
PIB cresce 3,4% em 2024, maior alta desde 2021
Economia deve começar a perder fôlego a partir do segundo trimestre deste ano
Setor da construção avançou 4,3% em 2024, mesmo com o aumento da taxa básica de juros (Foto: Elza Fiúza/Agência Brasil)
Edson Roberto Vieira
Antônio Marcos de Queiroz
O Produto Interno Bruto (PIB) diz respeito ao valor da produção de todos os bens e serviços finais produzidos no território nacional num dado período. Trata-se, portanto, de uma aferição do resultado da atividade econômica pela chamada ótica da produção. Esse resultado também pode ser mensurado por duas outras óticas: a ótica da renda, que levanta as rendas das famílias geradas durante o processo de produção do PIB, e a ótica da demanda, a qual apresenta os componentes da demanda pelo produto nacional, todos para o mesmo intervalo de tempo.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou recentemente o PIB de 2024, destacando que o indicador subiu 3,4% e, com isso, atingiu R$ 11,7 trilhões no acumulado do ano, registrando a maior alta desde 2021, quando avançou 4,8%. Considerando que 2021 foi um ano de recuperação da atividade econômica do país, que foi reduzida drasticamente em 2020 por conta da pandemia da covid-19, na série histórica do IBGE, que teve início em 1996, a alta do PIB em 2024 só foi menor do que a de 2010 (7,5%). Outro dado relevante acerca do crescimento econômico registrado pelo Brasil em 2024 foi o fato de ter sido mais espalhado entre os setores econômicos, em contraposição ao que foi apresentado no ano anterior, quando a agropecuária foi o principal motor do crescimento.
Como se referem a resultados das Contas Nacionais Trimestrais do Instituto, os resultados foram divulgados pelo IBGE apenas para as óticas da produção e da demanda. Pela ótica da produção, o PIB da indústria subiu 3,3% e o do setor de serviços 3,7%. No caso da indústria, chamou a atenção o resultado da construção, que avançou 4,3%, mesmo com o aumento da taxa básica de juros registrado no período. As indústrias de transformação também tiveram papel importante no resultado da indústria geral, na medida em que avançaram 3,8%, alavancadas especialmente pela fabricação de automóveis e de equipamentos de transportes, máquinas e equipamentos elétricos, produtos alimentícios e móveis.
No que se refere ao setor de serviços, que é responsável por quase 70% do PIB pela ótica da produção, o destaque ficou por conta dos serviços de informação e comunicação, comércio, atividades financeiras, atividades imobiliárias, transportes e administração pública, nessa ordem. Por outro lado, houve queda de 3,2% do PIB da agropecuária, que foi muito impactado pelas condições climáticas adversas registradas no ano passado, capitaneadas pelo El Niño. Assim, muito embora tenha havido crescimento da pecuária, produção florestal e pesca, o recuo das atividades agrícolas acabou por puxar o PIB do setor para baixo.
Já pela ótica da demanda, um dos destaques foi o crescimento do consumo das famílias, que avançou 4,8% na comparação com 2023. De acordo com o IBGE, esse movimento foi capitaneado pela melhora do mercado de trabalho, aumento das transferências de renda e crescimento das operações de crédito, dado que os juros médios praticados em 2024 ficaram abaixo dos de 2023. Esse resultado foi fundamental para alavancar o nível de atividade do país, uma vez que o consumo das famílias representa cerca de 64% do P IB pela ótica da demanda.
Outro destaque foi o crescimento de 7,3% da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), conceito que reúne a compra de máquinas, equipamentos, construção e gastos em pesquisa e desenvolvimento (P&D). No âmbito desse componente, chamaram a atenção o crescimento de 4,4% da construção, de 9,7% da aquisição de máquinas e equipamentos e de 9,5% da rubrica que engloba o desenvolvimento de softwares. Como se sabe, juntamente com o aumento da produtividade, é o crescimento da FBCF que leva a que a capacidade produtiva do país se expanda e, por conseguinte, que haja continuidade do crescimento econômico sem pressões oriundas de escassez de oferta.
Em relação aos demais componentes do PIB pelo lado da demanda, o consumo do governo teve alta de 1,9% e as exportações cresceram 2,9%, puxadas especialmente pelos embarques de produtos alimentícios, da indústria extrativa mineral, de outros equipamentos de transporte e pelos derivados de petróleo. Contudo, o aumento de 14,7% das importações acabou por fazer com que o setor externo tivesse contribuição negativa para o PIB em 2024, já que cresceu muito mais do que as exportações.
Perspectivas
Em relação às perspectivas para 2025, espera-se que o PIB do primeiro trimestre desse ano seja expressivo por conta da safra brasileira de cereais, leguminosas e oleaginosas, que deve superar a safra de 2023 e registrar o novo recorde. O Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA), realizado pelo IBGE, estima que a safra de 2025 deve atingir 323,8 milhões de toneladas, sendo 10,6% (31,1 milhões de toneladas), maior do que a safra de 2024 e 2,4% superior a de 2023. Condições climáticas bem melhores do que as de 2024 favorecem esse processo.
Contudo, o crescimento da economia deve perder folego nos próximos trimestres de 2025, fechando abaixo do registrado em 2024. Na verdade, esse processo de arrefecimento do nível de atividade econômica do país parece já ter sido iniciado no último trimestre do ano passado, quando avançou apenas 0,2% em relação aos três trimestres anteriores, chamando a atenção a redução de 1,0% do consumo das famílias, que registrou a primeira queda depois de 13 altas consecutivas.
A taxa básica de juros, Selic, que foi relativamente menor em 2024 do que em 2023, já que começou a subir apenas em setembro, está no seu maior nível (14,25% ao ano) desde 2016. Além de desestimular o aumento dos investimentos, encarece ainda mais o crédito para o consumo das famílias, que ajudou a puxar o PIB no ano passado. Ao lado disso, é esperado que os estímulos fiscais em 2025 sejam menores e que haja perda do dinamismo demonstrado nos últimos dois anos pelo mercado de trabalho. Além do crescimento da agropecuária, algum fôlego deve vir da liberação dos recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para quem optou pelo saque-aniversário e do novo crédito consignado privado, que podem impulsionar o consumo das famílias, mas isso não deve ser suficiente para mudar o cenário do crescimento de 2025, até porque se isso não ocorrer o Banco Central deve reagir aumentando ainda mais a taxa Selic.
Por fim, mas não menos importante, prevalece um cenário externo com elevada incerteza, por conta da política de imposição de tarifas de importação pelo governo de Donald Trump. Essa política pode fazer com que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) reduza menos, não reduza, ou até mesmo aumente os juros nos EUA, empurrando essas taxas para cima em vários outros países.
Ademais, mesmo que o objetivo do novo governo Trump seja de reindustrializar seu país, as incertezas geradas pela sua política externa devem fazer com que as empresas aguardem até que tenham mais segurança para realizarem novos investimentos em solo americano. Não há nada de simples na eventual substituição da produção realizada em outros países pela produção nos EUA. Mesmo os novos investimentos requerem a importação de várias peças e componentes importados, dado que é difícil desmontar cadeias globais de suprimentos que envolvem vários países.
Tudo isso tem o potencial de reduzir o ritmo de crescimento da economia global, inibindo os investimentos das empresas, o comércio e podendo redundar em aumento da inflação e dos juros, principalmente se forem impostas medidas de reciprocidade tarifária pelos países atingidos pela política tarifária dos EUA. Estimativas da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) sugerem que um aumento de alíquotas de 10% bilateralmente pode levar a uma redução de 2% do volume do comércio mundial, com a consequente queda da produção e da renda e possível elevação da inflação em muitos países.
A OCDE estima que esse processo também deve atingir o Brasil, desacelerando o crescimento econômico não apenas nesse ano, mas também em 2026. Juntamente com a política monetária mais restritiva, esse processo reduziria o crescimento econômico do país para 2,1% em 2025 e para 1,4% em 2026. O Banco Central parece ser ainda menos otimista do que a OCDE quanto ao ritmo de atividade da economia brasileira nesse ano, uma vez que reduziu a sua projeção para o PIB de 2,1% para 1,9%, especialmente em razão do aumento das incertezas vindas do cenário externo.
Boletim de Conjuntura Econômica de Goiás – N. 178/março de 2025.
* Edson Roberto Vieira e Antônio Marcos de Queiroz são professores da Faculdade de Administração, Ciências Contábeis e Ciências Econômicas (FACE) da UFG.
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Fonte: FACE
Categorias: colunistas Humanidades Face