
Saiba se você sofre de "apodrecimento cerebral"
Traduzido do inglês brain rot, termo descreve o desgaste mental gerado por conteúdo rápidos e superficiais
Smartphones colaboram para a deterioração mental causada pelo consumo de conteúdos de curta duração (Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil)
Da Redação, com informações do HC-UFG
O primeiro contato com as telas ocorre logo ao acordar, com o despertador do smartphone. Ao longo do dia, o aparelho continua como uma espécie de segunda pele: é utilizado para conversar com amigos e familiares, estudar, trabalhar e se entreter. Entre uma tarefa e outra, uma espiadinha nas redes sociais.
Mas a rotina conectada tem um preço – às vezes muito elevado. O consumo constante de conteúdo digital, especialmente de forma rápida e superficial, pode afetar nossa saúde cognitiva de maneiras invisíveis, profundas e até irreparáveis. Assim, a campanha Janeiro Branco, que dedica o primeiro mês do ano à reflexão sobre o cuidado com a saúde emocional, também representa um convite a uma vida mais equilibrada entre o on-line e o off-line.
A dificuldade de se desconectar das telas é um fenômeno mundial. Em 2024, o termo brain rot, que significa "apodrecimento cerebral", foi escolhido como a palavra do ano pela Universidade de Oxford, após uma votação pública que reuniu mais de 37 mil participantes. A expressão descreve um processo de desgaste mental que ocorre com a exposição contínua a conteúdos rápidos e superficiais, como vídeos curtos no TikTok ou Instagram.
De acordo com o psiquiatra do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (HC-UFG), Sávio Teixeira, o fenômeno ocorre quando o cérebro se acostuma a processar informações sem profundidade. Isso prejudica a atenção e a capacidade de realizar tarefas que exigem mais tempo e reflexão.
"Com o passar dos meses, o cérebro perde a capacidade de focar em atividades que demandam maior concentração e análise. Desta forma, é importante que as pessoas aproveitem esse início de ano para refletir sobre os impactos da tela na saúde mental", explica.
Os efeitos do brain rot costumam ser sutis no início. No entanto, se não tratados, podem afetar o sistema cognitivo dos indivíduos de maneira significativa. Os principais sintomas incluem dificuldades de concentração, cansaço mental constante e falta de interesse por atividades que exigem mais tempo e dedicação mental.
"Se essa sobrecarga não for abordada, pode levar a problemas como ansiedade, depressão, baixa autoestima, isolamento social, perda de prazer por atividades que antes eram prazerosas e até dificuldades em tomar decisões simples no dia a dia", alerta Sávio.
O uso constante de conteúdos digitais cria uma sensação de prazer imediato, mas temporário, fazendo com que o indivíduo adquira um vício nesses estímulos rápidos. Para quebrar o ciclo, é necessário estabelecer limites para o uso de telas, procurar atividades que desafiem o cérebro, como leitura e esportes, e praticar mais interações sociais presenciais, evitando a fuga emocional.
Janeiro Branco
Criada em 2014, a campanha Janeiro Branco busca conscientizar a população sobre a importância do cuidado com a saúde mental, com foco na reflexão sobre a vida, relações sociais e emoções. A escolha do primeiro mês do ano tem um significado simbólico, já que muitas pessoas estão mais propensas a avaliar suas condições de existência nesse período.
Assim como uma "folha em branco", a mobilização convida todos a escreverem ou reescreverem suas histórias de vida, reforçando a necessidade de preservar o bem-estar psicológico. Esse cuidado se torna ainda mais necessário diante dos impactos negativos causados pelo uso excessivo de tecnologia, como o fenômeno do brain rot.
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Fonte: HC
Categorias: saúde mental Saúde HC