UFG desenvolve tratamento com nanopartículas termais para câncer canino
Estudo é um avanço para a nanociência e o tratamento de câncer para cães e humanos
Gabriella Paiva
Pesquisadores da UFG desenvolveram um tratamento fototérmico a partir de nanopartículas magnéticas para tratar o câncer canino. A pesquisa foi financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg) e possui uma equipe multidisciplinar, composta pelo Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP), Hospital Veterinário da Escola de Veterinária e Zootecnia (EVZ), Instituto de Física (IF) e pelo Instituto de Ciências Biológicas (ICB). O objetivo é auxiliar o retardo da progressão tumoral e colaborar na eliminação de células tumorais.
A terapia fototérmica com nanopartículas magnéticas em cadelas, conhecida pela baixa invasividade, consiste em realizar uma injeção intratumoral (com o auxílio da ultrassonografia) de um pequeno volume do fluido magnético no tumor. Posteriormente, aplica-se a luz de laser no local por alguns minutos. O procedimento é realizado com o animal sob anestesia para obter o mínimo de movimento possível, visando a segurança para a aplicação no local exato do tumor e o monitoramento constante e preciso da temperatura.
A pesquisa tem como objetivo verificar se a terapia fototérmica com nanopartículas magnéticas estimula a resposta imune contra as células do tumor em cadelas com carcinoma mamário. Acredita-se que a melhora da resposta imune, como diz a professora Marina Pacheco Miguel do IPTSP (UFG), possa auxiliar no retardo da progressão tumoral, além de colaborar na eliminação das células tumorais do local da aplicação ou até mesmo das metastáticas, que ocorrem quando as células se espalham pelo organismo. O papel da nanomedicina termal, portanto, é promover um microambiente tumoral imunogênico, que pode funcionar em conjunto a outras imunoterapias para aumentar as respostas do paciente.
O estudo é parte de uma pesquisa maior liderada por Andris Bakuzis, professor no Instituto de Física (IF) da UFG e coordenador das pesquisas em terapia fototérmica com nanopartículas magnéticas, que desenvolveu a estratégia terapêutica a partir das nanopartículas. Marina Pacheco Miguel, coordenadora da equipe dos estudos desenvolvidos em cães, afirmou que os resultados ainda são parciais, mas que, até o momento, verificou-se a redução do tamanho do tumor de algumas cadelas tratadas e, ainda, o aumento significativo do número de células imunes específicas para a resposta antitumoral nas amostras de sangue, a ativação da cascata inflamatória e o aumento de células inflamatórias antitumorais no tumor.
Além dos benefícios de reduzir a progressão tumoral e aumentar a sobrevida dos pacientes caninos, o estudo clínico em cães também é uma grande porta para o tratamento na medicina comum. Isso porque, segundo o artigo da pesquisa, tratamentos em cães têm semelhanças com os humanos em termos de tamanho, anatomia, fisiologia, metabolismo e imunidade. A decodificação do gene canino em 2005 identificou similaridades genéticas e abriu uma dimensão inteira em pesquisas.
A aplicação clínica do tratamento em estudo na medicina veterinária é inexistente, enquanto na medicina ainda é muito escassa e realizada em centros de pesquisa. Porém, Marina Pacheco afirma acreditar que, após o avanço dos estudos clínicos e pré-clínicos, as limitações do tratamento serão minimizadas, tendo como consequência o avanço para a aplicação em humanos. A professora pontua que, atualmente, "os principais estudos clínicos envolvendo pacientes humanos são para tratamento de câncer de próstata, mama e fígado".
Quando questionada se algum resultado a surpreendeu, prontamente a professora respondeu que todos os dados foram muito positivos e que demonstraram o quanto a terapia é promissora. “Contudo, o resultado mais surpreendente e que nos causou muita alegria foi verificar que o volume do tumor reduziu significativamente em apenas uma semana após a aplicação da terapia térmica com nanopartículas, demonstrando a validade do estudo".
Para ela e para a pesquisadora Carla Martí Castello, que defendeu a tese referente a essa pesquisa, "apesar das dificuldades encontradas para desenvolver pesquisa no Brasil, poder entregar para a sociedade resultados que irão melhorar a vida das pessoas é o que motiva enormemente a continuar contribuindo e acreditando na ciência". Pontuam também como tem sido gratificante e desafiador. "Gratificante, pois a cada novo resultado alcançado observamos que estamos desenvolvendo algo promissor e que poderá contribuir com pessoas e pets. Desafiador porque passamos por frustrações quando não conseguimos recursos, corpo técnico qualificado e adesão da sociedade para avançarmos nas resoluções de dúvidas e questionamentos que vão surgindo".
Fonte: Secom UFG