Boletim de Conjuntura Econômica de Goiás – Nº 144, abril de 2022

Entre os vários impactos do conflito entre a Rússia e a Ucrânia, estão as sucessivas elevações dos preços das commodities agrícolas, contribuindo para o aumento da inflação em nível global e afetando tanto os países pobres quanto os mais avançados. No Brasil, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou seus últimos resultados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), referentes ao mês de abril/2022, mostrando que a inflação aferida por esse indicador alcançou o maior valor para um mês de abril do período pós Plano Real (1,73%). Em Goiânia, o resultado superou o nacional (1,98%) e foi o maior para o mês de abril em 16 anos.

Dentre os dez itens com as maiores altas no IPCA-15 de abril/2022, oito pertencem ao grupo de Alimentação e bebidas. Por sua importância, sobretudo para a população mais pobre, por aqui também tem chamado a atenção o aumento dos preços dos produtos derivados de commodities agrícolas, que têm a Rússia e a Ucrânia entre os grandes produtores e exportadores globais. A ausência desses países no mercado internacional tem provocado, por exemplo, escassez de óleo de cozinha em alguns países europeus, fortemente dependentes das importações russas e ucranianas de óleo de girassol, cujo processo encontra-se paralisado neste momento, por razões óbvias. Os ucranianos são os principais produtores mundiais de óleo de girassol, seguidos justamente pelos russos. Juntos, Rússia e Ucrânia são responsáveis por cerca de 80,0% das exportações globais do produto.

A Índia e a China, que também são grandes consumidores de óleo de girassol, têm buscado alternativas para importar óleos vegetais de outros países, dentre os quais o Brasil. Os resultados desse processo dificilmente seriam diferentes: somente em abril/2022, o preço do óleo de soja teve aumento de 11,47% e já acumula elevação de 18,26% em 2022, como evidenciam os resultados do IPCA-15. 

O óleo de soja, costumeiramente mais barato, é o mais consumido no Brasil. As outras opções que geralmente são encontradas nas gôndolas dos supermercados brasileiros, além de serem mais caras, também têm seus preços afetados pela guerra entre a Rússia e a Ucrânia. Cumpre mencionar que o preço do óleo de soja já havia aumentado 102,87% em 2020 e 5,22% em 2021. Ou seja, considerando apenas o período que se sucedeu ao início da pandemia da Covid-19, o preço do óleo de soja no Brasil aumentou 152,43%.

A farinha de trigo e o pão francês também são exemplos de produtos derivados de commodities agrícolas com negociação no mercado internacional, cujos preços têm se elevado no mercado doméstico por influência da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, que produzem cerca de 14,0% e acumulam 29,0% das exportações de trigo no mundo. Em abril/2022, o IPCA-15 apurou a elevação de 6,02% do preço da farinha de trigo e de 4,36% do preço do pão francês. No ano, os dois produtos acumulam alta de 12,31% e de 7,91%, respectivamente. 

A última Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), feita pelo IBGE em 2017-2018, mostrou que cerca de 20% das famílias brasileiras se encontravam em

situação de insegurança alimentar moderada ou grave no período da pesquisa. Por certo, o percentual de pessoas passando fome atualmente está bem acima, em razão do processo de corrosão do poder de compra a que está submetido a população brasileira, puxado por produtos essenciais e de difícil substituição. 

Nesta semana, a Câmara dos Deputados aprovou a Medida Provisória 1.076/21, que institui o valor mínimo de R$ 400,00 para as famílias beneficiárias do Auxílio Brasil de forma permanente. Trata-se de um avanço em relação a uma política necessária para o combate à fome, mas a escalada dos preços dos alimentos no país nos últimos dois anos aponta para a necessidade de se aumentar o valor desse benefício. Alguns congressistas estão defendendo o aumento do auxílio para R$ 600,00. Vejamos o que ocorrerá no Senado, que ainda precisa aprovar a Medida.

Boletim de Conjuntura Econômica de Goiás – N. 144/abril de 2022. Equipe Responsável: Prof. Edson Roberto Vieira e Prof. Antônio Marcos de Queiroz.