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Universidade Federal de Goiás
Contos de Cativeiro

Espetáculo aborda resiliência do povo negro na luta pela liberdade

Em 16/09/24 14:57. Atualizada em 19/09/24 13:42.

Apresentação integrou o 7º Simpósio Internacional da Faculdade de Ciências Sociais da UFG

 

Contos de Cativeiro

Marcelo Marques assina o texto e a atuação no espetáculo "Contos de Cativeiro", encenado no Centro Cultural UFG (Foto: Evelyn Parreira)

 

Eduardo Bandeira

"Só é escravo quem tem medo da morte". Essa foi uma das frases mais marcantes do personagem Preto Velho, interpretado por Marcelo Marques, durante a peça "Contos de Cativeiro", apresentada no Centro Cultural UFG na última terça-feira (10/9). A performance, uma produção do Quilombo Cultural Orum Ayê, fez parte da programação do 7º Simpósio Internacional da Faculdade de Ciências Sociais.

Clique aqui para ver o álbum de fotos do evento.

A apresentação, que narra a trajetória de luta e resiliência do povo negro, teve início em um ambiente carregado de reverência e intensidade. O aroma de incensos e velas perfumava o ar, enquanto tambores, cordas e caixotes, cuidadosamente dispostos, compunham o cenário. Um fundo branco, decorado com folhas, reforçava o tom simbólico, envolvente e acolhedor.

No cenário também se viam pendurados um chapéu, uma blusa social branca, um terno e uma echarpe vermelha. Vestido de branco, o personagem Preto Velho iniciou a contação de histórias, por meio de uma suave melodia.

À medida que a canção se dissolvia, a encenação ganhava força com um monólogo poderoso. Nele, a narrativa traçava a chegada do homem branco, trazendo em suas mãos um livro sagrado, um instrumento simbólico usado para moldar um Deus à sua imagem e semelhança, uma metáfora da imposição cultural e religiosa. "Não conseguia entender porque estava sofrendo aquelas agressões".

A peça foi tecendo a história da escravidão de maneira que o público não apenas compreendesse, mas também enxergasse, diante de si, a dor e o cerceamento impostos ao povo negro, refletidos na encenação.

Porém, a resistência deste povo também foi destacada. Falou-se sobre o papel dos quilombos e os castigos aplicados àqueles que fugiam da escravidão. Foi elucidada a brutalidade da vingança do homem branco contra aqueles que só queriam a liberdade a qual tinham direito. Com isso, o ponto mais dramático da apresentação foi o personagem sofrendo as dores da punição.

 

Contos de Cativeiro

Apresentação reverencia orixás: "as únicas prisões são aquelas fruto do medo da morte, mas ninguém está sozinho" (Foto: Evelyn Parreira)

 

Saudação pela dança

Em "Contos de Cativeiro", a história foi contada pelos mais velhos, enquanto os orixás foram reverenciados ao longo das cenas. Os Pretos Velhos, com sua sabedoria ancestral, partilharam ensinamentos e provocaram o público com reflexões.

Em uma dessas provocações, o espectador é levado a pensar sobre seu papel como consumidor em uma engrenagem sem fim, movida pelo capitalismo, comparado à imagem de um rato correndo em uma roda, sempre em busca de algo inatingível.

Além do teor crítico, o aspecto sacro também marcou a apresentação. O Preto Velho declarou: "Nós saudamos e louvamos dançando", para contar a história de Olodumaré, o Deus supremo, criador do universo e de tudo o que existe, considerado a fonte de toda a vida e o guardião do equilíbrio e da ordem cósmica.

Ao encaminhar-se para o encerramento, o personagem principal dirigiu-se ao público para lembrá-lo de que as únicas prisões que existem são aquelas fruto do medo da morte e que ninguém jamais está sozinho em sua trajetória.

 

Contos de Cativeiro

 

Fonte: Secom UFG

Categorias: Contos de Cativeiro Humanidades FCS