palestra de Minotti del Picchia, ilustrada com poesias e trechos de prosa por Oswald de Andrade, Luiz Aranha, Sérgio Milliet, Tácito de Almeida, Ribeiro Couto, Mário de Andrade, Plínio Salgado, Agenor Barbosa e dança pela senhorita Yvonne Daumerie.  
Solos de piano por Guiomar Novaes: Blanchet: Au jardin du vieux Sérail.Villa-Lobos: O ginete do pierrozinho.Debussy: La soirée dans Grenade.Debussy: Minstrels.
INTERVALO Palestra de Mário de Andrade de Andrade no saguão do Teatro. 2ª PARTE Conferência de Ronald de Carvalho: “A pintura e a escultura moderna no Brasil”. Palestra de Renato Almeida: “Perennis poesia”
Canto e piano por Frederico Nascimento Filho e Lucília Villa-Lobos: Festim Pagão(1919); Solidão (1920); Cascavel Quarteto terceiro (cordas, 1916). (1917); Violinos: Paulina d’Ambrosio, George Marinuzzi. Alto: Orlando Frederico. Violoncelos: Alfredo Gomes
Programação da Semana de Arte Moderna de 1922 (15/02)

17 de fevereiro (Sexta-feira)

ROTEIRO
1ª PARTE Villa-Lobos: Trio Terceiro para violino, violoncelo e piano (1918), com Paulina d’Ambrosio, Alfredo Gomes e Lucília Villa-Lobos. Canto e piano por Maria Emma e Lucília Villa-Lobos Historietas, de Ronald de Carvalho (1920): “Lune d’octobre”; “Voilà la vie”. “Jouis dans retard, car vite s’sécoule la vie”. Sonata II para violino e piano (1914), com Paulina d’Ambrosio e Fructuoso de Lima Vianna. 2ª PARTE Solos de piano por Ernani Braga: “Camponesa cantadeira” (1916, da Suíte floral); “Num berço encantado” (1919, da Simples Coletânea); Dança infernal (1920). Quarteto Simbólico (expressões da vida mundana): flauta, saxofone, celesta e harpa ou piano com vozes femininas em coro oculto (1921), com Pedro Vieira, Antão Soares, Ernani Braga e Fructuoso de Lima Vianna.
Programação da Semana de Arte Moderna de 1922 (17/02)

Observe a “brasilidade” na música de Heitor Villa-Lobos na interpretação dessa grande pianista. Segundo Villa-Lobos: (…) o meu primeiro livro foi o mapa do Brasil. O Brasil que eu palmilhei, cidade por cidade, estado por estado, floresta por floresta, perscrutando a alma de uma terra”.

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*Gyovana Carneiro é professora da Escola de Música e Artes Cênicas da Universidade Federal de Goiás

O Jornal UFG não endossa as opiniões dos artigos e colunas, de inteira responsabilidade de seus autores.

Fonte: Secom UFG

Categorias: colunistas Emac