Ciência aberta requer participação ativa da cidadania, afirma Ramon Flecha
Sociólogo foi o convidado da aula magna do Programa UFG Doutoral
Carolina Melo
A Universidade Federal de Goiás (UFG), por meio do Programa UFG Doutoral, recebeu na manhã de terça-feira (31/08) o sociólogo e professor da Universidade de Barcelona, Espanha, Jose Ramon Flecha Garcia. Ao falar sobre os desafios da Ciência Aberta, o convidado salientou a importância de se colocar a cidadania no centro de interesse das investigações científicas. Para ele, uma produção científica é colaborativa, interativa e compartilhada quando há a vinculação ativa da sociedade na produção e divulgação do conhecimento.
Ramon Flehca é membro da Community of Research on Excellence for All (Crea) da Universidade de Barcelona e participou da fundação da Escola Verneda de Sant Martí, considerada a primeira Comunidade de Aprendizagem. Durante a conferência na UFG, o professor chamou a atenção para a revolução científica da atualidade, que caminha junto com o debate sobre o impacto social e a co-criação na Ciência. Nesse sentido, ele reforçou o potencial da produção científica colaborativa interdisciplinar tanto entre instituições científicas e centros científicos internacionais, quanto e especialmente entre os centros de estudos e a cidadania mundial, que acabam tendo mais potencial de gerar impacto social.
O impacto social da Ciência, de acordo com Ramon Flecha, vem sendo tema de interesse de cada vez mais estudos. “Temos que explicar e dar evidências quantitativas e qualitativas de como a Ciência gera impacto social”, afirmou. “Somos aprendizes em tentar não só melhorar os impactos sociais, mas também em dar visibilidade aos impactos sociais que estamos gerando”. De acordo com o pesquisador, um caminho para se melhorar o impacto social de uma investigação científica é encontrar mecanismos para se entrar em “diálogo com a cidadania que vai receber os conhecimentos criados”.
O diálogo com a cidadania pode ser realizado pelo próprio pesquisador ou mesmo por outra pessoa, pertencente ao centro de investigação, e especialista em fazer esse diálogo, afirmou Ramon. “Dentro de uma equipe de um centro de pesquisa pode haver pessoas que se dediquem à criação do conhecimento e outras que permitam que a construção do conhecimento seja um processo de co-criação com a cidadania. Isso se adapta aos perfis e motivações de cada investidor ou investigadora”, disse. “Essa é a co-criação necessária para o impacto social”.
Para o sociólogo, a informação e a inovação devem ser co-disseminadas e também co-produzidas por quem diretamente vai se beneficiar da produção científica, ou seja, a sociedade. Ao reforçar a importância do diálogo com as pessoas que vão receber os benefícios dos conhecimentos gerados, Ramon Flecha chama a atenção para o efetivo impacto social que as investigações científicas devem gerar para a manutenção da cidadania mundial e para o combate à desigualdade social. Segundo o pesquisador, a co-criação da Ciência com a cidadania tem como base o artigo 27 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que diz que toda pessoa tem o direito de participar do progresso científico e dos benefícios que ele resulta. “Participar não é só receber, é participar do processo de criação dos conhecimentos. Isso é co-criação”, afirmou.
E, mais, segundo o pesquisador, é preciso entender que o impacto social vai além da divulgação do conhecimento numa revista científica e da transferência desse conhecimento para setores da sociedade. “Esses são requisitos para o impacto social, mas não são impacto social”. O impacto social ocorre, de acordo com Ramon, quando o conhecimento, depois de validado, depois de transferido para a sociedade, tem como consequência a efetiva melhora na cidadania, em relação aos objetivos que a própria cidadania elegeu diretamente ou através de seus representantes. “Quando temos que apresentar evidências de impacto social, temos que apresentar as evidências científicas de melhoras na vida das pessoas e da sociedade. Temos que entender que estamos à serviço da cidadania”.
Nessa direção, o pesquisador apresentou a Metodologia Comunicativa que tem como base o impacto social e a co-criação e, assim, coloca os cidadãos no centro de interesse das investigações. “A partir de agora vamos trabalhar para a cidadania e com a cidadania. Não vamos trabalhar para melhorar nossos currículos e nossas posições nas universidades. Que nossos currículos, nossas posições e nossas universidades dependam de como nós contribuímos para a melhora da cidadania a partir do diálogo constante com a cidadania”.
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Fonte: Secom UFG
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