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Universidade Federal de Goiás
Cerof diabetes

Estudo inédito vai mapear diabetes em Goiás

Em 21/02/25 15:03. Atualizada em 21/02/25 15:03.

Parceria entre UFG e Secretaria Estadual de Saúde avança em 2025 com mutirão em Guapó

 

Cerof diabetes

Centro de Referência em Oftalmologia (Cerof), no Setor Leste Universitário, atende totalmente pelo SUS (Foto: Divulgação)

 

Piter Salvatore

Uma parceria entre a Universidade Federal de Goiás (UFG) e a Secretaria Estadual de Saúde (SES) pretende apresentar um panorama detalhado da prevalência de diabetes no estado de Goiás. O estudo visa não apenas identificar a quantidade de pessoas com a doença, mas também localizar os casos por região, a partir de dados do DataSUS, da SES e de levantamentos presenciais nos municípios goianos. Os pesquisadores esperam que a iniciativa sirva de modelo para outras regiões do país.

Iniciado em novembro de 2024, o projeto é coordenado pelo professor da Faculdade de Medicina da UFG Marcos Ávila, que é diretor do Centro de Referência em Oftalmologia – Hospital de Olhos da UFG (Cerof). Atualmente, a pesquisa está na fase de análise de dados e, a partir deste mês de fevereiro, terá início a coleta de informações em campo, com o mutirão para a realização de exames preventivos no município de Guapó.

O projeto será realizado em três etapas: "mineração" (levantamento), organização e tratamento de dados; pesquisa de campo por meio da condução de exames preditivos; e interpretação dos resultados clínicos. De acordo com um dos pesquisadores, o biólogo Matheus Lima, a Universidade e a SES vão garantir o suporte administrativo e a articulação com órgãos públicos e parceiros. Já a coordenação geral será responsável pela supervisão de todas as frentes de trabalho, garantindo que as etapas ocorram de forma integrada.

Na primeira fase do projeto, atualmente em execução, estão sendo analisados os dados já disponíveis pela Secretaria e pelo SUS para traçar o perfil dos diabéticos em Goiás e reconhecer suas principais características. O professor do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFG Thiago Rangel coordena o mapeamento estatístico dos casos. Por meio da avaliação dos dados disponíveis do Ministério da Saúde e da SES será possível estimar a quantidade de diabéticos em Goiás.

Indicadores

Os dados de base populacional, incluindo pesquisas de gênero, idade, cor/etnia, entre outros, serão levantados a partir da análise de um município modelo. A cidade de Guapó foi a escolhida por ser representativa da população brasileira e goiana, como explica o pesquisador Matheus Lima.

"O diabetes segue uma regra de pirâmide etária. Então, para ver se esse valor de prevalência no Brasil estava correto, e se era possível reproduzir o mesmo valor para o estado de Goiás, selecionamos um município-exemplo que mais se aproximava dessa pirâmide nacional. A ideia era de que se uma região com a pirâmide etária parecida com a do Brasil apresentasse a mesma prevalência de diabetes e retinopatia diabética presentes no modelo, estaríamos mais próximos do que foi previsto para o Brasil".

A equipe de análise estatística investigou as pirâmides demográficas disponíveis e encontrou semelhanças entre as pirâmides do estado de Goiás e da população brasileira com a pirâmide da população de Guapó, localizada a aproximadamente 30 quilômetros de Goiânia e com pouco mais de 19,5 mil habitantes, segundo o último censo.

No município será realizado o mutirão, com a participação de servidores estaduais e municipais da área da Saúde e da equipe do Cerof. "Vamos medir pressão arterial, pressão ocular, realizar exame oftalmológico completo e a retinografia, que é o exame de imagem do fundo de olho, com tecnologia digital de alta performance", explica o diretor do Cerof, Marcos Ávila.

Nesta etapa a pesquisa também vai identificar os casos mais graves por meio da análise de peso corporal, tabagismo e outros hábitos pessoais, sedentarismo, medicações em uso, hipertensão arterial e outras doenças sistêmicas além do diabetes. Também serão feitos exames de rotina, como hemograma, glicemia, hemoglobina glicada e perfil lipídico. Esses exames permitirão avaliar quem tem maior probabilidade de desenvolver cegueira em decorrência do diabetes.

A última etapa do projeto vai utilizar os dados colhidos em Guapó para compará-los e atestar quem são os diabéticos e quem tem a possibilidade de desenvolver a doença. Ao cruzar as informações sobre hipertensão arterial, obesidade, tabagismo e hemoglobina glicada será possível localizar os casos mais graves e aqueles que precisam se prevenir. O estudo pretende contribuir para planejamentos estratégicos de enfrentamento à enfermidade.

 

Leia também: Inteligência Artificial auxilia descoberta de fármacos para diabetes

 

Cerof diabetes

Pessoas em atendimento pelo Cerof-UFG: mutirão de saúde será realizado em Guapó e dados subsidiarão estudos (Foto: Cerof-UFG)

 

Diabetes e saúde ocular

O diabetes afeta principalmente a visão e, se não tratado precocemente, pode levar à cegueira e, em casos mais graves, à morte. Marcos Ávila comenta que estima-se que metade dos diabéticos não sabem que tem a doença. A condição segue silenciosa para muitos.

Em 2024, o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) ofereceu um panorama do perfil da saúde ocular com base em dados do SUS. Segundo o documento, apresentado pelo professor da UFG à Câmara dos Deputados, o Brasil ocupava o quarto lugar entre os países com maior incidência de diabéticos adultos (entre 20 a 79 anos) (veja quadro).

Segundo o documento do CBO, são 20,7 milhões de casos no país. Dessa quantia, 7,1 milhões apresentam retinopatia diabética e 2 milhões têm alto risco de ficarem cegos. Além disso, aproximadamente 1,6 milhão dependem inteiramente do SUS.

 

Info diabetes

 

Retinopatia Diabética

Segundo o Ministério da Saúde, a Retinopatia Diabética (RD) está entre as principais causas de perda de visão em pessoas entre 20 e 75 anos. Trata-se de uma complicação na retina que afeta cerca de uma em cada três pessoas com diabetes e que é específica desta doença.

A incidência desta complicação no Brasil afeta de 24% a 39% na população diabética. Após 20 anos de doença, estima-se que 90% dos diabéticos do tipo 1 e 60% dos do tipo 2 terão algum grau de retinopatia diabética. Estudos internacionais indicam que o risco de cegueira pode ser reduzido para menos de 5% se a RD for diagnosticada e tratada precocemente.

O professor da UFG afirma que entre os 2 milhões de diabéticos com alto risco de cegueira, pouco mais de 25% possuem plano de saúde. Em outras palavras, 1,6 milhão dependem do SUS. Ainda que campanhas de prevenção sejam realizadas no âmbito da saúde pública, o professor da UFG chama a atenção para a dificuldade de acesso ao tratamento oferecido para retinopatia diabética. "As injeções intraoculares ou aplicação de laser são insuficientes para atender essa população de 2 milhões de pessoas", revela.

Em Goiás, o diabetes atinge 719 mil pessoas. Dessa quantidade, 248 mil apresentam retinopatia diabética e 25 mil correm risco de ficarem cegos. A capital Goiânia possui 8,8% de diabéticos, o que corresponde a 62.272 pessoas. Os números são do relatório do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2022 e do canal Vigitel 2023.

Marcos Ávila não tem dúvidas de que a situação sinaliza uma "epidemia". E, pensando nisso, foi criado o Grupo de Trabalho da Retinopatia Diabética, com membros da SES e da UFG, com a proposta de mapear os casos goianos com possível representatividade nacional. Para os especialistas, o problema aponta para a necessidade de um plano preventivo mais eficaz e de uma maior análise da preponderância do diabetes na região e no país.

Inovação

Atualmente, o sistema de identificação dos casos de diabetes ocorre por telefone por meio do canal Vigitel, vinculado ao Ministério da Saúde, que coleta informações com perguntas específicas. Embora funcional, esse método não permite encontrar os diabéticos dentro da diversidade regional. Segundo Marcos Ávila, a alternativa que os pesquisadores procuram pressupõe mais acesso a procedimentos de prevenção e tratamento.

De acordo com o pesquisador Matheus Lima, a principal contribuição do estudo conduzido pela UFG a curto prazo é científica: "Conseguir mostrar os fatores que podem estar associados à retinopatia diabética e evidenciar quais são os locais e as pessoas mais prejudicadas, além dos produtos científicos, como manuais norteadores".

Os integrantes do projeto pretendem criar um modelo de mapeamento de casos nos níveis individual e municipal. A ideia é contribuir para a identificação de pessoas que correm o risco de desenvolver retinopatia diabética e também o município que precisa de maior atenção.

A longo prazo, as consequências podem ser também políticas e orçamentárias, defendem os pesquisadores. Os resultados poderão revelar a importância de se inserir exames oftalmológicos na saúde primária, como vem sendo realizado em outros países. "A descoberta precoce da patologia pode evitar uma cegueira irreversível", alerta o professor da UFG.

 

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Fonte: Secom UFG

Categorias: Saúde Cerof Notícia 1