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Universidade Federal de Goiás
água comunidades rurais

30% da água consumida por comunidades rurais de Goiás está contaminada, avalia pesquisa da UFG

Em 13/06/23 12:35. Atualizada em 14/06/23 08:23.

Fontes individuais e coletivas de água de 23 comunidades rurais e tradicionais foram avaliadas

Ana Paula Ferreira

Longe dos centros urbanos, as comunidades rurais e tradicionais do estado de Goiás recorrem às fontes superficiais e subterrâneas para o consumo de água, como poços e cisternas. Pesquisa realizada pelo Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública da Universidade Federal de Goiás (IPTSP/UFG) avaliou a qualidade da água de 23 dessas comunidades e constatou a contaminação fecal das amostras, com 30% de incursão viral vinculada a doenças gastrointestinais e diarreias, dos quais 20% são de rotavírus, 9,4% de adenovírus humano e 4,4% de enterovírus.

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(Foto: arquivo pessoal)

Foram coletadas 160 amostras, cujas fontes de água eram de poço tubular raso, poço tubular profundo, poço raso escavado e nascente, mananciais superficiais, água da chuva armazenada em cisternas e caminhão pipa. O rotavírus foi o indicador viral encontrado com maior prevalência nas fontes subterrâneas, associadas aos poços tubulares rasos. Nas amostras de nascentes, houve a identificação de uma porcentagem de 11,8% de adenovírus humano. As amostras de cisterna vieram contaminadas com a mesma prevalência de 15.8% de adenovírus e rotavírus. “Esses resultados revelam que a população analisada está vulnerável a doenças de veiculação hídrica”, afirma a pesquisadora Graziela Bordoni no estudo.

A grande surpresa do estudo foi a contaminação das águas em fontes subterrâneas e profundas, presumidas como de melhor qualidade. “A pesquisa constatou o contrário”. A principal fonte de contaminação foi deflagrada em fontes subterrâneas, ou seja, em poços tubulares profundos e rasos, contrariando a expectativa inicial de maior contaminação em fontes superficiais.  “Infelizmente as hipóteses não se confirmaram. Esperávamos que não haveria contaminação, principalmente de poços tubulares”, afirma a pesquisadora Graziela Bordoni. 

Outro dado igualmente interessante diz respeito à contaminação de cisternas, água das chuvas, na qual foi constatada contaminação tanto na pesquisa realizada anteriormente, pelo pesquisador Fernando Lima, quanto na segunda tiragem de amostras analisadas por Bordoni. O estudo anterior de Fernando, também associado ao mesmo projeto de pesquisa do IPTSP, avaliou a presença do enterovírus e do adenovírus nas comunidades rurais. As novas análises detectaram mais um tipo viral, o rotavírus.

Projeto

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Surpresa foi identificação de contaminação em fontes profundas e subterrâneas (Foto: arquivo pessoal)

A pesquisa de Graziela Bordoni, vinculada ao Laboratório de Biotecnologia de Microrganismos (LBMic), faz parte de um projeto maior, o Projeto SanRural, fomentado pelo Ministério da Saúde e pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa), e envolve a Faculdade de Enfermagem e a de Engenharia Ambiental. O projeto tinha como objetivo abarcar as comunidades tradicionais e mais vulneráveis de forma homogênea, porém como a coleta de amostras se deu em um período pandêmico, houve a redução de 44 comunidades para 23 comunidades de fato analisadas. “Há a ideia de voltarmos às comunidades que não analisamos para preencher as lacunas que ficaram”, afirma a orientadora do estudo e professora de Microbiologia do IPTSP, Lilian Carneiro.

Segundo Graziela Bordoni, a vulnerabilidade sanitária ainda é muito presente em comunidades rurais e tradicionais, como as ribeirinhas, quilombolas e assentamentos, que apresentam ausência de condições adequadas de saneamento e saúde ambiental sem acesso às políticas públicas. Uma constante entre as 23 comunidades escolhidas foi a presença de uma vulnerabilidade individual e coletiva, social e de políticas públicas relacionadas ao enfrentamento de situações prejudiciais à saúde e ao saneamento.  

A pesquisadora analisa que mediante os resultados obtidos é de suma importância a continuação do acompanhamento destas comunidades e a expansão do estudo e coleta das comunidades que não conseguiram ser atendidas nesta pesquisa. “Essa é uma preocupação nossa e também do Projeto SanRural, fazer esse monitoramento”, conta Graziela Bordoni. A pesquisadora espera que a pesquisa e suas conclusões possam ser usadas para um retorno para essas comunidades.  “Nossa expectativa é que o governo, a partir desses dados, comece a gerenciar um retorno para a melhoria da qualidade de vida e água dessas comunidades”, concorda a orientadora do estudo, Lilian Carneiro. 

Fonte: Secom UFG

Categorias: destaque Ciências Naturais