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Universidade Federal de Goiás
varíola de macaco

O que se sabe sobre a varíola dos macacos?

Em 04/07/22 10:04. Atualizada em 04/07/22 11:09.

Acompanhe a entrevista com a professora e pesquisadora da área de virologia do IPTSP, Menira Souza, sobre o assunto

Marina Sousa

A Varíola dos macacos causada pelo vírus monkeypox, do gênero Orthopoxvirus, tem ocupado recentemente as manchetes dos jornais em todo mundo, causando certa preocupação. A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Goiânia monitora três casos da doença. De acordo com o informe da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério da Saúde, publicado em 29 de junho, foram confirmados 5.080 casos distribuídos em 50 países, no Brasil há 76 casos confirmados e o Distrito Federal confirmou o primeiro caso na noite de sexta-feira (2/7).

O vírus é comumente encontrado em diferentes espécies de primatas não humanos e em roedores na África Ocidental e Central. Os surtos passados foram causados nos Estados Unidos principalmente pela comercialização de animais exóticos como os cães da pradaria como animais de estimação. Segundo a SVS, para evitar que haja um estigma e ações contra os Primatas Não Humanos (PNH) do gênero Macaca, optou-se por não denominar a doença no Brasil como Varíola dos macacos pois, embora tenha se originado em animais desse gênero, o surto atual não tem relação com ele. Apesar do estrangeirismo, uma tentativa de solucionar a situação foi a de usar a denominação dada pela OMS “Monkeypox”. Tudo isso com intuito de se evitar desvio dos focos de vigilância e ações contra os animais. O primeiro caso humano de monkeypox foi registrado em 1970. A  Organização Mundial da Saúde (OMS) diz trabalhar com a hipótese de que o surto na Europa teria sido causado por hábitos sexuais.

A professora e pesquisadora da área de virologia do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP/UFG), Menira Souza conta também que há casos recentes envolvendo homossexuais do sexo masculino, com média de idade de 37 anos e que nunca foram vacinados contra a varíola, entretanto, essa hipótese de transmissão está sendo investigada, e que de forma nenhuma deve-se estigmatizar essa questão. Ela complementa que a grande maioria dos casos pelo mundo tem ocorrido em pessoas com histórico de viagem pela Europa e América do Norte, e que medidas para conter a disseminação do vírus devem ser tomadas.

 Menira Souza
Professora do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP/UFG), Menira Souza.(Foto: Arquivo pessoal)

 

Confira a seguir trechos da entrevista com a professora, Menira Souza

A Varíola dos Macacos  pode se tornar um problema de saúde pública? Os casos devem ser monitorados e acompanhados com atenção, e medidas preventivas devem ser instituídas, antes que o vírus se espalhe na população. Isso deve ser feito com o monitoramento de contatos de positivos, quarentena e isolamento dos casos e possivelmente a vacinação no futuro próximo de alguns grupos que possam estar em maior risco.

A doença é um vírus de qual tipo?  É um vírus da família Poxviridae, gênero Orthopoxvirus, da qual também fazem parte outros poxvirus como o vírus da varíola que acometia humanos e o cowpox que acomete bovinos. A varíola dos macacos é uma zoonose, pois o vírus pode ser transmitido de animais para seres humanos, e como temos acompanhado ela é uma doença também transmissível de pessoa para pessoa. A varíola de ocorrência natural foi erradicada em todo o mundo na década de 1980, após décadas de utilização de vacinas na população mundial.

varíola dos macacos
Micrografia eletrônica do vírus da varíola (Foto de Cynthia S. Goldsmith)

 

Como se dá a transmissão da doença ? O indivíduo suscetível pode ser infectado através do contato com fluido de vesículas que contém uma grande quantidade de vírus (lesões características na mucosa e pele de infectados), pelo próprio contato direto pessoa a pessoa, pela via respiratória (contato com gotículas de saliva e aerossóis).  O período de incubação é de geralmente 6 a 13 dias, mas pode durar mais tempo.

Quais são os sintomas da doença? Inicialmente o indivíduo pode ter febre, dor de cabeça, inchaço dos linfonodos, dor muscular e fraqueza. Dentro de 1 a 3 dias dos sintomas iniciais aparecem manchas na pele. Elas são mais concentradas na face, extremidades e mucosas. As manchas evoluem para pápulas e vesículas que podem conter líquido com muitas partículas virais e depois se transformam em pústulas e formarem crostas. Em geral, a doença é autolimitada e se resolve em 2 a 4 semanas. Os índices de mortalidade são baixos entre 1 a 11%, dependendo do grupo populacional.

Quais são as recomendações para o paciente que está com  varíola? Casos suspeitos devem ser imediatamente reportados às autoridades de saúde locais, e devem se isolar, até que instruções sejam dadas e os cuidados sejam instituídos. Deve-se evitar aglomerações em locais onde estão acontecendo os casos. 

Exemplos visuais de erupção da varíola dos macacos
Exemplos de erupção da varíola dos macacos. Centers for Disease Control and Prevention (CDC)

 

A Varíola é uma doença erradicada no país? Sim, desde a década de 80, não são registrados casos naturais no Mundo. É a única doença humana que foi erradicada, graças a uma vacina bastante eficaz.

A prevenção da Varíola é somente por meio de vacina ? Mesmo após a declaração de erradicação da varíola pela OMS, os estudos sobre antivirais para a varíola e a varíola do macaco continuaram a serem realizados, e existem dois antivirais hoje aprovados para uso na Europa e nos Estados Unidos para o tratamento. O tecovirimat (para os dois vírus) e o brincidofovir para a varíola. Outros medicamentos específicos contra o vírus da varíola do macaco estão em ensaio clínico na África, e outros em estudo.  Existem vacinas para a varíola do macaco em estudo, e uma já aprovada, além de vacinas que utilizam outros vírus similares como vetores, como por exemplo o cowpox. Outra alternativa emergencial seria utilizar a vacina contra a varíola como forma de proteção cruzada, mas o risco-benefício do uso desta vacina deve ser continuamente avaliado.

O Ministério da Saúde  criou em 23 de maio deste ano, uma Sala de Situação que  monitora as notificações de casos de Monkeypox no mundo e, no Brasil, além do monitoramento também  realizada a investigação dos casos, assim como a elaboração de documentos técnicos para fomentar ações públicas.

Fonte: IPTSP

Categorias: Saúde