
Quanto mais roedores, mais parasitas?
Estudo da UFG e Fiocruz analisa como se dá essa relação em áreas agrícolas do Cerrado
Parasita coletado de roedores em áreas agrícolas, observado no microscópio (Imagem: Reprodução)
Luiz Felipe Fernandes
Um estudo publicado nos Anais da Academia de Ciências de Nova York revela que a diversidade e a quantidade de parasitas em áreas agrícolas dependem, principalmente, da variedade e do número de roedores presentes nessas paisagens. Contrariando expectativas iniciais, a fragmentação do habitat e a composição da paisagem não influenciaram diretamente os parasitas. Em vez disso, o impacto foi indireto: a estrutura da paisagem afetou a comunidade de roedores, que, por sua vez, determinou a diversidade de parasitas.
Além disso, o estudo apontou que a sazonalidade agrícola – isto é, o período de crescimento das plantações e o de descanso da terra (chamado de pousio) – não alterou significativamente a quantidade de roedores e parasitas. "Esperávamos que a época do ano alterasse a quantidade de roedores e parasitas, mas não encontramos diferenças significativas entre as estações", afirma Wanderson Siqueira Teles, que conduziu a pesquisa no mestrado em Ecologia e Evolução da Universidade Federal de Goiás (UFG).
A relação entre roedores e parasitas é fundamental para compreender melhor o funcionamento dos ecossistemas e os impactos das mudanças ambientais sobre a biodiversidade. Os parasitas desempenham papéis essenciais nos ecossistemas, ajudando a regular populações de hospedeiros e influenciando cadeias alimentares.
Na UFG, o estudo esteve vinculado aos Laboratórios de Genética & Biodiversidade (LGBio) e de Ecologia Teórica e Síntese (Lets), do Instituto de Ciências Biológicas (ICB). Também assinam o artigo pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da Universidade Estadual de Goiás (UEG).
Leia também: Pesquisadores da UFG colaboram com estudo internacional sobre a Antártida
Wanderson Teles em trabalho de campo e no laboratório (Fotos: Arquivo Pessoal)
Estudo no Cerrado
O estudo foi conduzido em 21 áreas de agricultura intensiva no Cerrado, abrangendo diferentes tipos de paisagens. Os pesquisadores utilizaram armadilhas para capturar roedores em três tipos de locais dentro das áreas estudadas: na borda de fragmentos florestais, dentro dos fragmentos e em áreas agrícolas.
"Cada área teve entre 20 e 24 armadilhas instaladas em três pontos de amostragem. Depois, coletamos os parasitas dos roedores, analisamos sua diversidade e relacionamos esses dados com as características da paisagem", detalha Wanderson.
Os parasitas encontrados nos roedores foram coletados, identificados e analisados, permitindo aos cientistas compreender como a diversidade de hospedeiros influencia a composição parasitária. Para mapear as paisagens e entender sua relação com os dados coletados, foram utilizados mapas de uso da terra e análises espaciais.
Os resultados reforçam a importância da preservação de remanescentes florestais no Cerrado. Ambientes mais heterogêneos e com maior diversidade de roedores sustentam uma biodiversidade maior, incluindo organismos frequentemente negligenciados, como os parasitas, que desempenham papéis ecológicos fundamentais.
"Nosso estudo sugere que a proteção de áreas de vegetação nativa e a promoção de paisagens mais heterogêneas são estratégias eficazes para manter a diversidade de roedores e, consequentemente, a de seus parasitas", ressalta o pesquisador.
Além disso, o estudo destaca que estratégias de conservação devem considerar não apenas grandes mamíferos ou aves, mas também pequenos vertebrados e seus parasitas. Essas interações ecológicas são cruciais para manter o equilíbrio dos ecossistemas.
Os pesquisadores agora buscam ampliar a investigação para outros grupos de animais, como mamíferos de médio e grande porte, a fim de entender melhor como diferentes espécies interagem em paisagens agrícolas e como essas interações podem ser afetadas por mudanças ambientais.
Receba notícias de ciência no seu celular
Siga o Canal do Jornal UFG no WhatsApp e nosso perfil no Instagram.
É da UFG e quer divulgar sua pesquisa ou projeto de extensão?
Preencha aqui o formulário.
Comentários e sugestões
jornalufg@ufg.br
Política de uso
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal UFG e do autor.
Fonte: Secom UFG
Categorias: ecologia Ciências Naturais ICB Notícia 4