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Universidade Federal de Goiás
Painel Econômico

PAINEL ECONÔMICO

Em 02/09/22 14:17. Atualizada em 02/09/22 14:22.

Para o segundo semestre de 2022, o consumo das famílias pode continuar sendo impulsionado por medidas de política fiscal expansionistas

Boletim de Conjuntura Econômica de Goiás – Nº 148, agosto de 2022

O Produto Interno Bruto – PIB brasileiro cresceu 1,2% no segundo trimestre deste ano na comparação com o trimestre imediatamente anterior. Em relação ao mesmo trimestre de 2021, o avanço foi de 3,2%, acumulando alta de 2,5% em 2022, tal qual divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Com esse resultado, o Brasil obteve o 12º desempenho da atividade econômica entre 50 países que já divulgaram o PIB do segundo trimestre de 2022. 

O crescimento do PIB no período analisado se deveu, em grande medida, ao avanço da vacinação da população e, por conseguinte, à melhora do quadro pandêmico. Pela ótica da produção, mesmo com uma taxa de crescimento inferior ao da indústria (2,2%), a elevação de 1,3% do setor de serviços alavancou o PIB, haja vista que representa cerca de 70,0% deste indicador. O destaque ficou por conta das “Outras atividades de serviços”, que tiveram crescimento de 3,3%, sendo este o maior dentre as atividades que compõem o setor de serviços. Essas modalidades de serviços englobam atividades que, em geral, requerem a presença das pessoas para serem desempenhadas, como hotéis, restaurantes, serviços de artes, cultura, esporte, recreação e serviços pessoais (cabeleireiros e outras atividades de tratamento de beleza, clínicas de estética, etc.). Já pela ótica da demanda (de quem compra a produção doméstica), o resultado do PIB foi capitaneado pelo consumo das famílias. Embora tenha ficado abaixo do avanço de 4,8% da Formação Bruta de Capital Fixo (compra de máquinas, equipamentos, despesas com pesquisa de desenvolvimento e construção), este consumo cresceu 2,6% e representa cerca de dois terços do PIB, sendo o mais importante componente desse indicador.

A demanda das famílias no primeiro semestre desse ano foi impulsionada pela antecipação do pagamento do 13º salário para cerca de 31 milhões de aposentados e pensionistas do INSS (Instituto Nacional de Seguro Social). Os pagamentos dessa rubrica se iniciaram no dia 25 de maio e foram finalizados no dia 7 de junho deste ano. Outra medida tomada pelo Governo para estimular o consumo das famílias foi a liberação do saque extraordinário do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), instituído pela Medida Provisória nº 1.105/22. A despeito de o prazo desse saque pelos trabalhadores ter sido expandido até o final do ano, seu cronograma inicial ficou entre 20/4 e 15/6, também no primeiro semestre do ano.

Para o segundo semestre de 2022, o consumo das famílias pode continuar sendo impulsionado por medidas de política fiscal expansionistas. A partir do mês de agosto, as famílias que fazem parte do Auxílio Brasil começaram a receber o aumento dos repasses de R$ 400,00 para R$ 600,00, que podem ainda ser potencializados pelo empréstimo consignado, o qual – embora esteja sendo alvo de críticas por conta da fragilidade econômica e financeiras das famílias-alvo do programa – pode estimular ainda mais o consumo. Ainda nesta perspectiva, houve o aumento do Auxílio Gás (de R$ 53,00 para R$ 110,00, com estimativa de pagamento para 5,6 milhões famílias) e o direcionamento de R$ 5,1 bilhões para os caminhoneiros e de R$ 2 bilhões para os taxistas.
A grande dúvida é se essas medidas serão suficientes para manter a alta do PIB no restante do ano. No âmbito interno, dada a defasagem dos efeitos da política monetária sobre a economia doméstica, uma boa parte da elevação da taxa Selic ocorrida a partir de março/2021 ainda não atingiu efetivamente a demanda agregada e certamente deverá encarecer ainda mais o crédito para o consumo e para o investimento. O consumo das famílias também pode ser impactado negativamente pelo aumento nível de inadimplência, o qual, de acordo com informações da Confederação Nacional do Comércio de Bens e Serviços e Turismo (CNC), atinge 77,5% das famílias brasileiras, o maior percentual em 12 anos. A queda da inflação ocorrida recentemente se deve notadamente à redução do ICMS sobre os combustíveis e sobre a energia elétrica, mas os preços do grupo de alimentação e bebidas continuam pressionados, atingindo diretamente a população de baixa renda.
Do ponto de vista externo, a China, maior parceiro comercial do Brasil, teve queda de 2,6% do PIB no segundo trimestre desse ano e continua com a política de Covid Zero, impondo medidas que restringem a circulação das pessoas em grandes centros urbanos. Além disso, não há pistas de resolução do conflito entre a Rússia e a Ucrânia, o que continua pressionando os preços de commodities agrícolas e de energia em nível global. A alta da inflação em grande parte dos países avançados tem levado suas autoridades monetárias a frear o ritmo de atividade econômica. O Banco da Inglaterra (BoE) elevou a taxa de juros pela sexta vez consecutiva desde o fim do ano passado, adotando o maior aumento em 27 anos. Nos EUA, o Federal Reserve (Fed) já impôs quatro aumentos da taxa de juros em 2022 e manteve o ritmo de alta de 0,75% na última reunião, sendo este o maior aumento desde 1994. E, na Europa, o Banco Central Europeu realizou o primeiro aumento da taxa de juros desde 2011. Esse processo deve reduzir o crescimento da economia mundial e, por conseguinte, a demanda pelas exportações brasileiras.
É preciso aguardar para verificar até onde vão os efeitos das medidas governamentais para estimular a economia e se tais efeitos vão superar os impactos negativos vindos de outros lados. Uma crítica que vem sendo feita a esse processo diz respeito ao grau de perenidade dessas medidas. Caso não sejam promovidas alterações nas leis que as instituíram, seu horizonte de alcance não passa de 2022.

Boletim de Conjuntura Econômica de Goiás – N. 148/agosto de 2022.

Equipe Responsável: Prof. Edson Roberto Vieira e Prof. Antônio Marcos de Queiroz.

 

O Jornal UFG não endossa as opiniões dos artigos e colunas, de inteira responsabilidade de seus autores.

Fonte: Secom UFG

Categorias: colunistas colunista Face