Icone Instagram
Ícone WhatsApp
Icone Linkedin
Icone YouTube
Universidade Federal de Goiás
Onça-parda

Pesquisa mapeia presença da onça-parda no Chaco Seco da Argentina

Em 16/01/24 09:15. Atualizada em 16/01/24 09:30.

Em paisagens fragmentadas, regiões agrícolas são mais benéficas à espécie do que áreas de pastagem

Carolina Melo

Puma, suçuarana, leão da montanha. São vários os nomes que a onça-parda, como é conhecida no Brasil, recebe nas diferentes partes do mundo, tamanha a sua plasticidade ambiental e ampla distribuição geográfica. Apesar de se adaptar a diferentes tipos de biomas, a espécie vem sofrendo com a perda da vegetação nativa e a caça.

Para entender melhor os impactos, uma pesquisa realizada pelo Instituto de Ecología Regional (IER), de Tucumán (Argentina), em parceria com a Universidade Federal de Goiás (UFG), desenvolveu um modelo ecológico para entender a distribuição da espécie no Chaco Seco argentino.

Para a surpresa dos pesquisadores, não só a quantidade de vegetação nativa remanescente interfere na presença da espécie, mas também a característica da ocupação humana ao redor. Quando os remanescentes de vegetação nativa são circundados por agricultura, o puma tende a ocorrer mais do que nas áreas de pastagem.

 

Leia também: Pesquisa publicada na Nature propõe nova forma de avaliar padrão de biodiversidade dos trópicos

 

Onça-parda

Com ampla distribuição geográfica, Puma concolor é conhecida por vários nomes (Foto: Sabolaslo – pixabay.com)

 

Mapeamento

A pesquisa mapeou nove grandes regiões do Chaco Seco com 150 pontos de observação com o uso de armadilhas fotográficas, que são câmeras fotográficas acionadas por sensores de movimento.

"Como as pastagens da região preservam algumas características da vegetação natural, incluindo alguns arbustos e árvores nativas, inicialmente pensamos que elas seriam mais benéficas para a espécie do que a monocultura, que é bastante homogênea. Mas o resultado foi o contrário. A matriz de ocupação sendo a agricultura se mostrou mais propícia para a presença da espécie", afirma o pesquisador e professor do Departamento de Ecologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFG, André Regolin.

De acordo com o estudo, quando a área contém baixa cobertura de vegetação lenhosa nativa, ou seja, menos de 50%, e pouco pasto no entorno, a probabilidade de presença do puma é relativamente baixa. Em áreas com mais de 50% de vegetação, há alta presença da espécie e "o que está no entorno não importa muito". Por outro lado, em regiões com grande área de pastagem e pouca vegetação lenhosa, a probabilidade de ocupação é quase zero.

"Com base no que foi observado por meio da análise dos dados e testes estatísticos, a gente tem uma ideia da movimentação do puma. O melhor cenário é bastante vegetação lenhosa, com baixa porcentagem de pastagem, ou seja, com agricultura na matriz", detalha o professor.

 

Leia também: Por que a América do Sul é berço da maior diversidade de peixes de água doce?

 

Onça-parda

Principais tipos de cobertura encontrados na região do Chaco Seco argentino (Imagem: Nanni e colaboradores)

 

Habitat

Para fazer a modelagem do habitat do puma, o estudo mediu o grau de fragmentação das paisagens pesquisadas, identificou o tamanho, o formato e a distância entre as manchas de vegetação nativa, estimou a disponibilidade de presas e caracterizou a matriz do entorno.

"Os estudos mais antigos limitavam-se a identificar apenas o quanto tinha de vegetação nativa e seu tamanho. Com o avanço dos enquadramentos teóricos, atentou-se para a importância do entorno e da forma de ocupação humana, que também afetam a movimentação das espécies na paisagem".

A mudança contribui para se pensar em novas estratégias de conservação, acredita o professor da UFG. "Modelar o habitat e entender os requerimentos ambientais de uma espécie como o puma é o primeiro passo para desenvolver estratégias de conservação da biodiversidade, que incluem proteção e restauração de áreas, manejo de conflito entre puma e produção de cabras e ovelhas, por exemplo".

A partir dos 150 pontos de observação, o modelo ecológico foi expandido para todo o Chaco Seco, que abrange mais de 490 mil quilômetros quadrados cobertos por florestas subtropicais secas e interrompidos pela pecuária, cultivos agrícolas e pelas comunidades crioulas e indígenas.

"Foram dias de processamento para a gente chegar ao mapa do resultado final. E com ele é possível compreender o padrão de ocorrência da espécie. A gente viu que em 45% do Chaco Seco, a chance de ter a presença do puma é muito grande, a probabilidade é muito alta. Isso é esperado porque a espécie é generalista, tem uma grande plasticidade ambiental. Por sua vez, em 32% da região a probabilidade é alta, 18% moderada, e só 5% baixa".

Acesse aqui o artigo "Woody cover and pasture within the surrounding matrix drive puma (Puma concolor) occupancy in agroecosystems of the Argentine Dry Chaco".

 

* Crédito da foto de capa: Sabolaslo (pixabay.com).

Fonte: Secom UFG

Categorias: ecologia Ciências Naturais ICB destaque