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Universidade Federal de Goiás
Inova

INOVA

Em 18/07/24 13:14. Atualizada em 18/07/24 13:41.

É importante falar de propriedade intelectual para crianças?

Tatiana Ertner*

Inesperadamente, escrevi um livro infantil!

Sim, sou professora de adultos, lido diariamente com adultos e tenho muita, mas muita dificuldade de encontrar um meio de despertar, nesses adultos, um interesse frutífero sobre as diversas características da propriedade intelectual. Não me espanto com essa dificuldade, porque entendo perfeitamente bem que o desinteresse é um fenômeno cultural, além de um reflexo dos estímulos que envolvem a vida e as necessidades de quem é nascido e criado em qualquer país em desenvolvimento (gostava da honestidade dos anos 1980, então existiam o primeiro mundo, o mundo comunista e o terceiro mundo; os eufemismos não me desviam da realidade), mas me abala o fato de que, mesmo informados da importância desses temas, eles parecem tão apartados da formação de que precisam que não conseguem mais mudar a forma de perceber a infinita fonte de riquezas e de desenvolvimento que carregam dentro de si. Mesmo aqueles que são treinados em temas da tecnologia. Nosso país é consumidor de tecnologia, então nossos cientistas não buscam, como prioridade, proteger e valorizar o que produzem.

Como tenho essa ânsia que me joga a novos projetos, iniciei uma ação de extensão e fui às escolas apresentar aos jovens estudantes as noções da propriedade intelectual, e isso foi de um modo tão prazeroso que não posso mais me desvincular disso.

A melhor parte foi perceber que todos nós nascemos com a habilidade de criar, de nos envolver com os problemas cotidianos e que temos uma necessidade de trazer soluções, seja em benefício próprio, seja pela satisfação de ser responsável pelo sorriso de outra pessoa.

As crianças têm isso todos os dias. E como são criativas! E como se interessam por tantas áreas diferentes! Elas não são apenas o futuro: elas são a luz do presente e a concretização do passado. Elas vivem a criatividade em tudo o que fazem.

E a criatividade é fonte da inovação! Em contrapartida, a falta dela é o obstáculo número um para o empreendedorismo. É verdade! Para muitos empreendedores, o desenvolvimento de produtos e serviços inovadores é o maior desafio que eles enfrentam. Criar algo exclusivo, mas que atenda a uma demanda do mercado, não é simples e demanda muito trabalho e pesquisa. Para criar algo novo e saber que ele renderá retorno ao investimento, é necessário buscar por informações e conhecer a fundo o mercado, analisar tendências, se informar sobre as atividades de concorrentes e trabalhar a sua criatividade com ousadia. E isso não se faz sem uma habilidade inata.

O fato é que a criatividade está no ser humano em qualquer fase de sua vida, mas é necessário garantir que ela seja constante. É necessário reconhecer quando somos mais criativos e o que é preciso para manter a mente atualizada e ativa. Desde quando e até quando esse estímulo deve perdurar? Será que existe método?

Algumas pessoas envolvidas com a gestão da inovação acreditam que sim, e que esse método para alavancar a inovação através das gerações está baseado em quatro pilares:

(1) criar crianças curiosas;

(2) criar crianças imaginativas;

(3) criar crianças corajosas; e

(4) criar crianças apaixonadas.

Nota-se, portanto, que as ações estão baseadas nas decisões que são tomadas durante a formação da criança, em seus primeiros anos de aprendizagem. Ou seja, a inovação e o empreendedorismo, para renderem os frutos desejados pelo mercado, devem ser aprendidos na infância, devem ser conceitos aprimorados durante a vida escolar.

A questão agora é: quem está preparado para assumir esse papel? Num país em que a cultura do desconhecimento da propriedade intelectual e de sua abrangência é amplamente disseminada, qual o preparo que os responsáveis por ensinar podem ter?

Para abordar com efetividade os temas do empreendedorismo e da inovação, os professores devem primeiramente encarar a transformação que a abordagem a esses temas representa. E é essa a questão, não? Onde eles, por sua vez, desenvolverão essas habilidades? Com base nessas habilidades é que irão ajustar seus planejamentos e ações de ensino e aprendizagem, rever currículos para que possam entregar os melhores resultados aos estudantes, que usarão esses conhecimentos em prol do sucesso de seus futuros empreendimentos.

Isso significa que os educadores da atualidade precisam carregar competências empreendedoras como apurada visão de negócios, e isso em áreas distintas, além das noções construtivas da propriedade intelectual. Exige-se muito do que, culturalmente, é pouco fornecido.

Está claro, portanto, que somente repassar a responsabilidade aos educadores, que não foram preparados para lidar com esses temas, dessa forma, em seus anos de aprendizado, é uma ação inócua e improdutiva. Mas isso não quer dizer que devemos nos abster de ter alguma ação. Por enquanto, o que se pode fazer é direcionar informação de uma maneira que encontre interlocução com as vivências das crianças dentro e fora da sala de aula.

Foi aí que encontrei um modo, e ele é bem particular. Não é uma receita de sucesso, mas é uma forma que pode inspirar outras. Quando percebi, me vi escrevendo um texto para alguém que poderia ser meu filho, mas poderia ser o de todos nós. Escrevi e dei aos meus filhos, que ilustraram, à sua maneira, as passagens que mais lhes fizeram sentido. Deixei um espaço para que toda criança que se deparasse com o livro também encontrasse um espaço para criar e registrar sua criação. E, com isso, espero estar fazendo uma pequena parte na tarefa de encantar pessoas com as próprias capacidades, na torcida de que isso possa refletir em um futuro diferente para essa brilhante geração que recebemos a tarefa de cuidar e preparar!

Meu livrinho? É para crianças! Mas, se quiser saber, basta me perguntar!

 

Livro Propriedade Intelectual

Capa do livro "Mamãe! Olha o que eu inventei"

 

* Tatiana Duque Martins Ertner de Almeida é professora do Instituto de Química, coordenadora de Internacionalização do IQ, mantém linhas de pesquisa sobre propriedade intelectual, projetos de extensão de PI no ensino básico e coordena o curso de especialização em Propriedade Industrial da UFG.

 

Os artigos publicados são de inteira responsabilidade de seus autores e não refletem, necessariamente, a opinião do Jornal UFG.

Fonte: IQ

Categorias: colunistas IQ