Energia nuclear também é assunto brasileiro
A questão foi tema de colóquio no Instituto de Física da UFG baseado em livro lançado pelo professor Carlo Patti, em 2021
Janyelle da Mata
Mostrar os planos nucleares do Brasil desde a Segunda Guerra Mundial até 2018 e discutir a posição brasileira frente ao Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) e as parcerias que o país acordou dentro desse contexto. Essas foram algumas das contribuições da palestra “O Brasil e a Bomba Atômica - O Brasil na ordem nuclear global 1945 – 2018” realizada no Instituto de Física da UFG no dia 1/06. O colóquio foi comandado pelo professor da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Federal de Goiás (FCS-UFG), Carlo Patti.
A inserção do Brasil no debate mundial do controle da energia nuclear foi a questão central do colóquio. A busca do país pela autonomia sob o ciclo completo do urânio também teve seu espaço dentro da discussão. Carlo Patti explicou que após o bombardeio de Hiroshima e Nagasaki pelos Estados Unidos, a maior preocupação da Organização das Nações Unidas (ONU) era que o enriquecimento do urânio fosse utilizado apenas para fins pacíficos, como a geração de energia.
O professor falou sobre o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), que foi assinado em 1967 e permite que países que tenham feito testes com bombas nucleares até 1º de janeiro do mesmo ano tenham posse dessas armas. Os países tolerados são Estados Unidos, Rússia, China, Reino Unido e França. E proíbe qualquer tentativa de utilização do urânio para fins militares para os demais países. Mesmo com a proibição, Índia, Paquistão e Coreia do Norte fizeram testes e detém hoje armamento nuclear.
Na palestra o professor desmistificou a possibilidade de uma bomba atômica brasileira, mas que existiram tentativas e propostas, principalmente durante o período da Ditadura Militar, para finalidades pacíficas como a mudança do curso de um rio. Nesse trajeto o Brasil contou com alguns parceiros, como os Estados Unidos, que cedeu Angra I para geração de energia, localizada em Angra dos Reis, China, que cedeu equipamentos para o enriquecimento do urânio e também a Argentina, uma colaboração de resistência às pressões externas contrárias aos programas nucleares.
Durante o governo de Fernando Collor as tentativas de elaboração de armamento nuclear foram cessadas, continuando com projetos de enriquecimento de urânio para geração de energia. Por fim, Carlo Patti deu um panorama atualizado do posicionamento brasileiro sobre essa energia. Ele relembrou que durante o governo Dilma Rousseff em 2014 foi inaugurado o estaleiro para a construção de um submarino com propulsão nuclear. A previsão é que seja usado em 2023.
A palestra foi baseada no livro Brazil in the Global Nuclear Order, 1945-2018 que foi publicado pela editora Johns Hopkins University Press, de Baltimore, nos Estados Unidos, em 2021. A obra é fundamentada em entrevistas com ex-presidentes e personalidades, em cientistas e em documentos que eram sigilosos. Segundo o professor, o livro é resultado de um projeto de cerca de dez anos.
Fonte: Secom UFG
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