Icone Instagram
Ícone WhatsApp
Icone Linkedin
Icone YouTube
Universidade Federal de Goiás
Painel Econômico

PAINEL ECONÔMICO

Em 02/10/23 12:07. Atualizada em 02/10/23 12:08.

Em 2022 o Brasil renovou recordes de produção no setor agropecuário brasileiro

Boletim de Conjuntura Econômica de Goiás – Nº 160, setembro de 2023.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou recentemente as duas principais pesquisas do setor agropecuário brasileiro que possuem dados em nível municipal, estadual e nacional: a Produção Agrícola Municipal – PAM, cujo foco são os produtos das lavouras temporárias e permanentes; e a Pesquisa Pecuária Municipal – PPM, por meio da qual o Instituto viabiliza o acesso a informações dos efetivos das espécies de animais criadas, bem como da produção e do valor da produção de origem animal. Ambas mostraram que 2022 foi um ano que renovou muitos recordes de produção, do valor da produção agrícola e do valor da produção de produtos de origem animal do Brasil. 

A PAM evidenciou que a produção brasileira de grãos atingiu o maior patamar da série histórica em 2022, com 263,8 milhões de toneladas e elevação de 3,8% em relação a 2021. O valor da produção agrícola do país aumentou 11,8% em termos nominais entre esses dois anos, alcançando R$ 830,1 bilhões e registrando também o maior valor da série histórica da pesquisa. Os 91,1 milhões de hectares de área plantada em 2022 foram 5,2% maiores do que os 86,6 milhões de hectares de 2021, o que, em termos absolutos, significou o plantio de 4,5 milhões de hectares adicionais no território doméstico. 

A PPM apurou, em 2022, a existência do maior efetivo de rebanho bovino da sua série histórica, iniciada em 1974, registrando 234,4 milhões de cabeças de gado, número 4,3% maior do que o de 2021. Os efetivos de suínos e galináceos também atingiram os recordes históricos da pesquisa, com os suínos alcançando 44,4 milhões de animais (avanço de 4,3% em relação a 2021) e os galináceos 1,6 bilhão de animais (aumento de 3,8% na comparação com o ano anterior). As produções de ovos de galinha (aumento de 1,3%, com 4,9 bilhões de dúzias), mel (alta de 9,5%, com produção de 61,0 mil toneladas) e peixes (617,3 mil toneladas) também alcançaram seus maiores níveis históricos. A despeito da queda de 1,6% da produção de leite (34,6 milhões de litros em 2022, ante 35,2 milhões de litros em 2021), o valor de produção de todos os produtos de origem animal do país alcançou R$ 116,3 milhões em 2022, com elevação de 17,5% em relação ao ano anterior.

No caso de Goiás, também houve registro de bons resultados no campo, mas as atividades agrícolas obtiveram desempenho bem superior ao das atividades pecuárias. O estado tem se destacado na produção de várias culturas importantes para o país ao longo dos anos. Ocupa a primeira posição no país na produção de girassol, tomate e sorgo; a segunda posição na produção de alho, cana-de-açúcar e soja; a terceira na produção de feijão; a quarta na produção de algodão e milho; a quinta na produção de cebola; e a sexta posição na produção de trigo. O valor da produção agrícola goiana aumentou cerca de duas vezes mais (23,6%) do que o do Brasil (11,8%), passando de R$ 62,4 bilhões, em 2021, para R$ 77,1 bilhões em 2022. Com isso, a participação do estado no valor da produção agrícola nacional passou de 8,4% para 9,3% entre esses dois anos. Tal como ocorreu no Brasil, o estado registrou volume recorde de produção de grãos, atingindo a marca de 27,7 milhões de toneladas, com avanço de 4,4% da área plantada. A maior parte (53,7%) da área plantada no estado foi ocupada pela soja, que teve elevação de 6,9% na comparação com 2021. Com isso, Goiás ultrapassou o estado do Paraná e alcançou a segunda posição no ranking nacional de produção de soja.
Por outro lado, no que tange à pecuária, a PPM evidenciou que, muito embora o estado tenha registrado melhores indicadores do que o Brasil na produção de ovos de galinha (aumento de 2,1% e de 1,3%, respectivamente em Goiás e no Brasil) e no efetivo de galináceos (aumento de 5,2% e de 3,8%), os resultados dos rebanhos bovino e suíno e a produção de leite foram piores por aqui do que em nível nacional. Enquanto o rebanho bovino cresceu 4,3% no Brasil, em Goiás tal crescimento foi de apenas 0,5%, levando-o a perder uma posição no ranking nacional para o estado do Pará, que antes figurava na terceira posição. No caso do rebanho suíno, houve queda de 4,5% em Goiás na passagem de 2021 para 2022, na contramão do ocorrido no Brasil, que apresentou elevação de 4,3%. Influenciada pela redução do número de vacas ordenhadas, a produção goiana de leite recuou 3,9% em relação ao ano de 2021, ao passo que a brasileira caiu somente 1,0%.
Mas o que pode estar entre as principais explicações desse desempenho inferior da pecuária goiana em relação à sua produção agrícola? Desde o início da pandemia de Covid-19, os preços das commodities agrícolas vêm registrando patamares relativamente elevados em nível nacional e internacional. Os problemas de escoamento das produções russa e ucraniana decorrentes do conflito entre os dois países contribuíram para manter tais preços pressionados. Nesta linha, as exportações das commodities agrícolas têm se tornado cada vez mais relevantes para a geração de superávits comerciais para o Brasil. Com a elevação de 34,0% dos preços dessas commodities no mercado internacional, o superávit na balança comercial do setor agropecuário aumentou de US$ 46,5 bilhões, em 2021, para US$ 65,8 bilhões em 2022. Esse processo se aliou à valorização do dólar em relação ao real, para proporcionar resultados superiores para a produção agrícola brasileira. Assim, a área plantada no estado cresceu, alavancada pelos bons resultados das últimas safras, e isso pode ter intensificado a substituição de parte das áreas destinadas à pecuária por lavouras agrícolas. Em outras palavras, o sucesso do setor agrícola pode estar engendrando cada vez mais o aumento do custo de oportunidade da produção pecuária em relação à produção agrícola em Goiás.
Os dados da PPM mostram, por exemplo, que todos os 246 municípios goianos possuíam registro de rebanho bovino em 2022. O município de Nova Crixás/GO possuía o maior rebanho bovino do estado e ocupava a 12ª posição dentre os 5.570 municípios brasileiros no ranking, com 849.529 animais. As três primeiras colocações do estado nesse ranking são completadas pelos municípios de São Miguel do Araguaia/GO (com 660.056 animais) e Porangatu/GO (com 508.765 animais). As três últimas posições são ocupadas por três municípios situados no Entorno do Distrito Federal: Valparaíso de Goiás/GO (120 animais), Águas Lindas de Goiás/GO (2.014 animais) e Novo Gama/GO (2.790 animais). Dos 246 municípios goianos, 111 tiveram redução do seu rebanho bovino em 2022 e, destes, 70 (63,1%) apresentaram aumento da área plantada de culturas agrícolas. Isto é, há indícios de que muitos municípios tradicionalmente voltados para a produção pecuária têm registrado crescimento significativo das áreas destinadas à produção agrícola em detrimento das áreas destinadas à pecuária. Mesmo que sua área voltada à produção agrícola seja relativamente pequena, este foi o caso, por exemplo, do município de Porangatu/GO, que continua possuindo o terceiro maior rebanho bovino do estado, mas experimentou queda de 0,4% desse rebanho em 2022 na comparação com 2021, enquanto sua área plantada aumentou 19,9% no mesmo período.
Um ponto positivo em relação a esse processo é que algumas das áreas para as quais a produção agrícola tem avançado eram ocupadas antes por pastagens degradadas, caracterizadas pela baixa produtividade e por baixo potencial de fornecimento de forragens aos animais. E não há dúvida da importância do aumento da produção agrícola para o país e de que muito desse aumento decorre dos excelentes ganhos de produtividade obtidos pelos produtores rurais domésticos nos últimos anos. Além da contribuição do setor para a geração de superávits comerciais, há de se destacar seu papel na geração e manutenção da segurança alimentar, no fornecimento de insumos básicos para a indústria, para a dinâmica econômica de muitos pequenos municípios e seus efeitos de transbordamento, estimulando muitas atividades de serviços e de tecnologia da informação que se integraram à atividade agrícola, ampliando a geração de emprego e renda em outros setores. Não por acaso, o Produto Interno Bruto – PIB brasileiro do 1º trimestre de 2023 surpreendeu os analistas econômicos, tendo sido alavancado, em grande medida, pelo setor agrícola.
Mas, com o aumento do custo de oportunidade do negócio e as pressões pelo aumento do retorno financeiro, muitos produtores tradicionais podem acabar optando pelo abandono de atividades pecuárias tradicionais e/ou pelo arrendamento de suas terras para a produção de grãos, especialmente os menores e/ou os que utilizam técnicas de produção menos modernas e pouco eficientes. No caso do leite, por exemplo, o aumento do custo de produção e a necessidade de angariar produtividades cada vez maiores para tornar a produção rentável têm expulsado muitos pequenos produtores do mercado. Esta dinâmica pode colocar em xeque a manutenção de atividades que possuem não apenas retornos financeiros, mas também retornos sociais e culturais significativos, na medida em que contribuem para que famílias tradicionais permaneçam no campo e para a manutenção de técnicas de produção, culturas e modos de vida que dificilmente podem ser reproduzidos em outros locais.
Esse processo reitera a importância de políticas, instituições de pesquisas/extensão rural, órgãos de fomento, bem como de programas de treinamento e qualificação que contribuam para aprimorar as técnicas de produção, com estímulo à ampliação da produtividade, criação de novos produtos e agregação de valor à produção oriunda de atividades agropecuárias, especialmente daquelas que têm entregado rentabilidades inferiores às proporcionadas pelas atividades agrícolas, notadamente daquelas especializadas na produção de commodities que podem ser negociadas no mercado internacional.

Boletim de Conjuntura Econômica de Goiás – N. 160/setembro de 2023.
Equipe Responsável: Prof. Edson Roberto Vieira e Prof. Antônio Marcos de Queiroz.

O Jornal UFG não endossa as opiniões dos artigos e colunas, de inteira responsabilidade de seus autores.

 

Fonte: Secom UFG

Categorias: colunistas Face