UFG, WWF-Brasil e Araticum lançam a Plataforma de Monitoramento da Restauração do Cerrado
Ferramenta digital tem o objetivo de auxiliar no combate à degradação do bioma
Eduardo Borges
Monitorar o Cerrado é fundamental para que políticas públicas possam ser definidas e impactos sejam mensurados: essa é a visão do diretor de conservação e restauração do World Wildlife Fund Brasil (WWF-BR), Edegar Rosa. Partindo desta ideia, foi criada a Plataforma de Monitoramento da Restauração do Cerrado, desenvolvida pelo Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (Lapig/UFG), WWF-Brasil, Articulação pela Restauração do Cerrado (Araticum) em parceria com o Observatório da Restauração e do Reflorestamento. A ação tem como norte a meta nacional estipulada pelo governo para que 12 milhões de hectares sejam restaurados até o ano de 2030. Com isso, a plataforma vem para auxiliar no cumprimento deste propósito, compilando dados espaciais para garantir a transparência dos projetos deste tipo, subsidiar novas oportunidades, combater a desinformação e fiscalizar áreas em risco.
O evento de divulgação da plataforma ocorreu na última sexta-feira (3/6) de forma híbrida, na sede da WWF-Brasil em Brasília-DF com transmissão simultânea no canal oficial do Youtube da Araticum. A data foi escolhida para coincidir com o dia mundial do meio ambiente, que é celebrado no dia 5 de junho.
Funcionamento
A Plataforma de Monitoramento da Restauração do Cerrado funciona de forma intuitiva, justamente para que qualquer pessoa possa acessar e conferir os dados. Basta entrar no site cepf.lapig.iesa.ufg.br, clicar na sub-plataforma “Restauração” e depois em “Acesse a Plataforma”. Após isso, um mapa será aberto para que as funcionalidades possam ser exploradas.
No canto superior esquerdo, há uma série de opções para guiar o acesso às informações desejadas. É possível filtrar a busca por região, Código da Propriedade Rural (CAR) ou nome da Unidade de Conservação (UC). Há também a opção de camadas, que exibem dados como áreas restauradas, iniciativas da Araticum, florestas plantadas, todas com suas respectivas cores apontadas na legenda presente no canto inferior direito.
Origem
A história do projeto começa no ano de 2016, quando o Lapig UFG inicia uma ação financiada pelo Critical Ecosystem Partnership Fund (CEPF), para a construção da chamada “Plataforma de Conhecimento do Cerrado”. O analista de infraestrutura do Lapig, Renato Silveira, conta que o programa tinha o objetivo de promover o compartilhamento de dados e informações seguras sobre os ecossistemas do bioma.
Em 2021, o Lapig passa a integrar a equipe da coalizão no Observatório da Restauração e Reflorestamento, no qual estabeleceu a união de objetivos (conhecimento e monitoramento da restauração), surgindo assim a plataforma lançada. Dessa forma, o Lapig faz a manutenção do site, além de contribuir em decisões estratégicas para o desenvolvimento do programa.
Araticum
De acordo com a plataforma, existem hoje cerca de 90 hectares em restauração, sendo a técnica do plantio de mudas o método mais utilizado, compreendendo 44% das formas de ação. Semeadura direta compreende 30% e Sistemas Agroflorestais (SAFs) 16%.
“O Cerrado é a savana mais biodiversa do mundo e uma das mais ameaçadas pelo desmatamento no Brasil em proporção territorial. Já perdemos 50% do território e temos aproximadamente 8% de áreas efetivamente protegidas. Estima-se um passivo ambiental de mais de dois milhões e meio de hectares de Áreas de Preservação Permanente (APPs) e um défict de cinco milhões de hectares de reserva legal. Esses números evidenciam a importância do cumprimento dos acordos internacionais e a implementação efetiva do código florestal”, afirma a representante da WWF-Brasil e membra da Araticum, Carolina Marcial.
Neste cenário, surgiu a rede Araticum, que tem como finalidade o fortalecimento dos projetos de restauração, auxiliando instituições que isoladamente não conseguiriam causar impactos. O nome faz referência ao fruto do Cerrado, botanicamente classificado como infrutescência, ou seja, uma articulação de vários frutos. A secretária executiva da Araticum, Alba Cordeiro, explica que tal definição entra em consonância com os objetivos do grupo, pois são diversos setores atuando com o mesmo objetivo, que é a viabilização da restauração em larga escala do Cerrado. No âmbito da Araticum, existem hoje aproximadamente 52 instituições parceiras e 80 membros espalhados por todos os Estados brasileiros que compõem o bioma Cerrado.
Futuro
O analista ambiental do Instituto Internacional de Educação do Brasil e líder do GT de inteligência territorial da Araticum, Michael Jackson, reforçou que a comunicação é uma peça fundamental para o desenvolvimento do projeto. Com isso em mente, a capacitação dos membros deve ser uma das prioridades para que os dados sejam passados com rigor técnico e científico.
Já o líder da força tarefa da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, Rubens Benini, afirma que os próximos passos da plataforma envolvem a junção de dados quantitativos e qualitativos para melhorar os índices ecológicos. Assim, será possível apresentar dados ambientais e também sócioeconômicos. Para Rubens, o projeto “É um pequeno passo para a restauração, mas um enorme passo para a humanidade.”
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