Carne suína: será mesmo uma vilã?
Milena Sousa Rodrigues*
Amoracyr José Costa Nuñez*
Vivian Vezzoni de Almeida*
Quem nunca ouviu alguém falar que carne suína é muito remosa, isto é, gordurosa? Ou até mesmo que o consumo de carne suína, crua ou mal passada, transmite doenças ao homem? Pois bem! Se pensarmos na história das relações entre produção e consumo de carnes, é muito provável que nenhuma proteína animal tenha sido tão injustiçada quanto à carne suína. Embora muito consumida na China e em diversos países europeus, como Dinamarca, Alemanha e Espanha, a carne suína ainda não faz parte da rotina alimentar do brasileiro devido às crenças enraizadas na nossa sociedade.
Para desmistificar essas narrativas, vamos dar início ao mito que, sem dúvidas, é o mais recorrente: “Carne suína é muito gordurosa?”. Fazendo uma retrospectiva da suinocultura nacional, sabe-se que no final da década de 70, a acessibilidade e o baixo custo dos óleos vegetais somados às preocupações da população com a saúde ocasionaram a descontinuação do uso da banha (gordura animal) no preparo dos alimentos nos lares dos brasileiros. Desde então, os programas de melhoramento genético, em conjunto com estratégias de manejo nutricional, ambiental e sanitário adequados, foram focados na produção de suínos com menos gordura e maior rendimento cárneo. Portanto, o suíno entregue hoje à população não possui nenhuma relação com o suíno tipo banha criado em pocilgas de meados do século passado.
E não vamos parar por aí. A carne suína, assim como qualquer carne de outra espécie animal, apresenta cortes com menor teor calórico e lipídico, não justificando a campanha contra o seu consumo. Uma das ações assertivas do setor suinícola foi a disseminação de novos cortes suínos no varejo brasileiro, tais como carne moída, bife de alcatra, medalhões de filé mignon, costelinha em cubos, todos oferecidos sem a gordura aparente, a fim de estimular o consumo da população não somente em eventos festivos, mas também ser uma opção para o almoço, o jantar ou o churrasquinho do fim de semana. Dessa forma, fica claro que a escolha do corte suíno, seja com mais ou menos gordura, é do consumidor, sendo incorreto generalizar que a carne suína é mais gordurosa do que outros tipos de carne.
Ah, sabe aquela recomendação de que a carne suína deve ser bem cozida, ao ponto de deixá-la esturricada, pois, do contrário, é perigosa para a saúde humana por transmitir doença? Esqueça! Isso é história do passado. A produção intensiva de suínos associada às melhorias de instalações, manejo, ambiência, nutrição e bem-estar animal, bem como a adoção de programas de biosseguridade nas granjas, oferecem uma carne suína que atende, com excelência, o novo perfil do consumidor. Hoje, processos rigorosos de inspeção sanitária nos frigoríficos garantem a segurança alimentar que o consumidor deseja. Portanto, a carne suína inspecionada e com garantia de procedência é segura para o consumo humano. É claro que a escolha do ponto de cozimento da carne suína depende do gosto pessoal, mas lembre-se de que o tempo de cocção irá afetar a suculência e o sabor do corte suíno escolhido.
Mesmo nos dias de hoje, os mitos sobre a carne suína perduram em formadores de opinião do nosso país. Na era digital em que vivemos, não nos falta informação, mas sim capacidade de filtrar o que é verdade, o que é mentira, de articular ideias e ter senso crítico. Unir esforços para educar e fornecer informações apoiadas em referências científicas é vital para romper antigos paradigmas associados à carne suína, bem como garantir que a população usufrua da riqueza nutritiva dessa proteína animal. Esperamos que a má impressão sobre a carne suína tenha sido revertida e, lógico, nossa conversa sobre suinocultura poderia durar muito tempo, mas para não nos estendermos tanto, esperamos vocês em uma próxima.
*Milena Sousa Rodrigues é graduanda do curso de Agronomia (EA/UFG)
*Amoracyr José Costa Nuñez é pós-doutorando do PPGZ (EVZ/UFG)
*Vivian Vezzoni de Almeida é professora de Produção de Suínos (EVZ/UFG)
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Fonte: Secom UFG