Sistemas de saúde devem se preparar para os desastres ambientais
Tema foi abordado pelo pesquisador e professor da Fiocruz, Guilherme Franco Netto, durante 21º Conpeex
Médico e professor da Fiocruz, Guilherme Netto é vinculado à pesquisa pelas temática da saúde pública e do meio ambiente (Foto: Evelyn Parreira)
Carolina Melo
"Incêndios florestais no Brasil, enchentes no Rio Grande do Sul, e a floração no deserto do Saara — são esses os temas que abordaremos hoje. Não podemos mais ignorar essa realidade. Ao discutir assuntos essenciais para a vida humana, é imprescindível considerarmos o impacto das mudanças climáticas". Com essa reflexão, o médico, professor e coordenador de Saúde, Ambiente e Sustentabilidade da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Guilherme Franco Netto, abriu sua palestra no segundo dia do 21º Congresso de Ensino, Pesquisa e Extensão (Conpeex), realizado pela Universidade Federal de Goiás (UFG).
Com o tema "Institutos de Ciência e Tecnologia em tempos de mudanças climáticas: desafios e oportunidades", a palestra realizada na quinta-feira (7/11) foi mediada pelo professor do Instituto de Estudos Socioambientais (Iesa) da UFG, Laerte Guimarães Ferreira Júnior. Com ampla experiência na área da saúde e na sua vinculação com as questões ambientais, Guilherme Franco Netto chamou a atenção para o cenário da saúde pública sob a pespectiva das mudanças climáticas e dos eventos extremos, lançando o olhar para os desafios e as oportunidades para as instituições de Ciência e Tecnologia.
Assim como destacou o palestrante, as mudanças climáticas não são um fenômeno recente. "A grande diferença é que, agora, elas estão sendo causadas pelas escolhas humanas", intimamente relacionadas, inclusive, com a forma em que a ciência é produzida, alerta o professor. Consequentemente, segundo ele, há o "afetamento" na saúde humana e a "previsão é que tenhamos que enfrentar cada vez com maior frequência esses eventos extremos".
Levando em conta o cenário mundial, Guilherme Franco Netto destacou que "as atividades humanas são as principais causadoras do aquecimento global, não há contestação quanto a isso". Ao direcionar o olhar para o Brasil, o professor lembrou sobre o fenômeno das ondas de calor que "aumentaram quatro vezes nos últimos 30 anos", sendo a "região Centro-Oeste uma das mais afetadas".
Uma reflexão importante levantada pelo professor foi em relação à tendência de se responsabilizar os países desenvolvidos pelas mudanças climáticas, possibilitando a isenção dos países em desenvolvimento. "Nosso país, por exemplo, tem uma responsabilidade muito grande. Ocupamos a sétima posição entre as nações que produzem mais gases de efeito estufa". As atividades que mais geram a emissão dos gases no Brasil, segundo Guilherme Franco Netto, são as queimadas, o desmatamento e a destruição dos ecossistemas: "48% de nossas emissões são devido à mudança de uso da terra e da floresta, 27% são advindos da agropecuária, 18% da produção de energia e 7% dos processos industriais".
Impacto na saúde
As doenças mais afetadas pela mudança climática global e pelos eventos extremos são as crônicas, respiratórias, cardiovasculares e renais, afirmou o professor e médico da Fiocruz, Guilherme Franco Netto. "Mas há outras relacionadas como as arboviroses, as doenças infecciosas e aquelas causadas por bactérias e fungos e as doenças parasitárias". Não por menos, segundo o médico sanitarista, "o próprio Ministério da Saúde (MS) tem feito uma demanda para que tenhamos uma agenda voltada para as mudanças climáticas". De acordo com o palestrante, o Sistema Único de Saúde (SUS) não está preparado para lidar com essas situações.
A preocupação com a saúde pública é mundial. Segundo o professor, que irá participar da 29ª conferência do clima da Organização das Nações Unidas (ONU), a COP29, este mês, a gestão da saúde terá uma agenda específica. "Isso demonstra a preocupação e a necessária mobilização de recursos e pessoas para lidar com essas situações".
Guilherme Netto: doenças crônicas, respiratórias, cardiovasculares e renais são as mais afetadas pelas mudanças climáticas (Foto: Evelyn Parreira)
Papel das instituições
Ao levar em conta sua atuação na Fiocruz, Guilherme Franco Netto trouxe considerações sobre as articulações institucionais e sistêmicas como contributivo para a tomada de decisão em benefício à agenda ambiental. Entre os objetivos, citou o fortalecimento de instrumentos e dispositivos de produção de conhecimento e a articulação com o Ministério de Saúde para preparar o SUS no enfrentamento de eventos extremos, "que serão cada vez mais frequentes em nossas vidas".
O palestrante também destacou a formação de uma rede que envolva outros ministérios como o Ministério do Meio Ambiente e da Fazenda. "É necessário adotar uma perspectiva visionária de como tratar as mudanças climáticas e caminhar em direção às articulações internacionais, interinstitucionais e ministeriais". Outro aspecto apresentado por Guilherme Franco Netto foi em relação à divulgação científica dos institutos de Ciência e Tecnologia. "Uma população bem informada é um elemento central para o avanço do processo".
O pesquisador trouxe um quadro panorâmico sobre as oportunidades que podem ser valorizadas no diálogo com as questões de saúde em tempos de mudanças climáticas. Entre eles, ele citou o incentivo ao desenvolvimento de tecnologias verdes pelas instituições de pesquisa e ensino, por meio de laboratórios vivos e municípios vivos; a capacitação e sensibilização de estudantes para que participem com protagonismo da agenda; as parcerias público-privadas, como ocorre entre a Fiocruz e a UFG; o engajamento comunitário; a redução das emissões; o desenvolvimento de plataformas tecnológicas que suportam iniciativas de sustentabilidade; o financiamento de projetos da agenda; e a gestão de resíduos e o consumo consciente.
Fonte: Secom UFG
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