PAINEL ECONÔMICO
O que influencia a revisão para cima das estimativas de crescimento da economia brasileira em 2024?
O Índice de Atividade Econômica do Banco Central, IBC-Br, sugere que economia brasileira cresceu 2,45% em 2023. Esse indicador é considerado pelo mercado como uma espécie de prévia do PIB, que é oficialmente calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
As estimativas iniciais captadas pelo Banco Central no seu Relatório Focus apontavam para um crescimento do PIB de 0,75% no ano passado. Se o resultado do IBC-Br for confirmado pelo IBGE na divulgação do PIB que deve ocorrer em março de 2024, a economia brasileira terá crescido mais de três vezes em relação às previsões iniciais do mercado.
O setor agropecuário foi importante para impulsionar a economia brasileira em 2023, com a safra atingindo o maior patamar da série histórica do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA), realizado pelo IBGE. As informações do Sistema de Contas Nacionais Trimestrais do Instituto apontaram que o setor agropecuário doméstico avançou 18,8% no primeiro trimestre de 2023 em relação ao mesmo período do ano anterior.
A surpresa positiva relativa à safra agrícola do ano passado se aliou à queda dos preços internacionais das commodities agrícolas e dos combustíveis, para auxiliar na derrubada da inflação no país, aumentando o poder de compra das famílias, cujo consumo responde por cerca de dois terços do PIB, medido pela ótica da demanda. Aliás, tudo indica que este componente da demanda agregada (o consumo das famílias) prestou uma valiosa contribuição para o crescimento da economia brasileira em 2023.
Em adição ao aumento do poder de compra das famílias, uma conjunção de outros fatores fornece pistas do que motivou esse movimento: a taxa de desocupação apurada pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad-C) do IBGE fechou 2023 no menor patamar desde 2014, alçando a massa de rendimentos ao seu volume recorde; houve elevação dos gastos do Governo Federal com programas transferências de renda; e, adicionalmente, a nova política adotada para correção do salário-mínimo e a atualização da tabela do Imposto de Renda aumentaram a renda disponível das famílias.
A despeito da manutenção da taxa básica de juros da economia, Selic, em patamares ainda elevados, o volume de vendas do comércio varejista fechou o ano com avanço de 1,7%, o de serviços cresceu 2,3% e, muito embora tenha aumentado timidamente (0,2%), a indústria ficou no campo positivo em 2023, após ter caído 0,7% no ano anterior.
No caso de Goiás, o Índice de Atividade Econômica Regional (IBCR) do Banco Central aponta para um crescimento econômico de 6,1% em 2023, que é cerca de 2,5 vezes superior ao da economia nacional. A economia goiana parece ter sido muito beneficiada pelos resultados da atividade agrícola registrados em 2023. Segundo o LSPA, a produção agrícola do Estado atingiu seu maior patamar naquele ano, resultado semelhante ao que foi visto para a safra brasileira como um todo, mas com impacto mais expressivo para a economia goiana, por contar com uma maior participação do setor agropecuário no PIB vis-à-vis a economia brasileira. Em 2021 (último dado disponível), o PIB da agropecuária representava 4,1% do PIB total brasileiro, enquanto essa relação era de 9,1% para a economia goiana.
Os bons resultados apresentados pela atividade agrícola parecem ter reverberado direta e indiretamente sobre outros setores de atividade da economia goiana, especialmente nos serviços de transporte. O setor de serviços goiano cresceu 6,5% em 2023 em termos reais, resultado quase três vezes superior ao nacional, sendo que um dos destaques foi justamente a atividade de serviços de transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio, que foi responsável por cerca de um terço do crescimento total da atividade de serviços do Estado.
No caso do comércio varejista, depois de ter apresentado duas quedas consecutivas (em 2021 e em 2022), o volume de vendas setor voltou a crescer em Goiás, muito embora em patamar inferior ao que foi verificado em nível nacional. Tal qual ocorreu no Brasil, a redução da taxa de desocupação e o aumento do poder de compra das famílias podem ter contribuído para estimular o crescimento do comércio em nível local, em consonância com os resultados da atividade agrícola. A produção industrial de Goiás, por sua vez, avançou 6,1%, com resultado bem acima do registrado pelo Brasil (0,2%) em 2023, tendo como um dos seus principais motores a produção de alimentos e bebidas.
Em relação ao ano de 2024, o cenário inicial é de desaceleração do crescimento econômico. A principal razão para tanto parece estar na queda que se espera ter nos resultados do setor agropecuário, por conta do atraso do plantio da safra 2023/2024 decorrente de condições climáticas adversas causadas pelo El Niño e da queda dos preços internacionais das commodities agrícolas.
Se o resultado positivo do setor agropecuário contribui para alçar a taxa de crescimento da economia goiana para além da verificada na economia brasileira, o negativo pode fazer o mesmo, só que em sentido contrário. Dado o patamar da taxa de crescimento sugerido pelo IBCR para a economia do Estado no ano passado, isso não significa necessariamente que o PIB goiano seja negativo ou inferior ao brasileiro em 2024. Outros fatores podem suavizar esse processo ao longo do ano.
Assim como em 2023, o ano de 2024 começou com os agentes econômicos revisando suas estimativas para o crescimento da economia brasileira. Nos primeiros Relatórios Focus, divulgados pelo Banco Central nesse ano, a mediana das expectativas do mercado para o crescimento do PIB em 2024 estava em torno de 1,55%. Já no último Relatório, do dia 23 de fevereiro/2024, a expectativa para o indicador atingiu 1,75%. Nessa mesma linha, as projeções para a economia brasileira apresentadas nos relatórios World Economic Outlook, elaborados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) em janeiro/2023, abril/2023 e outubro/2023, apontavam para um crescimento do PIB de 1,5% em 2024, enquanto a última publicação, de janeiro/2024, já sugere um crescimento de 1,7% do indicador nesse ano.
Mas, o que pode estar influenciando a revisão para cima das estimativas de crescimento da economia brasileira em 2024?
Parece haver motivos para se acreditar que praticamente todos os componentes da demanda agregada (consumo das famílias, investimento, consumo do Governo e exportações líquidas) podem continuar atuando para estimular o PIB nesse ano. O consumo das famílias tende a se manter importante por conta da resiliência do mercado de trabalho, que continua operando com taxas de desocupação em níveis historicamente baixos. Há também perspectiva de redução da parcela da renda da população brasileira destinada ao pagamento de dívidas, em decorrência do programa Desenrola, que, juntamente com a continuidade do processo de queda da taxa de juros Selic, pode melhorar as condições de crédito da economia e estimular o consumo das famílias.
Apesar das discussões acerca de possíveis ajustes de gastos, o Governo Federal deve injetar cerca de R$ 93 bilhões na economia nesse ano para pagar os precatórios atrasados. Ainda do ponto de vista da política fiscal, a aprovação da reforma tributária, depois de tantas tentativas frustradas, gera esperanças fundamentadas de que haverá simplificação da tributação no país, com a unificação de cinco tributos (ICMS, ISS, IPI, PIS e Cofins) a partir de 2033. Em ato contínuo, a perspectiva de queda da taxa Selic e os incentivos anunciados pelo Governo Federal no âmbito da sua nova política industrial (Nova Indústria Brasil) podem contribuir para elevar a Formação Bruta de Capital Fixo do país.
E, por fim, do ponto de vista das exportações líquidas o início do ano foi animador: no mês de janeiro de 2024 o saldo comercial do país superou em 186,0% o do mesmo mês de 2023 e foi o maior da série histórica do Banco Central iniciada em 1997. Evidentemente, é muito cedo para apontar tendências para o resultado da balança comercial em 2024, mas vale a pena mencionar que o World Economic Outlook, mencionado acima, melhorou suas estimativas para os crescimentos da economia mundial e da economia chinesa nesse ano. Como se sabe, o saldo da balança comercial de qualquer país está sujeito à dinâmica da economia mundial e, no caso do Brasil, sobretudo ao comportamento da economia chinesa.
Boletim de Conjuntura Econômica de Goiás – N. 165/fevereiro de 2024.
Equipe Responsável: professores Edson Roberto Vieira e Antônio Marcos de Queiroz (FACE/UFG)
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Fonte: FACE
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