LabMicol, do Iptsp, descreve duas novas espécies de fungos
Pesquisas lideradas pelo professor Jadson Bezerra analisaram sequências de DNA
Marina Sousa
O Laboratório de Micologia (LabMicol), do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública da Universidade Federal de Goiás (Iptsp/UFG), descreveu duas novas espécies de fungos. Uma delas, Phaeoisaria goiasensis, homenageia o estado de Goiás. O fungo foi identificado a partir de uma placa de Petri com meio de cultura armazenada em uma geladeira no LabMicol, e foi descrito em uma publicação no ano passado.
A segunda espécie, Thermoascus endophyticus, foi encontrada em ramos da planta medicinal do Cerrado Brosimum gaudichaudii (Moraceae), popularmente conhecida como mama-cadela, inharé ou algodão-do-campo. O nome refere-se ao estilo de vida do fungo, que é endófito, ou seja, vive em associação benéfica com as plantas sem causar danos aparentes, proporcionando benefícios contra danos bióticos ou abióticos. Thermoascus endophyticus foi coletado no arboreto da Escola de Agronomia (EA) da UFG e descrito em publicação neste ano.
As descobertas foram realizadas sob a coordenação do professor Jadson Bezerra, do Programa de Pós-Graduação em Biologia da Relação Parasito-Hospedeiro (PPGBRPH) e do LabMicol, e fazem parte de dois projetos de pesquisa financiados pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela Federação de Apoio à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg).
Os estudos contam ainda com a participação de estudantes de graduação em Biotecnologia, Ciências Biológicas e Farmácia da UFG, além de mestrandos e doutorandos do PPGBRPH e do Programa de Pós-Graduação em Biologia de Fungos da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
As amostras dos novos fungos estão depositadas na Coleção de Culturas Micoteca URM do Departamento de Micologia do Centro de Biociências da UFPE, na Coleção de Culturas de Fungos da UFG e no Herbário da UFG, contribuindo para o crescimento dos acervos biológicos no Brasil.
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Phaeoisaria goianiensis (à esq.) e Thermoascus endophyticus: novas espécies descritas por pesquisadores da UFG (Imagem: Reprodução)
Contribuição
Segundo o professor Jadson Bezerra, as recentes descobertas contribuem para a expansão do conhecimento sobre essas novas comunidades fúngicas e suas interações, que permeiam praticamente todo o ecossistema.
A espécie do gênero Phaeoisaria, por exemplo, pertence a um gênero de fungos já conhecido há bastante tempo, e a pesquisa revelou que a nova espécie (Phaeoisaria goiasensis) se diferencia principalmente por apresentar estruturas morfológicas e dados de DNA que diferem da espécie mais próxima, Phaeoisaria annesophieae.
"Para chegar a essa conclusão, nossa equipe realizou minuciosas comparações de sequências de DNA, que evidenciaram as diferenças entre a nova espécie e outras já descritas para o gênero", explica o micologista.
Já o impacto da descoberta da Thermoascus endophyticus é particularmente relevante, uma vez que os fungos endofíticos desempenham papéis cruciais nas funções fisiológicas e ecológicas das plantas. Eles auxiliam no seu crescimento e aumentam a resistência a condições adversas, como temperaturas extremas, seca e salinidade, além de protegê-las contra insetos, patógenos e outros organismos.
Além disso, essas novas espécies abrem caminho para estudos e aplicações em diversos campos, incluindo biotecnologia, agricultura, alimentação, entre outros. Jadson adianta que em breve as descrições de outras novas espécies de fungos do Cerrado serão publicadas a partir de plantas e de amostras coletadas em cavernas.
"Os fungos do Cerrado são um tesouro que necessitam ser descobertos para a compreensão de parte da diversidade micológica que está entre nós e que necessita de especialistas para o seu estudo. Além disso, investigações sobre os potenciais biotecnológico e patogênico serão investigados", ressalta o professor.
Iniciação científica
A farmacêutica e mestranda do PPGBRPH, Tatiane Mendonça da Silva, participou dos estudos envolvendo a descoberta do Thermoascus endophyticus, que foi resultado de seu trabalho de iniciação científica. Ela relata que fazer parte da descoberta de uma nova espécie de fungo é incrível, ainda mais uma espécie isolada de uma planta endêmica do Cerrado como a mama-cadela.
"Eu sempre gosto de frisar que essa descoberta é apenas uma fração do que as espécies vegetais do nosso bioma podem revelar. Além disso, a preservação da flora do Cerrado é imprescindível para a identificação de novas espécies de fungos endofíticos e outros microrganismos, que inclusive podem vir a ter uma aplicação biotecnológica com potencial uso nas áreas da indústria e da saúde, por exemplo", explica Tatiane.
Os outros pesquisadores envolvidos nos estudos das descobertas das novas espécies de fungos são: Hildene Meneses e Silva, biomédica e técnica de laboratório do LabMicol, e Anthony Dias Cavalcanti, doutorando do Programa de Pós-Graduação em Biologia de Fungos da UFPE, que se dedicaram à pesquisa sobre a Phaeoisaria goiasensis. Já Camila Oliveira dos Santos, estudante do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFG integra a equipe de pesquisa sobre a Thermoascus endophyticus.
Fonte: Iptsp
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