Projeto da UFG aproxima a ciência de estudantes da rede pública
Investiga Menina incentiva alunas negras a escolherem carreiras tecnológicas e de exatas
Janyelle da Mata
Democratizar o saber científico para estudantes periféricos é o objetivo do projeto Investiga Menina. A base da iniciativa é a inclusão de bibliografias escritas por mulheres negras e também a visita dos alunos à Universidade Federal de Goiás (UFG) para palestras e encontros com cientistas. O programa, coordenado pela professora do Instituto de Química (IQ-UFG), Anna Benite, é voltado para as ciências exatas, como Química, Matemática e Física.
Investiga Menina faz parte do Coletivo Negro Tia Ciata que está ligado ao Laboratório de Pesquisa em Educação Química e Inclusão (Lpeqi), fundado por Anna Benite em 2009. O nome do coletivo vem de Hilária Batista de Almeida ou Tia Ciata, uma mãe de santo e sambista brasileira, considerada como pioneira do samba carioca. O grupo é integrado por professores, cientistas e alunos da pós-graduação do campo das ciências exatas da UFG.
A finalidade do programa é a inclusão de pessoas pretas nas ciências exatas. O argumento de Anna é que o discurso unilateral da produção científica torna o conhecimento pobre e consequentemente não atende muitas pessoas. Ela afirma que esse modelo é projetado para permanecer da maneira que é, já que não atinge as periferias, que tem uma visão de mundo diversa e que podem contribuir para a ciência. “Quando a ciência cria um modelo único, esse modelo dá apenas respostas pequenas e limitadas. Quanto mais gente pensar no modelo, mais robusta é a resposta que ele entrega”, explica.
Segundo Anna, Investiga Menina também é proveitoso para as cientistas que aceitam palestrar para os estudantes da rede pública, pois assim, elas são desafiadas a discutir sobre o seu objeto de estudo. A escolha dessas mulheres é feita para gerar identificação, física ou regional, e estimular os ouvintes a se tornarem produtores de conhecimento.
A iniciativa também faz o acompanhamento pedagógico regular dos alunos dessas escolas. Os alunos da pós-graduação atuam no estágio-docência dentro dessas instituições e inserem, junto ao currículo base proposto pelo Ministério da Educação (MEC), a produção científica de mulheres negras e utilizam como exemplo o cotidiano dos estudantes. “Por exemplo, hoje nós ensinamos simetria molecular utilizando a geometria da trança nagô, nos baseando no trabalho da cientista Luane Bento. Ao invés de aprender frações por pedaços de pizza que custa em média R$100 e que está fora do contexto de vida dessas pessoas, ensinamos as tranças, que são uma prática comum dentro da casa das famílias negras e é uma prática de cuidado e de valorização de identidade também”, explica a professora.
Outra ação que o programa promove é a disponibilização de bolsas de Iniciação Científica no valor de R$280,00, para meninas negras das escolas que atendem. O intuito é que elas não tenham necessidade de trabalhar e possam se dedicar exclusivamente aos estudos. “É um investimento a longo prazo, muitas meninas precisam sair para complementar a renda. Mesmo que o valor não seja expressivo, ele contribui para deixá-las disponíveis para os estudos”, afirma Anna. Este valor é uma parceria com a Associação Brasileira de Pesquisadores Negros, dentro do projeto Afro Cientificas.
O projeto irá receber fomento do Fundo Baobá para Equidade Social para a melhora de sua estrutura. Investiga Menina foi contemplado pelo edital Educação e Identidades Negras – Políticas de Equidade Racial. Anna explica que o financiamento será usado para as ações já executadas pelos participantes, como o transporte de alunos até a UFG, lanche para a visita à Universidade e as atividades desenvolvidas dentro da sala de aula. Além disso, o dinheiro irá custear o treinamento dos integrantes do Investiga Menina, professores e estudantes de pós-graduação, de estratégias e governança e comunicação.
Atualmente, o projeto atende três escolas na Região Metropolitana de Goiânia, no Conjunto Vera Cruz, no bairro Jardim Dom Fernando e no Jardim Cerrado, somando 4 mil estudantes, apenas do Ensino Médio. A ideia de Anna é abrir novas chamadas para aumentar a abrangência do programa. “A ideia é levar o Investiga para sua escola, para estender a Universidade para perto das pessoas”, afirma.
Anna Benite conta ainda que alunas da educação básica que participaram do projeto no passado, hoje são pesquisadoras e foram convidadas para palestrar para os estudantes.
Para ficar por dentro das novas chamadas fique de olho no instagram do projeto.
Fonte: Secom UFG
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