Estilo cinematográfico de cineasta indicado ao Oscar é tema de pesquisa
Pesquisa analisa elementos narrativos em dois filmes do diretor americano Paul Thomas Anderson
João Pedro Santos Ferreira
Qualquer pessoa que se autodenomina um cinéfilo, certamente, já ouviu falar do nome Paul Thomas Anderson. Responsável por filmes aclamados e cultuados como “Magnólia”, “Sangue Negro” e “Trama Fantasma”, o diretor norte-americano é conhecido por filmes que trabalham as relações interpessoais. Aqueles que estudam na área do cinema também reconhecem o termo “mise-en-scene”, definido como “o design de palco e o arranjo de atores em cenas para uma produção de teatro ou filme, por "Aspectos midiáticos e culturais do estilo cinematográfico: a mise-en-scene" na obra de Paul Thomas Anderson”. A pesquisa de Thiago da Silva Rabelo, realizada na Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal de Goiás analisa os dois assuntos, trabalhando a mise-en-scene em “Sangue Negro” e “Trama Fantasma”, dois dos filmes de Anderson.
Na opinião do autor, a mise-en-scene, conceito explorado na dissertação, é de suma importância para a análise fílmica. “É um conceito muito rico e não muito explorado [na pós-graduação brasileira atualmente] [...] e ainda pode trazer muitos debates à tona, principalmente se você pensar o cinema como uma coletividade”, diz Thiago, ressaltando que a mise-en-scene deveria ser vista como produto central do fazer cinematográfico, já que abarca aspectos muito além da direção, como design de figurinos, direção de arte. “Futuramente, vou continuar pesquisando a mise-en-scene e até trazendo questionamentos sobre pessoas que dizem que já é um conceito datado. [...] Eu acho que ainda há muita coisa pra ser estudada”, finaliza.
De acordo com Thiago, a ideia para a dissertação surgiu de uma relação já existente com os filmes de Anderson, que inclusive rendeu muitos outros trabalhos acadêmicos além deste aqui trabalhado. “Minha cabeça no mestrado era mais ou menos assim: os artigos servem não apenas para que eu refletisse sobre questões específicas [...], mas também como prática, um treinamento para a dissertação. Então, pensei nos artigos como desdobramentos naturais da dissertação, de modo que tudo que eu fiz na dissertação sobre os filmes possui derivações nos artigos”, explica ele, fazendo isso para otimizar o curto tempo de mestrado.
Para filtrar mais sua abordagem, Thiago reduziu o alcance do seu trabalho aos filmes “Sangue Negro” e “Trama Fantasma”, descartando filmes com elencos maiores, como “Magnólia” e “Boogie Nights”, mas mesmo assim, o autor se diz capaz de identificar alguns momentos destes filmes que combinam com os aspectos mencionados na dissertação. “A abertura [de Boogie Nights] já é muito Paul Thomas Anderson, com aquela câmera na grua, que gira, mostra o letreiro da boate, mergulha nessa boate, dança com os personagens, acompanha a garota de patins e chega até o Dirk Diggler, nosso protagonista”, exemplifica ele, destacando a eficácia técnica da cena de abertura como uma ótima construção da trajetória narrativa do personagem principal.
Alguns cineastas tendem a demorar um pouco para estabelecerem um estilo próprio, mas Thiago acredita que Anderson começou a estabelecer o seu desde o seu primeiro filme, “Jogada de Risco”, lançado em 1996. “Nos próprios curtas-metragens dele, já havia um interesse por movimentos de câmera muito complexos, e que emulam sentimentos específicos. Tem o ‘Cigarettes & Coffee’, que foi o curta que introduziu ele em Sundance, onde ele usa o vai-e-vem da câmera em um estilo Godard, pra criar uma tensão na dinâmica entre dois personagens que estão em um café”, exemplifica o autor, ressaltando que “Jogada de Risco” acabou sendo uma homenagem aos cineastas que inspiraram Anderson a seguir sua carreira, através de suas obras.
Oscar - A obra mais recente de Paul Thomas Anderson, “Licorice Pizza”, foi indicada a três categorias no Oscar: Melhor Filme, Direção e Roteiro Original, esta última sendo a categoria em que o filme possui mais chances de ganhar, de acordo com Thiago. E, mesmo com a abordagem do diretor sendo completamente diferente da de “Sangue Negro”, por exemplo, Thiago foi capaz de identificar algumas características da mise-en-scene analisada na dissertação. “Existem vários movimentos de câmera complexos, absurdos até. Existe aquele desapego da narrativa. É um filme totalmente de ‘fluxo de memória’, de memória de uma época específica. [...] Ele está tendo um novo contato com coisas que ele viveu, que ele ouviu. [...] Você vai ver ‘Licorice’ pra ver capítulos mesmo, de uma memória. Situações isoladas, que no todo, têm uma complexidade estrutural ali na narrativa, mas que não têm a intenção de contar uma história com início, meio e fim”, explica.
Fonte: Secom ufg
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