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Universidade Federal de Goiás
Celina Turchi

Celina Turchi: zika vírus e microcefalia ainda são riscos potenciais no Brasil

Em 23/11/22 13:08. Atualizada em 24/11/22 08:59.

Pesquisadora emérita da UFG e atual pesquisadora da Fiocruz de Pernambuco foi a atração principal do segundo dia do Conpeex

Carolina Melo

A palestra principal do segundo dia do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão (Conpeex) contou com a presença da professora emérita aposentada da UFG e pesquisadora da Fiocruz (PE), Celina Turchi. Durante o evento, a professora resgatou a atuação da Ciência em 2015 e 2016, quando foi deflagrada a epidemia do zika vírus, correlacionada aos casos de microcefalia no Brasil, e destacou a emergência de estudos que garantam a vacina para a doença, quando há evidências de que um novo surto pode ainda ser deflagrado no país.  

Celina Turchi

Conforme lembrou Celina Turchi, o episódio curto e “assustador” da epidemia de casos de microcefalia de causa até então desconhecida, que ocorreu no nordeste do país, exigiu da Ciência uma resposta rápida. “Foi realmente um espanto. Imagina, centenas de crianças num mesmo espaço e tempo específico. Tivemos que fazer o que chamamos de ‘pesquisa em tempo de guerra’, ‘trocar o pneu com o carro andando’, o que significa dar respostas rápidas respeitando os protocolos de pesquisa. Nesse contexto, tive a honra e o prazer de coordenar um grupo de pesquisadores que assumiu essa missão”, disse. O resultado foi a identificação da relação da microcefalia em recém-nascidos à infecção materna no período gestacional pelo vírus zika. Descoberta que impactou o conhecimento da doença no mundo e refletiu em identificações internacionais dessa correlação.

Entre as descobertas dos pesquisadores no período, algumas ganharam destaque, como a transmissão do vírus por via sexual e sanguínea, para além daquela transmitida pelo mosquito Aedes aegypti. De acordo com Celina Turchi, “ao se aventar a possibilidade do vírus passar verticalmente, ou seja, de mãe para filho, e gerar uma doença congênita importante, assustou sobremaneira o mundo naquele momento”. Entretanto, apesar de os casos terem diminuído consideravelmente ao longo dos anos, assim como alertou a pesquisadora, “o vírus continua circulando e os casos de microcefalia ainda ocorrem, e temos possibilidade de um novo surto”.

As epidemias são circulares, lembra a pesquisadora. A predição matemática, segundo ela, é de 15 anos para um novo surto. “Já se passaram sete anos. A gente sabe que pode acontecer e não podemos mais ignorar. Não podemos dizer que não sabemos. Se não tiver vacina, temos a possibilidade de um novo surto”. Para a pesquisadora, a pandemia de covid-19 também deu destaque para o potencial da Ciência em responder às emergências de saúde pública, especialmente no desenvolvimento das vacinas. “Esperamos que o desenvolvimento da Ciência em relação às plataformas vacinais e desenvolvimento de testes possa beneficiar o combate do vírus da zika e de outros que atingem as populações humanas”, disse.

Microcefalia

De acordo com Celina Turchi, com o acompanhamento dos recém-nascidos com microcefalia associada à infecção gestacional pelo zika vírus, chamou a atenção a gravidade dos casos. “Eram casos diferentes, de uma microcefalia de grande gravidade. Chamava a atenção casos de osteoartrose (que acometem o sistema musculoesquelético). Tinha uma espécie de fenótipo, devido a desproporção cranioencefálico, com alteração na massa encefálica. Também chamava a atenção os cordões de calcificação intra-cerebral, que pareciam cicatrizes de algo danoso”, afirma.

Tendo em vista as crianças, de acordo com a pesquisadora, os estudiosos passaram a avaliar os quadros neurológicos e destacou-se uma curva crescente de epilepsia grave em crianças que precisam de acompanhamento durante toda a vida. Além das alterações mais evidentes do comprometimento cerebral, os estudos também identificaram “parte de anormalidades oculares, disfagia, complicações no trato urinário, deficiência motora, atrasos do neurodesenvolvimento, e criptorquidia (que precisa de procedimentos cirúrgicos)”. “São crianças que requerem atenção durante toda a vida de uma série de especialistas na área da Saúde”. Observou-se também a alta mortalidade nos dois primeiros anos de vida das crianças. “São crianças que aos dois anos têm dez vezes mais riscos de morrer”

O que se sabe hoje, segundo Celina Turchi, é que mulheres grávidas infectadas com o vírus podem ou não ter eventos adversos. “Um grupo de 20 a 30 por cento pode ter perda fetal, a síndrome da zika congênita, ou uma forma assintomática que não sabemos como a criança vai evoluir ao longo da vida”.

Fonte: Secom UFG

Categorias: Conpeex 2022 Saúde