Icone Instagram
Ícone WhatsApp
Icone Linkedin
Icone YouTube
Universidade Federal de Goiás
Artigo Carla

Jornalismo científico nas universidades públicas brasileiras: ferramenta de diálogo com a sociedade

Em 08/08/24 14:19. Atualizada em 08/08/24 14:21.

Instituições devem separar o que é comunicação institucional e o que é jornalismo científico

Carla de Oliveira Tôzo*

Corte de verbas para pesquisas. Crescimento de grupos negacionistas. Covid-19. Aumento da propagação de desinformações, principalmente aquelas ligadas às ciências. Ataque às universidades. Desqualificação do papel do jornalismo. Defesa da ciência. Defesa da universidade. Mobilização da comunidade científica para divulgar melhor suas pesquisas ao se comunicar – direta ou indiretamente – com a sociedade. Universidade produzindo seu próprio jornalismo.

Todos esses fatos estão ligados ao recente período histórico e social pelo qual nós passamos. De um lado, havia um movimento de desmonte e descredibilização da universidade, da ciência, ou do jornalismo. De outro, agentes com diversas ações de enfrentamento a essas situações, principalmente as que se referem à comunicação.

Cientistas, pesquisadores, institutos de pesquisas e universidades enxergaram a necessidade do contato maior com um público diverso. Assim, quem não possuía essa ferramenta (ou canal) passou a ter e, para quem já tinha, o investimento em tempo e publicações tornou-se maior.

Entre esses exemplos, interessa olhar com mais atenção para o papel das universidades públicas nesse processo. Por quê? Porque o relatório Clarivate Analytics (2019) intitulado "A Pesquisa no Brasil: Promovendo a excelência", realizado a pedido da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), por exemplo, divulgou que dez universidades – todas elas públicas – são responsáveis por mais da metade da produção científica brasileira.

Além disso, a pesquisa "Confiança na ciência no Brasil em tempos de pandemia", realizada em 2022, pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Comunicação Pública da Ciência e da Tecnologia (INCT-CPCT), identificou que os cientistas, especialmente aqueles que trabalham em universidades e instituições públicas, têm imagem positiva, sendo percebidos como honestos e que realizam um trabalho que beneficia a população. Em uma lista de profissionais previamente fornecida, em que os entrevistados podiam marcar duas opções, foram indicados como fontes confiáveis de informação médicos (60,1%), cientistas (47,3%, dos quais 30,6% cientistas de universidades ou institutos públicos de pesquisa e 16,7%, cientistas que trabalham em empresas) e jornalistas (36,4%).

Uma outra questão da pesquisa buscava identificar se os entrevistados tinham conhecimento sobre instituições científicas e pesquisadores. Dentre as instituições mais citadas, estão o Instituto Butantan, a Fundação Oswaldo Cruz e a Universidade de São Paulo.

Reconhecemos, portanto, que a comunicação com a sociedade é fundamental para dar visibilidade às universidades e aos projetos e, consequentemente, ampliar o acesso à informação científica de qualidade. Mas de que tipo de comunicação estamos falando? Institucional? Geral?

Ambas, apesar de focarem públicos diferentes, são importantes no organograma de uma universidade. Tornar a ciência pública é fundamental, principalmente no contexto das democracias, da cidadania e do desenvolvimento da própria ciência. Para isso a divulgação científica, em seus diversos formatos, é de suma importância. Wilson Bueno compreende a divulgação científica como: "A utilização de recursos, técnicas, processos e produtos como programas de rádio e televisão, jornais, revistas e sites para a veiculação de informações científicas para o público leigo".

Mesmo sabendo que não é tão fácil introduzir um setor especializado de comunicação na estrutura organizacional da universidade, seria importante para as instituições separarem o que é comunicação institucional (assessoria de imprensa ou assessoria de comunicação) e o que é divulgação científica, via práticas jornalísticas, especialmente a nomeada de jornalismo científico.

Na busca por identificar e compreender como se configura o jornalismo científico em universidades públicas observando suas características, rotina produtiva, conteúdo e público, nasce a pesquisa de doutorado "A práxis do jornalismo científico: a experiência do Jornal da USP e de universidades públicas brasileiras no período pandêmico", desenvolvida entre os anos de 2020 e 2023, no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.

Ao acessar todos os sites (109 no total) das universidades públicas (federais e estaduais) brasileiras em busca de dados sobre a comunicação e o jornalismo científico produzidos por elas, a investigação constatou que 36 universidades federais e 10 estaduais produzem esse tipo de conteúdo (com as nomenclaturas jornalismo científico ou divulgação científica) e 33 (federais) e 30 (estaduais) não produzem jornalismo científico e, sim, jornalismo de caráter mais institucional ou, eventualmente, uma ou outra nota/notícia de divulgação de resultados de pesquisa desenvolvidos pela instituição na home.

Para tentar entender como esse jornalismo científico é feito, pela perspectiva de quem o produz, 15 profissionais de 12 instituições das cinco regiões brasileiras: Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul foram ouvidos.

E como esse conteúdo aparece? Na home com um espaço dedicado ao tema, ou, ainda, em uma página e/ou canais específicos como sites, podcasts, jornais impressos e/ou digitais, vídeos, revistas, boletins, sem contar as mídias sociais.

Nas falas dos jornalistas que atuam nessas universidades é possível identificar que os profissionais procuram atuar em duas frentes: (1) como uma ponte, sendo mediadores entre os veículos de comunicação e as fontes internas de informação, e (2) como produtores de conteúdo informativo que é publicado nos canais oficiais da instituição.

 

* Carla de Oliveira Tôzo é jornalista e doutora em Comunicação pela Escola de Comunicação e Artes (ECA) da USP.

 

Este artigo foi originalmente publicado no Jornal da USP. Os artigos publicados são de inteira responsabilidade de seus autores e não refletem, necessariamente, a opinião do Jornal UFG.

Fonte: Jornal da USP

Categorias: artigo USP