Mulheres continuam sub-representadas em comissões parlamentares na América Latina
Estudo analisou dados de 13 países da região e concluiu que presença feminina é maior em comissões de assuntos sociais
Bancada feminina no Congresso Nacional: apesar do aumento, participação em comissões é pequena (Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados)
EM SÍNTESE:
- Mulheres permanecem sub-representadas em comissões estratégicas na América Latina, como as de economia e justiça.
- Mesmo países com paridade eleitoral, como Bolívia e Argentina, apresentam desigualdade nessas comissões.
- Fatores culturais e estereótipos de gênero dificultam a participação feminina em posições de destaque parlamentar.
Luiz Felipe Fernandes
Um estudo publicado na revista científica América Latina Hoy, da Universidade de Salamanca, na Espanha, revela que, apesar do aumento da representação feminina nos parlamentos da América Latina, as mulheres continuam sub-representadas nas comissões parlamentares, especialmente aquelas consideradas estratégicas para o desenvolvimento de uma carreira política.
Assinam o artigo o professor da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Federal de Goiás (FCS/UFG) Carlos Ugo Santander, a doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos (PPGIDH/UFG), Ana Dirino, e a doutora em Sociologia pela UFG, Gabriela Peixoto. O doutorando da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Gabriel Madeira, também participou do estudo.
A pesquisa analisou dados de 13 países da América Latina e concluiu que as mulheres têm maior probabilidade de serem indicadas para comissões de assuntos sociais, enquanto os homens dominam as comissões de economia e assuntos políticos. Essas últimas são consideradas mais prestigiosas e relevantes dentro do parlamento, pois tratam de temas como constituição, justiça, relações exteriores e finanças.
Essa disparidade na participação em comissões estratégicas persiste mesmo em países que alcançaram a paridade de gênero nas eleições, como Argentina, Costa Rica, Bolívia e México. O estudo aponta que na Bolívia, por exemplo, apesar de as mulheres representarem 53,1% da Câmara Baixa, apenas 41,37% delas ocupam cargos em comissões de economia.
De acordo com o professor Carlos Ugo Santander, o fato de o estudo ter sido publicado no mais importante periódico sobre estudos latino-americanos na Europa causará um grande impacto nos movimentos que promovem políticas públicas que buscam reconhecer direitos.
Estereótipos de gênero
Para entender os fatores que contribuem para a desigualdade, os pesquisadores analisaram o impacto da ideologia partidária, experiência parlamentar prévia e participação na coalizão de governo. Os resultados indicam que esses fatores não têm um impacto significativo na probabilidade de uma mulher ser designada para uma comissão estratégica.
A pesquisa sugere que a sub-representação feminina em comissões estratégicas se deve a fatores culturais e à persistência de estereótipos de gênero que associam as mulheres a papéis de cuidado e os homens a posições de poder.
Os autores do estudo argumentam que a paridade de gênero nas eleições é um passo importante, mas não é suficiente para garantir a igualdade de oportunidades para as mulheres na política. "É necessário combater os estereótipos de gênero e promover uma cultura política mais inclusiva para que as mulheres possam ter acesso aos mesmos recursos e oportunidades que os homens no desenvolvimento de suas carreiras políticas", concluem os pesquisadores.
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Fonte: Secom UFG
Categorias: política Humanidades FCS Destaque