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Universidade Federal de Goiás
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Testes rápidos de hanseníase desenvolvidos pela UFG serão distribuídos pelo Ministério da Saúde

Em 31/01/23 08:23. Atualizada em 31/01/23 09:40.

O SUS vai receber 150 mil testes rápidos para enfrentamento à hanseníase. Ação foi possível graças a transferência de tecnologia da UFG para Bioclin

Marina Sousa

Foi anunciado pelo Ministério da Saúde (MS), na última terça-feira (24/01), durante a cerimônia de abertura do seminário “Hanseníase no Brasil: da evidência à prática”, que a partir de fevereiro o Sistema Único de Saúde (SUS) distribuirá 150 mil testes rápidos para o enfrentamento à hanseníase. A programação também faz parte das ações do Janeiro Roxo, campanha criada pelo MS para conscientização e combate à hanseníase. O teste rápido é fruto do trabalho desenvolvido pela professora e pesquisadora do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP), da Universidade Federal de Goiás (UFG), Samira Bührer e de colaboradores, no Laboratório de Desenvolvimento e Produção de Testes Rápidos (LDPTR), que fica no Centro Multiusuário de Pesquisa de Bioinsumos e Tecnologias em Saúde (CMBiotecs) do IPTSP.

E isso só foi possível devido a transferência da tecnologia dos testes rápidos de hanseníase para a indústria brasileira Bioclin, que contou com o apoio da multinacional alemã Merck S.A, que potencializou a conexão entre a universidade e a indústria. Graças ao trabalho dos pesquisadores, de modo inédito, os testes rápidos para a detecção da doença passam agora a serem ofertados no SUS, sendo o Brasil o primeiro país do mundo a ofertar os testes 

Durante a cerimônia do Seminário, que aconteceu juntamente com o Janeiro Roxo, campanha criada pelo Ministério da Saúde para conscientização e combate à hanseníase, a ministra da Saúde, Nísia Trindade destacou a importância da ação. “Hoje, o Ministério da Saúde anuncia a entrega dos testes que são fruto de pesquisas realizadas por instituições brasileiras. O teste rápido pela Universidade Federal de Goiás e o PCR pela Fiocruz e Institutos de Biologia Molecular do Paraná”, explicou a titular da pasta. A ministra reforçou a importância de se combater a desinformação e o preconceito, de batalhar pela transversalidade de atuação do Ministério e enfatizou que a hanseníase é uma doença curável. "Não é apenas a doença que é negligenciada, mas também as pessoas”, comentou. 

A diretora do IPTSP, Flávia Aparecida de Oliveira ressalta que a transferência de tecnologia de uma pesquisa é um recurso de muita importância para a academia, além de grande impacto social. “Ver o trabalho da professora Samira sendo disponibilizado para o SUS e o mercado externo é motivo de muito orgulho, pois é a geração e difusão do conhecimento a serviço da vida. E a prova também de que a universidade com parcerias público-privadas podem ir muito mais além. Haja vista que o nosso sonho é de que todas as pesquisas científicas que possuem esse potencial inovador possam atender às grandes demandas da sociedade”, finaliza a diretora.  

 

Como o teste rápido funciona?

O nome comercial do teste sorológico para a hanseníase é BIOCLIN FAST ML FLOW  que funciona da seguinte maneira: com um pequeno volume de amostra de sangue ou soro do paciente - baseado na reação antígeno/anticorpo - ele captura os anticorpos produzidos no organismo contra o antígeno (corpo estranho) que são identificados por imunocromatografia, formando assim, uma linha vermelha - nos casos suspeitos e pode significar o diagnóstico da doença, já nos contatos de pacientes com hanseníase com resultado positivo outros exames são realizados, e os que apresentarem resultados negativos deverão receber mais informações sobre o diagnóstico da doença para ficarem mais atentos às alterações na pele. A pesquisadora, Samira Bührer, conta que a realização do teste é muito importante para o diagnóstico precoce, o que possibilita o início do tratamento, que interrompe a transmissão e previne as sequelas. 

 Teste sorológico para a hanseníase  BIOCLIN FAST ML FLOW desenvolvido pela UFG
 Teste sorológico para a hanseníase  BIOCLIN FAST ML FLOW desenvolvido pela UFG (Fotos: Marina Souza)

 

Como tudo aconteceu

Dada a importância da pesquisa científica e sobre o grande trajeto que pesquisadores enfrentam diante de dificuldade de investimentos e sucateamento da produção científica nacional nos últimos anos, acompanhe a seguir a entrevista com a professora e pesquisadora  do IPTSP, Samira Bührer sobre como se deu os estudos sobre o teste rápido de hanseníase e de como a  parceria com a multinacional alemã Merck S.A foi importante para a viabilização e transferência da tecnologia para o mercado.

 Professora e pesquisadora  do IPTSP, Samira Bührer

 Professora e pesquisadora do IPTSP/UFG, Samira Bührer

 

Como se deram os estudos referentes ao teste rápido baseado na técnica de imunocromatografia de fluxo lateral para o diagnóstico de hanseníase?

Este teste tem muita história, vou resumir sob minha ótica. O primeiro teste foi desenvolvido durante meu doutorado na Universidade de Amsterdam e necessitava de duas horas para realizar a leitura. Na minha tese de doutorado apresentei o desenvolvimento do teste e estudos que realizamos aqui no Brasil, um deles foi premiado como melhor trabalho em epidemiologia no Congresso Internacional de Hanseníase no ano 2002. Como os resultados foram bons, a Netherlands Leprosy Relief encomendou um projeto para avaliar a implementação do teste em 3 continentes. Para este projeto desenvolvi o teste utilizando como tecnologia a imunocromatografia de fluxo lateral e em 2003 publicamos sobre o desenvolvimento do ML Flow.  Nos anos 2003 a 2005 coordenei a implementação do uso do teste no Brasil, Nepal e Nigéria. Em abril de 2007 voltei para o Brasil e iniciei as pesquisas no IPTSP/UFG. Recebi todo o apoio que necessitava, de colegas, do Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical e Saúde Pública (PPGMTSP) da direção do IPTSP e da UFG. Assim, trabalhando em parceria com a Profa. Mariane Stefani, obtivemos recursos financeiros do Ministério da Saúde e continuamos produzindo e estudando a aplicação do teste na Hanseníase. Por muitos anos a pesquisa do nosso laboratório foi financiada com os recursos financeiros que obtínhamos com a produção dos testes de Hanseníase que produzíamos para pesquisadores brasileiros e internacionais. A UFG apoiou a produção e pesquisa colocando à disposição infraestrutura, mão de obra e todo apoio necessário. Sem o apoio da UFG  e da parceria com a MERCK o teste não teria passado de uma publicação e jamais teria sido incorporado pelo SUS pois a comercialização de uma tecnologia antecede a incorporação desta pelo SUS.

Como foi a disponibilização dessa tecnologia de  testes rápidos  para o mercado?

Foi por meio da nossa parceria com a Merck. Juntos criamos o primeiro HUB (Innovation Hub in Point of Care Technologies) do Brasil. Essa aliança inédita, da UFG com a Merck abriu portas, e foi por isso que conseguimos a parceria com a Bioclin, que hoje produz e comercializa o teste para Hanseníase. O Ministério da Saúde treinou profissionais de saúde em 78 municípios para iniciar a incorporação do teste para detecção de anticorpos IgM contra o Mycobacterium leprae, agente causador da Hanseníase. Para colaborar neste treinamento, participamos da construção de um vídeo, que foi produzido pela TV UFG, sobre a Hanseníase, diagnóstico e tratamento, explicando como o teste rápido será utilizado no SUS para busca ativa de casos entre os contatos de pacientes de hanseníase. 

O HUB de Inovação e Tecnologia realiza outros trabalhos científicos, além dos testes rápidos para a hanseníase?

O HUB de Inovação da UFG, que inclui laboratórios do IPTSP e do Instituto de Química (IQ) da UFG, em parceria com a MERCK está preparado para atender demandas envolvendo ensaios imunoenzimáticos (ELISA), por imunocromatografia de fluxo lateral, por amplificação isotérmica mediada por loop (LAMP) e utilizando sensores e biosensores eletroquímicos.Com as atividades do HUB ajudaremos na consolidação de um grupo de excelência técnico-científica na área de desenvolvimento e produção de testes do tipo Point-of-Care Testing (POCT) fortalecendo assim, a capacidade produtiva da indústria e independência tecnológica com a geração mão de obra especializada e de testes rápidos de interesse do mercado contribuindo no controle de doenças endêmicas e problemas relacionados à saúde no Brasil e na América do Sul.

Qual é a importância do Hub de inovação para o desenvolvimento de novas pesquisas?

De modo bem simplificado a importância do HUB de Inovação em Teste Rápido é acelerar o processo de desenvolvimento de novos produtos, auxiliar na transferência de tecnologia para a indústria auxiliando na colocação de novos produtos no mercado.

A pandemia da Covid-19 colocou mais uma vez em prova que o desenvolvimento científico possibilita o acesso rápido a novas tecnologias e produtos. Como a senhora vê o crescimento dessas tecnologias como o seu teste rápido no futuro? Quais outras doenças podem ser diagnosticadas?

A pandemia evidenciou a necessidade do desenvolvimento rápido de testes de diagnóstico com independência tecnológica. A indústria nacional não está preparada para atender a demanda do mercado, as universidades não são ainda capazes de preparar os profissionais para a indústria. Existe um abismo entre a indústria e a academia e precisamos trabalhar na construção desta ponte para talvez podermos auxiliar mais no enfrentamento de uma nova pandemia. A parceria com a MERCK tem como objetivo acelerar que testes rápidos para suprir as necessidades nas diversas áreas, como saúde humana e animal, meio ambiente, agricultura e outras, sejam desenvolvidos. 

 

Centro de Inovação e Tecnologia

Centro de Inovação e Tecnologia

Fachada do Hub de Inovação e Tecnologia, localizado no CMBiotecs/UFG

 

A aliança estratégica entre a Universidade Federal de Goiás (UFG) com a empresa Merck aconteceu no ano de 2021 com a inauguração do Innovation Hub in Point of Care Technologies ou Centro de Inovação e Tecnologia, localizado CMBiotecs do IPTSP. O Hub foi criado com o intuito de estudar técnicas de biologia molecular e biossensores eletroquímicos no mesmo local. Além de poder fortalecer a capacidade produtiva da universidade com  a indústria do setor.

De acordo com o gerente de Inovação para a América Latina da Merck Life Science, Misael da Silva explica que a parceria com a UFG representa uma grande colaboração, visto que a empresa tem o propósito impactar a vida e a saúde por meio da ciência, colaborando com a comunidade científica e também com o complexo industrial da saúde. “A UFG é um importante parceiro de Life Science no desenvolvimento e validação de soluções diagnósticas para tecnologias de testes rápidos, principalmente em projetos que demandam uma transição do mundo acadêmico para o mercado. Somos os principais fornecedores mundiais de matéria-prima e serviços para produção desse tipo de teste de diagnóstico rápido. Em setembro de 2021, a aliança estratégica com a UFG foi anunciada para viabilizar a implementação de um Centro de Inovação em Tecnologia para prototipagem e treinamento de testes diagnósticos rápidos”. Misael da Silva ainda complementa que  o projeto visa fortalecer a capacidade produtiva da indústria e sua independência tecnológica, por meio da geração de mão de obra especializada e testes rápidos de interesse do mercado, contribuindo assim para o controle de endemias e questões relacionadas à saúde humana, animal e agricultura no Brasil.

Sobre a disponibilidade dos testes rápidos para o SUS, ele conta que o projeto é de muito orgulho para a divisão, pois  o papel da parceria entre as duas instituições: universidade e indústria, é fundamental para colaborar com a comunidade científica, promovendo assim, o fortalecimento da capacidade produtiva e independência tecnológica, por meio da geração de mão de obra especializada e de testes rápidos de interesse do mercado. “Nos enche de orgulho ter contribuído para esse projeto tão importante, já que se trata de uma doença com grande impacto nacional. Ou seja, estamos colaborando com o primeiro teste rápido para hanseníase do mundo e ainda com tecnologia desenvolvida por pesquisadores brasileiros. O apoio do Sistema Único de Saúde (SUS) mostra a dimensão de toda essa jornada de desenvolvimento e ter a indústria nacional como produtora dos kits de testes de diagnóstico rápidos contribui para o fortalecimento do complexo industrial da saúde, um dos segmentos mais importantes para a divisão de Life Science da Merck na América Latina”, finaliza  gerente de Inovação para a América Latina da Merck Life Science, Misael da Silva.

 

Fonte: Iptsp

Categorias: Eventos destaque IPTSP Saúde