
“Não podemos falar em guerra, sim em opressão”, afirma especialista
Professor Nicola Melis, da Universidade de Cagliari (Itália) falou sobre conflito entre Israel e Palestina em palestra na UFG
Carolina Melo
Especialista em História do Oriente e instituições jurídicas muçulmanas, o professor Nicola Melis foi convidado pelo Programas de Pós-Graduação em História (PPGH) e em Ciência Política (PPGCP), ambos da Universidade Federal de Goiás (UFG), para falar sobre o conflito entre Israel e Palestina. De acordo com o professor, a partir da conjuntura atual, não se pode falar em "guerra" e sim em "ataque indiscriminado" de Israel contra a população palestina. "O que se observa é uma opressão de um exército muito forte contra diferentes partes dessa Palestina étnica, que não existe enquanto território. Com base no direito internacional, isso não é guerra", afirma.
Conforme explica Nicola Melis, enquanto a Palestina não se organiza, de fato, como Estado nacional, com território e governo formalizado, não existe situação equânime que configure guerra. Há, portanto, segundo o especialista, um conflito entre Israel e colonos palestinos, motivado por um contexto complexo e histórico de formação do Estado de Israel em 1948, por intermédio da Organização das Nações Unidas (ONU), e, consequentemente, pela atuação do Hamas. "Tem que se considerar o direito internacional, que não vem sendo respeitado", disse.
O professor compara a situação atual do Estado de Israel ao antigo regime de segregação racial mantido na África do Sul entre 1948 e 1994, o apartheid. Desde a criação do Estado, havia entre as estratégias a limpeza étnica. "Muitos historiadores, inclusive israelenses, relatam essa limpeza étnica", afirma o professor. Nesse sentido, o pesquisador não vislumbra como resolução a criação de dois Estados, devido inclusive à peculiaridade da ocupação territorial. Como caminho de resolução do conflito, Nicola Melis vislumbra duas possibilidades: uma é o Estado único, que busca um caminho humanitário e pacífico de coexistência, "o que também acho muito difícil nesse momento", pondera; outra, "como provocação, a limpeza étnica do povo palestino, o que eu achava que a história condenava, mas não é o que estamos vendo".
Histórico
Durante sua exposição, Nicola Melis resgatou o histórico de ocupação do território, o conflito que se acirrou após a criação do Estado de Israel e o encaminhamento do conflito a partir de um contexto global, em que a atuação do poder europeu sempre esteve relacionada aos encaminhamentos de gestão do território. De acordo com sua análise, o conflito tem nuances de uma "ideologia nacionalista muito particular", para além da conexão com a religião hebraica. Para o especialista, trata-se mais de uma "questão ideológica e política". O contexto complexo forneceu as bases para a formação do partido político Hamas, que, no caso, não tem um projeto político e um programa eleitoral. "Hamas é um partido perigoso, que tem um projeto sobre o território".
Assista à palestra completa do professor Nicola Melis na UFG.
Fonte: Secom UFG
Categorias: Israel-Palestina Humanidades