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Universidade Federal de Goiás
Painel Econômico

PAINEL ECONÔMICO

Em 13/08/24 14:28. Atualizada em 15/08/24 15:00.

Oscilações do câmbio e seus reflexos na inflação

Edson Roberto Vieira
Antônio Marcos de Queiroz*

A taxa de câmbio iniciou o ano de 2024 em cerca de R$ 4,89. Como esperado, oscilou ao longo do ano e, embora tenha atingido a casa dos R$ 5 nos meses de fevereiro e março, só se firmou acima desse patamar no início de abril. A partir daí, não ficou mais abaixo de R$ 5 e iniciou uma escalada mais forte no mês de junho. Dados mais robustos sobre o ritmo de crescimento da economia norte-americana e o aumento das dúvidas sobre o cumprimento das regras do arcabouço fiscal acabaram por fazer com que o dólar superasse a casa dos R$ 5,50 entre o fim de junho e o início de julho.

O Banco do Japão (BoJ) decidiu elevar a taxa de juros de sua economia, tornando-a positiva em termos reais pela primeira vez depois de mais de oito anos em que estava negativa, e contribuiu para intensificar as pressões sobre o dólar no Brasil. Esse movimento afetou negativamente as perspectivas de ganhos com as chamadas operações de carry trade, por meio das quais os agentes tomam empréstimos em países com taxas de juros mais baixas, como o Japão, e os aplicam em outros com taxas mais elevadas, como o Brasil. O resultado foi uma nova escalada da taxa de câmbio, cujo pico se deu justamente com a ocorrência da maior queda da história da bolsa de valores do Japão no dia 5 de agosto.

A recuperação da bolsa japonesa e de outras bolsas de valores ao redor do mundo surpreendentemente ocorreu logo no dia seguinte, depois de o vice-presidente do BoJ indicar que não haveria nova elevação dos juros no Japão até que os mercados se estabilizassem. Após a sinalização de que num futuro aparentemente não muito distante o Banco Central dos EUA (Federal Reserve) deve dar início à redução da taxa de juros e de uma fala mais dura do diretor de Política Monetária do Banco Central brasileiro, Gabriel Galípolo, acerca do compromisso da instituição com o controle da inflação, a taxa de câmbio voltou a cair. Mas, mesmo com a queda, essa taxa continua registrando patamares bem superiores à média verificada até o início de junho, sem contar na comparação com os meses iniciais do ano.

Ocorre que o câmbio é um dos principais preços da economia e, por conseguinte, suas oscilações têm reflexos relevantes sobre a inflação. Além do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) calcula o Índice de Preços ao Produtor (IPP), que apura os preços de produtos diretamente das indústrias extrativas e de transformação. Muitos desses produtos dependem muito de insumos importados ou de matérias-primas com preços atrelados ao dólar e, não por acaso, têm apresentado aumentos de preços bem acima do IPCA nesse ano.

De acordo com os resultados do IPP, os preços das indústrias de fabricação de celulose, papel e produtos de papel foram os que registraram os maiores aumentos em 2024, acumulando alta de 11,3%, seguidos pelos da metalurgia (10,7%) e pelos da indústria de fabricação de cigarros (8,2%). Foram verificados aumentos acima do IPCA dos preços de produtos farmoquímicos e farmacêuticos, de fabricação de equipamentos de transporte e de outros produtos químicos, cujos custos de produção são também sensíveis à variação cambial.

A grande questão é se e como os aumentos dos preços registrados na porta das fábricas chegarão ao varejo. Caso isso ocorra com muita intensidade, o Banco Central pode encontrar mais dificuldades para reduzir a taxa básica de juros e eventualmente até decidir elevá-la. No caso dos preços ao consumidor, o reflexo da taxa de câmbio sobre os combustíveis se apresentou com força no IPCA relativo ao mês de julho, que atingiu o teto da meta de 4,5% perseguida pelo Banco Central.

Foi justamente o aumento dos preços dos combustíveis que fez com que o IPCA do município de Goiânia superasse a média nacional em julho. Além de ter maior peso no cálculo do índice goianiense (23,98%) em relação ao nacional (20,45%), o grupo de transportes, que abrange os combustíveis, apresentou elevação de 1,93% em Goiânia contra 1,82% no Brasil. Com isso, o IPCA registrou aumento de 0,43% e 0,38%, respectivamente, nessas duas regiões.

A boa notícia é que o índice de difusão do IPCA atingiu 46,9% em julho ante 52,3% em junho, indicando que os aumentos de preços foram menos disseminados entre os itens apurados pelo índice. O grupo de alimentação e bebidas parece estar ajudando nesse sentido, na medida em que apresentou, em julho, sua primeira queda após seis aumentos consecutivos em 2024.

Boletim de Conjuntura Econômica de Goiás – N. 171/agosto de 2024.

 

* Edson Roberto Vieira e Antônio Marcos de Queiroz são professores da Faculdade de Administração, Ciências Contábeis e Ciências Econômicas (FACE) da UFG.

 

* Os artigos publicados são de inteira responsabilidade de seus autores e não refletem, necessariamente, a opinião do Jornal UFG.

Fonte: FACE

Categorias: colunistas Face