Pesquisa avalia violência contra pessoas LGBT+ em escolas
Professora realizou pesquisa de campo em diversas escolas públicas de São Paulo e apresentou os resultados coletados
Texto e fotos: Eduardo Augusto
Sexo, gênero e desejo. Esses foram os três pilares utilizados pela professora do Instituto Federal de Goiás, Keith Braga, em palestra ministrada no dia 25 de outubro no prédio das Humanidades 2 da Universidade Federal de Goiás. Em sua apresentação, a docente trouxe dados coletados durante pesquisa de campo que realizou em escolas públicas de São Paulo. A mesa foi mediada por Jaqueline Oliveira, docente da Faculdade de Ciências Sociais da UFG.
A exposição, de grande carga emocional do início ao fim, teve início com a fala da professora Jaqueline que se apresentou e optou por dar à palestrante, Keith Braga, a autonomia para apresentar-se para os ouvintes em seus próprios termos. Keith, por sua vez, definiu-se como uma pessoa interessada nas discussões de gênero da maneira mais plural possível, ela defendeu que em relação à homofobia no ambiente escolar, não se pode desistir da escola e sim “curar” a homofobia desses espaços, por meio de ações educativas que visem a inclusão.
Posteriormente, e adentrando ao tema da conversa, a docente explicou a importância de entender que existem vários conceitos de gênero, e para exemplificar trouxe um mural repleto de filósofas, estudiosas e pensadoras que têm em comum concordarem que esse conceito se trata de uma construção social. Para a finalidade daquela explicação, o conceito de gênero utilizado foi a partir da perspectiva de Judith Butler.
Em seguida, houve a discussão de como a leitura de gênero a partir da interpretação social molda as relações dos indivíduos a todo momento. E salientou que pessoas com o alinhamento maior com os gêneros impostos à elas a partir do nascimento tem maior validação e prestígio na vida social. Para constatar seu argumento, Keith trouxe dados sobre a violência contra pessoas que fogem à essa norma.
Logo depois, a sequência sexo, gênero e sexualidade foi explicada como a lógica compulsória investida e imposta que prevê que os indivíduos ajam e performem a partir da norma heterossexual. Ela destacou o interesse social em manter essa estrutura chamando atenção para os perigos sob os indivíduos dissidentes dessa ordem.
No que tange aos riscos sob as pessoas que diferem ao alinhamento sexo, gênero e sexualidade, a violência contra elas já assumiu vários nomes, pecado, crime ou patologia são alguns deles. É homofobia, portanto, o conjunto articulado de atitudes, posicionamentos, restrições e violências direcionadas às pessoas que não vivenciam sua sexualidade ou gênero em consonância com as normas regulatórias de gênero.
Em relação às violências, a professora manifestou preocupação em relação a todas, mas destacou que no que tange à transfobia, segundo dados, essa é a violência com maior requintes de crueldade e brutalidade. Os resultados, de acordo com o Antra, mostram que a expectativa de vida de pessoas trans no Brasil é de até 35 anos e estima-se que aos 13 anos, em média, é a idade em que as pessoas trans são expulsas de casa.
Além disso, é na escola também que o indivíduo passa a maior parte de seu crescimento, e assim a postura dessa instituição deve ser analisada no que diz respeito aos indivíduos LGBTQIA + presentes nesses espaços. De acordo com sua pesquisa, Keith pontuou que a instituição escolar não quer abrir mão da homofobia, ao contrário, em muitas ocasiões por vezes chega a até viabilizar essa agressão se mantendo omissa diante da violência sofrida por alguns alunos.
Também existe a tentativa das escolas, por meio de intervenções veladas, de intervir e realizar a manutenção de gêneros dissidentes, aqui, Keith trouxe relatos de uma escola na qual trabalhou em que os profissionais fizeram um estudante homossexual assinar um documento declarando que iria cessar seus comportamentos “extravagantes” após ele próprio ter sofrido violência dos outros alunos por assumir namoro com um colega.
Outrossim, a escola pode agir com posturas de patologização, ameaçar exposição aos pais, responsabilizar as próprias pessoas LGBT´s pelos crimes cometidos por elas e oferecer vida precária à esses alunos, o que, de acordo com Keith pode causar problemas sérios no sentido de propiciar a evasão escolar, causar danos à subjetividade, e perpetuar práticas homofóbicas.
A docente, apesar de trazer os pontos negativos da maioria das escolas em relação à homofobia, deixou claro que o espaço escolar deve ser conscientizado através de uma reeducação. Afinal, como o painel da palestra anunciava: homofobia tem cura.
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