Icone Instagram
Icone Linkedin
Icone YouTube
Universidade Federal de Goiás
estudo

Estudo sobre medidas de distanciamento social durante a pandemia da COVID-19 no Brasil é publicado na Health Affairs

Em 15/07/22 14:36. Atualizada em 19/07/22 12:15.

O impacto das medidas não farmacológicas é objeto de estudo da professora do IPTSP, Cristiana Toscano em conjunto com outros pesquisadores do país e dos EUA

Texto e infográfico: Marina Sousa

A pandemia de Covid-19 teve início no Brasil, em fevereiro de 2020, após a confirmação de que um homem de 61 anos de São Paulo que retornou da Itália testou positivo para o SARS-CoV-2. Na tentativa de coibir a disseminação do vírus, todos os estados brasileiros começaram a implantar  uma variedade  de medidas denominadas intervenções não farmacológicas para promover o distanciamento social, objetivando a redução da transmissão da doença na população. 

Essas medidas não farmacológicas de distanciamento social são objeto de um estudo liderado pela médica e professora do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP) da Universidade Federal de Goiás (UFG), Cristiana Toscano com outros pesquisadores de instituições brasileiras e americanas. São eles  a professora do IPTSP do departamento de Saúde Coletiva, Lara Lívia Santos; Rodrigo Fracalossi de Moraes do  Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea); Paula M. Luz da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz); Louise B. Russell da  University of Pennsylvania, Philadelphia e Risha Gidwani da RAND Corporation, Santa Monica, nos Estados Unidos. A pesquisa foi publicada neste mês pela renomada  revista médica americana Health Affairs.

Pesquisa

A investigação levou em conta dados diários coletados de boletins epidemiológicos de 12 estados e repassados para o Ministério da Saúde. As federações foram: Amazonas, Bahia, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Pernambuco, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. O  período de coleta de dados foi de 1° de março a 24 de dezembro de 2020 e apurou sete medidas não farmacológicas que são: restrições de eventos, fechamento de escolas, fechamento de comércio não essencial, fechamento de shoppings, bares e restaurantes; fechamento da indústria não essencial; transporte público e, um pouco mais tarde, cerca de cinco meses depois, o uso obrigatório de máscaras faciais. Os dados coletados distinguiam as restrições parciais e totais dessas medidas, que se aplicaram de maneiras distintas entre os Estados.

 medidas não farmacológicas

 Neste estudo, os autores foram capazes de estimar os efeitos individuais de cada uma destas intervenções ao invés de considerá-los como um pacote único e ou combinado de medidas. Embora, outros estudos tenham estabelecido os efeitos de algumas dessas intervenções, esta pesquisa é distinta ao analisar os efeitos individuais de uma grande gama de intervenções e por um período longo de tempo durante a pandemia.

De acordo com Cristiana Toscano, a investigação concluiu que duas destas intervenções - restrições de eventos e uso de máscaras faciais - resultaram em redução significativa da transmissão da doença. Restrições totais a eventos públicos reduziram a taxa de crescimento de casos de COVID-19 - que era em média 1,30 antes de qualquer intervenção ser introduzida, em 0,227. Significa que, antes de restringir totalmente os eventos públicos, os casos da doença estavam aumentando. Depois que a medida foi implementada, houve redução equivalente a 23% desta taxa de crescimento. Restrições parciais de eventos públicos foram igualmente eficazes, sugerindo que algum relaxamento seria possível ao longo da pandemia sem resultar em um aumento significativo de casos. 

O uso obrigatório de máscaras também foi muito efetivo, resultando em redução da taxa de crescimento de 0,060. Os autores observam que o efeito combinado de suspender eventos públicos e impor a obrigatoriedade do uso de máscaras resultou na redução da taxa de crescimento para quase 1, nível em que o número de casos se estabiliza e não estão mais aumentando. 

 

Resultado

A pesquisa mostrou que não é necessário usar todas as intervenções não farmacológicas em seu nível mais estrito. Intervenções seletivas e algum relaxamento podem ser igualmente eficazes. “Estes resultados são importantes para gestores de saúde de todos os países, uma vez que medidas seletivas minimizam os impactos econômicos e sociais resultantes da implementação de medidas de distanciamento para controle da COVID-19”, explica Toscano.

 medidas não farmacológicas  2

O impacto é especialmente importante em países de baixa e média renda como o Brasil, que têm mais trabalhadores em empregos informais, uma infraestrutura precária para o ensino a distância e menor capacidade de estimular suas economias.

Os pesquisadores também elencam que um estudo de medidas não farmacológicas foi realizado em onze países europeus de fevereiro de 2020 a 4 de maio de 2020, e demonstrou que as medidas  reduziram substancialmente as mortes provocadas pela Covid-19, mas, não foi possível identificar os efeitos de intervenções individuais. A pesquisa brasileira  foi baseada antes do surgimento das variantes Delta e Omicron, todavia como as variantes também se espalham por gotículas no ar, as mesmas intervenções podem funcionar no controle da infecção provocada pelo novo coronavírus.   

 Os autores ratificam que os resultados podem ajudar os formuladores de políticas públicas a escolher as medidas mais eficazes a serem adotadas durante a pandemia, além de ser útil para futuras emergências de saúde pública envolvendo doenças de transmissão respiratória. Haja vista que, identificar modelos de decisão consistentes que possam maximizar resultados e evitar mortes devem ser pautados em pesquisas com dados sólidos, pois o trabalho é complexo, sensível e de grande impacto tanto para a população, quanto para as instituições de saúde, como é o caso do modelo brasileiro - Sistema Único de Saúde (SUS) - cuja meta é fornecer acesso à saúde para todas as camadas da população, e que se demonstrou ainda mais imprescindível no combate à pandemia no país, mesmo com a gestão de recursos muito escassa. O acesso ao artigo em inglês pode ser conferido por este link.

Fonte: Secom UFG

Categorias: Notícias IPTSP